O vazamento de leite e suas possíveis causas *

Multifatorial, distúrbio está relacionado à anatomia e gestão das vacas na fazenda

No momento da secagem o volume de leite e a pressão no úbere aumentam excessivamente por conta do acúmulo de leite, ocasionando vazamentos e facilitando a penetração de bactérias pelo canal do teto nos primeiros dias do período seco, até o momento da involução total do úbere.

O escape caracteriza-se pelo extravasamento do leite na ausência da ordenha. O problema pode ser identificado quando existe fluxo de leite, proveniente de um ou mais tetos, ou se é observada uma gota de leite no final do teto ou, ainda, indiretamente no chão sob o úbere do animal.

Diversos fatores de riscos foram identificados como possíveis causas do distúrbio, e apesar de muitos itens serem correlacionados, é possível classificar os motivos em dois grupos distintos: elementos associados à vaca e a gestão da fazenda.

Entre os fatores relacionados à vaca está a produção de leite e alta pressão do úbere, ou seja, no momento da secagem a glândula mamária ainda está produzindo leite e isso pode resultar em um aumento da pressão intramamária. Quando essa pressão excede a resistência do mecanismo de fechamento do canal do teto, o vazamento de leite pode ocorrer. Este escape é mais frequente nos quartos traseiros, que produzem mais leite, do que nos dianteiros e também por serem mais pressionados pelas patas traseiras.

O mecanismo de fechamento do esfíncter também está relacionado ao distúrbio. O tampão de queratina formado no esfíncter exerce uma proteção física ao teto auxiliando no não vazamento de leite. Porém, é provável que as vacas de alta produção atrasem a formação deste tampão, ou até mesmo não o formem, o que poderia estimular o escape. A anatomia do teto também tem influência, alguns experimentos mostram que canais largos e curtos são mais suscetíveis ao vazamento. Além da anatomia do canal do teto, animais com menor comprimento de teto, comum em programas de acasalamento em rebanhos que utilizam robôs na ordenha, por exemplo, tendem a ter mais problemas de vazamento de leite pós-secagem.

Outro fator é a alta taxa de fluxo de leite, pois, a velocidade de ordenha é negativamente associada à tensão do esfíncter. O canal do teto torna-se mais aberto e leva mais tempo para fechar após a última ordenha. Além disso, a velocidade de ordenha e vazamento são geneticamente relacionados. Por isso, genes que têm um impacto positivo para velocidade de ordenha exercem um impacto negativo no vazamento de leite.

Além disso, deve-se considerar o número de lactações, pois a incidência de vazamento de leite aumenta conforme a idade das vacas, as mais velhas têm maiores chances de apresentar problemas no esfíncter, pois foram mais expostas aos possíveis danos da ordenhadeira.

Já entre os fatores relacionados à gestão, é possível descrever: a integridade e dano do esfíncter, pois o vazamento de leite pode ocorrer quando o mecanismo de fechamento do canal do teto é comprometido, ou seja, qualquer lesão no canal ou no esfíncter, possivelmente resultará em escape de leite. As vacas com protrusões do canal do teto podem ter menos tônus muscular esfincteriano e isso, como consequência, aumenta o risco de vazamento.

A ordenhadeira pode ser responsável por danificar o esfíncter, pois o nível excessivo de vácuo causa uma alta incidência de anormalidades do orifício do teto, como hiperqueratose ou rachaduras radiais (anéis ou calosidades), isso causa danos e saliências e o fechamento do esfíncter fica comprometido. A rotina de ordenha também deve ser levada em consideração para manutenção da saúde do esfíncter. O manejo correto é fundamental para manter a extremidade do teto em boas condições. O encaixe da teteira depois de uma estimulação correta é crítico para a descida do leite e para a saúde do teto. Do mesmo modo, a sobre-ordenha deve ser evitada.

Os tipos de sistema de ordenha também influenciam no aparecimento do distúrbio. Está provado que as vacas ordenhadas por um sistema automático têm maior incidência de vazamento de leite. Os estímulos visuais e auditivos contínuos deste sistema estimulam a liberação da ocitocina, o que acarreta na secreção de leite e, por consequência, no escape.

A incidência de vazamento ao usar robôs também pode, em certa medida, ser explicada por problemas relacionados aos distúrbios na ordenha ou intervalos excessivamente longos, indicando problemas de gestão. Este fato é mais importante em vacas primíparas, pois elas são frequentemente classificadas como de menor produção e precisam esperar mais para ter acesso a unidade de ordenha.

Outro elemento é o baixo nível de cálcio, necessário para manter o tônus muscular do esfíncter. Níveis baixos de cálcio no sangue podem levar a problemas no mecanismo de fechamento, ocasionando o vazamento de leite. Quando diversos quartos de uma vaca estão com vazamento por vários dias após a secagem, deve-se prestar atenção ao nível sanguíneo de cálcio do animal, que precisa ser maior que 8 mg/dL e nível de fósforo deve ser maior que 3 mg/dL.

O procedimento de secagem também precisa ser levado em consideração dentro das possíveis causas para o distúrbio. No início do período seco, comumente a antibioterapia é adotada para as vacas secas. Durante o procedimento, é feita uma massagem no teto, mas se a pressão aplicada no teto for alta, a quantidade de queratina responsável pelo fechamento do canal pode ser destruída.

E, por fim, é necessário observar o manejo das vacas no período de secagem. Nesta fase, as vacas secas devem ser mantidas longe da sala de ordenha para que não sintam estímulos. Os animais próximos ao local são capazes de ouvir o som da ordenhadeira, e por isso são mais propensos ao escape de leite.

Assim, concluímos que o vazamento de leite é um importante fator de risco para novas infecções intramamárias no momento da secagem. Como abordado, existem diversas causas que podem influenciar a incidência de vazamento de leite e um dos mais importantes é a quantidade de leite no úbere no momento da secagem. O Velactis® foi desenvolvido para facilitar a secagem das vacas durante o período seco. O produto reduz a produção de leite, e consequentemente reduz a incidência de vazamentos de leite em 81%. Este resultado na redução do escape de leite tem sido consistentemente apresentado em diversos experimentos realizados com o produto.

(*) Texto adaptado da Dra. Ana I. de Prado Taranilla, gerente técnica global da Ceva Saúde Animal.


A Ceva Saúde Animal é atualmente a 6ª maior empresa de saúde animal do mundo, presente em mais de 110 países tem sua atuação focada na pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de produtos farmacêuticos e biológicos para animais de companhia, e produção (bovinos, suínos, equídeos e aves). Mais informações disponíveis no site: www.ceva.com.br


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