Muitos desafios tecnológicos enfrentados pelos sistemas produtivos de milho no Brasil decorrem da falta de adesão a princípios fundamentais de boas práticas agrícolas
Pesquisadores da Embrapa produziram documento disponível ao público que analisa a situação atual e desafios da cadeia produtiva de milho. No diagnóstico, a avaliação de que muitos desafios tecnológicos enfrentados pelos sistemas produtivos de milho no Brasil decorrem da falta de adesão a princípios fundamentais de boas práticas agrícolas.
O relatório está disponível nesse link.
Para o pesquisador Elisio Contini, um dos autores do relatório, “milho é essencial para o mercado interno e pode ajudar a ampliar as exportações brasileiras. Mas há desafios tecnológicos permanentes e potenciais”. Em sua avaliação é provável que, além das pragas listadas no relatório, outras devam chegar ao Brasil e temos que estar preparados para enfrenta-las. “O Brasil precisa manter estruturas de pesquisa e inovação que não apenas resolvam os problemas atuais como os que devem chegar à cadeia produtiva”, explica.
Os pesquisadores da Embrapa descrevem, no contexto do documento, que nas últimas décadas, o milho alcançou o patamar de maior cultura agrícola do mundo, sendo a única a ter ultrapassado a marca de um bilhão de toneladas produzidas anualmente. Simultaneamente à sua importância em termos de produção, a cultura também se notabiliza pelos diversos usos.
Estudos apontam mais de 3.500 aplicações para este cereal. “Além da relevância no aspecto de segurança alimentar, na alimentação humana e, principalmente, animal, é possível produzir com o milho uma infinidade de produtos, tais como combustíveis, bebidas, polímeros, etc.”, destaca o pesquisador da Embrapa Rubens Miranda.
Para a agricultura brasileira, o milho é um produto fundamental, cultivado em todas as regiões do País, em mais de dois milhões de estabelecimentos agropecuários. “Nas últimas décadas, a cultura passou por transformações profundas, destacando-se sua redução como cultura de subsistência de pequenos produtores e o aumento do seu papel em uma agricultura comercial eficiente, com deslocamento geográfico e temporal da produção”, afirma o pesquisador.
Com o objetivo de analisar o mercado do milho, diagnosticar os sistemas produtivos do cereal e as dificuldades para o incremento de produtividade da cultura, pesquisadores da Embrapa elaboraram um documento da Série Desafios do Agronegócio. Trata-se de trabalho colaborativo entre a Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas e a Embrapa Milho e Sorgo. Veja aqui.
A nota técnica apresenta o enorme crescimento ocorrido entre as safras de 2000/01 e de 2017/18. A produção mundial de milho passou de 591 milhões de toneladas para 1,076 bilhão de toneladas (um aumento de 82%), por causa principalmente do seu uso como ração animal para a produção de frangos e suínos, e da utilização para produção de etanol nos Estados Unidos. “A crescente demanda mundial por proteína animal sustentará o estímulo ao aumento da produção de milho nos próximos anos”, apontam os pesquisadores.
No Brasil, o milho é cultivado em rotação, sucessão e consórcio, graças à ampla adaptabilidade das cultivares disponíveis no mercado. A possibilidade de cultivo após a colheita da soja na região Centro-Sul permitiu uma nova evolução, com a produção saltando de 22,3 milhões de toneladas na safra 1989/90 para 97,8 milhões de toneladas em 2016/17. Esta mudança temporal da época de semeadura e, consequentemente, da produção de milho da primeira para a segunda safra, é popularmente conhecida como “safrinha”. Tendo surgido no início da década de 1980, a safrinha se refere ao milho de sequeiro, semeado extemporaneamente em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce.
Atualmente, as produtividades da safrinha são iguais ou superiores às da época de cultivo no verão. A região Sul, graças às características de solo, clima e altitude, apresenta produtividades superiores a 12 toneladas por hectare. Em contrapartida, na região Nordeste, pelas condições climáticas e estratégias de manejo diferentes das regiões tradicionais de cultivo, a produtividade está abaixo da média nacional, que é de 5,5 toneladas por hectare.
O cultivo do milho em sucessão à soja viabilizou o aumento da área plantada e da produção de milho Brasil. Contudo, esse processo também facilitou o aparecimento e a proliferação de novas pragas e doenças, que têm se mostrado um grande desafio à pesquisa agrícola. Além disso, a sucessão soja-milho safrinha tem acarretado problemas para o manejo do solo, em especial para o sistema de plantio direto, com diminuição gradativa da matéria orgânica do solo.
Os pesquisadores da Embrapa avaliam que muitos desafios tecnológicos enfrentados pelos sistemas produtivos de milho no Brasil decorrem da falta de adesão a princípios fundamentais de boas práticas agrícolas. Um exemplo é a não adoção das áreas de refúgio nos talhões cultivados com milho transgênico. “Mesmo com estratégias de transferência de tecnologia e de comunicação para que os produtores adotem o refúgio como uma garantia da proteção proporcionada pela biotecnologia, esse procedimento muitas vezes não é respeitado, levando a problemas de resistência e ineficiência de pacotes tecnológicos”, explica Rubens Miranda. “A solução de muitos problemas passa pela educação e pelo comprometimento dos produtores e das empresas do setor agrícola em relação às boas práticas”, completa o pesquisador.
A nota técnica preparada pela Embrapa detalha os problemas fitossanitários mais relevantes da cultura, com análise de doenças, pragas e plantas invasoras, e ainda apresenta orientações de manejo adequado.
Um novo estudo da Série Desafios do Agronegócio será produzido a fim de identificar tecnologias disponíveis para superar os desafios presentes nos setores agropecuários em que o milho é importante. São várias as cadeias ligadas à agricultura e pecuária que dependem do cereal nas suas diferentes formas de exploração. Na forma de silagem (em que a planta inteira é utilizada como fonte de nutrição animal), de grãos e, mais recentemente, na produção de etanol, todas as regiões agrícolas e pecuárias brasileiras dependem do milho para novas oportunidades de receita, redução dos custos de produção e, principalmente, oportunidades de novos negócios.
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