Embrapa apresentou os resultados do projeto envolvendo os produtores de queijo do município de Alagoa-MG
Os pecuaristas dos municípios das terras altas da Serra da Mantiqueira estão próximos de definir o nome do queijo que produzem. Já é quase certo que o queijo “tipo parmesão”, que deu fama ao lugar, passe a ter dois nomes: Alagoa e Mantiqueira de Minas. O primeiro denominará o queijo produzido no município de Alagoa-MG. Já Mantiqueira de Minas será o nome do produto dos municípios vizinhos (Aiuruoca, Baependi, Bocaina de Minas, Carvalhos, Itamonte, Itanhandu, Liberdade, Passa Quatro e Pouso Alto).
Apesar do produto dos diferentes municípios possuir semelhanças na forma e no sabor, Alagoa optou por um nome próprio. O queijo alagoense é mais tradicional. Fabricado artesanalmente desde o século XIX, o as queijarias do município ganharam ampla visibilidade no último ano devido às reportagens veiculadas na mídia nacional. Com 2.700 habitantes, a 447 quilômetros da capital mineira, Alagoa é conhecida como a “terra do queijo parmesão”. Tal designação, no entanto, é incorreta, já que Queijo parmesão é aquele produzido na região de Parma, na Itália e possui Denominação de Origem Protegida (D.O.P.), uma norma da Comunidade Europeia. “Por apresentar algumas similaridades com o queijo italiano, o produto das terras altas da Serra da Mantiqueira “lembra” o queijo parmesão, mas não pode ser chamado como tal”, diz a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, Nívia Maria Vicentin.
O fórum que propôs os nomes para os queijos foi o 1º Seminário Regional do Queijo Artesanal da Mantiqueira, ocorrido em julho. O Seminário reuniu cerca de 50 pessoas entre produtores, técnicos, pesquisadores e políticos das cidades envolvidas. Na ocasião, foram apresentados os resultados dos esforços da Embrapa Gado de Leite, Emater-MG e Instituto Mineiro da Agropecuária no sentido de caracterizar o queijo artesanal da região. O objetivo é obter uma indicação geográfica (indicação de procedência ou denominação de origem), semelhante ao queijo de Parma (Parmesão) ou a produtos como o Champanhe, vinho espumante da região de Champagne, no nordeste da França.
A Denominação de Origem implica em diversos fatores, incluindo até mesmo paisagem da região, como explicou a técnica da Emater Marciana de Souza Lima. Se dependesse apenas disso, o queijo já seria um sucesso, as terras altas da Serra da Mantiqueira ocupam o entorno do Parque Estadual da Serra do Papagaio, considerado um dos locais mais bonitos de Minas Gerais. Mas, além disso, é importante definir critérios técnicos, como processo de fabricação e tempo de maturação, conforme explicou o também técnico da Emater-MG, Júlio Cesar Seabra.
Há três anos a Embrapa Gado de Leite pesquisa o queijo da região. Durante o Seminário, a pesquisadora da instituição, Maria de Fátima Ávila Pires apresentou os resultados parciais do projeto que vem conduzindo. O projeto visa analisar, entre outras coisas, a qualidade da água e do leite, os processos de ordenha das vacas e a alimentação do rebanho. Segundo a pesquisadora, neste período, o estreitamento da relação entre pesquisa e produtor contribuiu para que os índices de qualidade do queijo da Mantiqueira se elevassem bastante.
Outro tema debatido no Seminário foi a legislação a respeito do queijo artesanal, que passa por mudanças estruturais, cujo objetivo é facilitar a comercialização do produto. O Brasil produz um milhão de toneladas de queijo por ano. Um quinto desse total é feito artesanalmente, com leite cru (que não passou pelo processo de pasteurização) e vendido informalmente. Resolvida a questão da legislação, e a caracterização estabelecida, a Serra da Mantiqueira terá, enfim, o seu produto terroir (palavra francesa que define a relação entre solo, microclima, ambiente e “o saber fazer” próprio de uma comunidade na fabricação de um produto de origem agrícola), como as regiões de Champagne e Parma.
Rubens Neiva (MTb 5445/MG)
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