A sinergia jurídico-fiscal entre sustentabilidade e valorização imobiliária: estratégias para a transformação do mercado rural
Por Leonardo Roesler
No contexto da crescente importância das práticas sustentáveis, observa-se que a valorização de imóveis rurais dotados de ativos ambientais transcende a mera preservação ecológica, constituindo-se em elemento estratégico para a dinamização econômica e a consolidação de investimentos. É imperioso destacar que, à medida que a sociedade e o mercado passam a atribuir valor a iniciativas que promovem a conservação dos ecossistemas, a incorporação de práticas como o reflorestamento e a proteção da biodiversidade converte-se em um diferencial competitivo e em potencial gerador de novas fontes de receita.
Ademais, o mercado contemporâneo tem evidenciado que propriedades que se pautam pelos princípios ESG – no que tange à responsabilidade ambiental, social e de governança – não apenas experimentam uma valorização acelerada, mas também atraem o interesse de investidores institucionais, os quais buscam oportunidades de investimento alinhadas à sustentabilidade. Tais iniciativas podem, inclusive, resultar na criação de ativos financeiros inovadores, exemplificados pelos créditos de carbono e pelos Pagamentos por Serviços Ambientais, instrumentos que, ao serem devidamente estruturados, proporcionam benefícios tanto do ponto de vista econômico quanto tributário.
No âmbito tributário, a evolução da regulamentação relativa aos instrumentos financeiros ambientais impõe desafios e, simultaneamente, oferece oportunidades aos agentes econômicos. Por exemplo, a emissão da Cédula de Produto Rural Verde (CPR Verde), aplicável a operações vinculadas à conservação florestal e à implementação de práticas sustentáveis, revela-se como uma ferramenta que, ao possibilitar a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas quando negociada no mercado financeiro, demonstra o potencial de integração entre política ambiental e incentivo fiscal. Ressalte-se que, para pessoas jurídicas, o regime de tributação a ser aplicado dependerá da atividade predominante, o que demanda uma análise meticulosa e específica do enquadramento legal de cada operação. Similarmente, os créditos de carbono, ao serem comercializados, podem incidir sobre tributações sob a forma de ganho de capital ou ainda ficar sujeitos aos tributos de PIS e COFINS, circunstância que exige dos operadores do mercado uma rigorosa conformidade com as normativas tributárias vigentes.
É notório que a Receita Federal tem manifestado interesse em consolidar entendimentos acerca da tributação de instrumentos financeiros ambientais, fornecendo maior segurança jurídica para produtores e investidores que almejam estruturar projetos de natureza sustentável. A formalização de critérios interpretativos no tocante à tributação de Pagamentos por Serviços Ambientais e à emissão de CPRs Verdes sinaliza um avanço no campo regulatório, promovendo uma previsibilidade que é indispensável para a expansão de tais operações no mercado.
Diante deste cenário, evidencia-se a necessidade imperiosa de um planejamento estratégico robusto, que contemple a mensuração rigorosa e a certificação dos ativos ambientais, bem como a conformidade com as exigências legais e regulamentares. A operacionalização da emissão de CPRs Verdes e a implementação de projetos relacionados aos Pagamentos por Serviços Ambientais requerem não apenas conhecimento técnico aprofundado, mas também uma atuação proativa na interpretação e aplicação das normas pertinentes.
Por fim, entendo que, a interseção entre a valorização imobiliária de terras preservadas e os benefícios oriundos de incentivos tributários configura-se como uma realidade consolidada e transformadora. Ao integrar, de forma harmoniosa, os princípios da sustentabilidade à estratégia financeira, torna-se possível redefinir o panorama do mercado imobiliário rural, promovendo o desenvolvimento econômico aliado à preservação ambiental. Nesse contexto, a assessoria jurídica especializada revela-se indispensável, não apenas para orientar os agentes envolvidos acerca das melhores práticas de compliance e estruturação fiscal, mas também para assegurar que as operações realizadas estejam em plena consonância com o ordenamento jurídico e as expectativas de um mercado cada vez mais exigente e consciente.
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