A nova era digital do Agronegócio Brasileiro
Por Fabricio Macias, co-fundador e co-CEO da Macfor e Diogo Luchiari Fructuoso, sócio e chief agribusiness officer da Macfor
O céu limpo sobre os campos do Brasil é cenário de uma nova revolução — e, desta vez, ela não vem dos tratores e colheitadeiras. A transformação digital no agronegócio não é mais um horizonte distante; ela já está acontecendo, e o impacto é profundo, com implicações que vão muito além do aumento da produtividade. Estamos vivendo uma era onde até a terra tem dados, e, no campo, eles são tão férteis quanto o solo.
O rush pela tokenização e pela inteligência artificial tem atraído investimentos massivos, colocando o agro brasileiro no radar global. Empresas como Cromai, que utiliza visão computacional para análise de solo, e Solinftec, referência em automação e agricultura digital, estão reescrevendo as regras do jogo. Não por acaso, as agtechs brasileiras captaram mais de US$100 milhões em investimentos nos últimos anos, consolidando o país como um dos polos de inovação no setor.
A questão, no entanto, não é apenas tecnológica. Trata-se de uma mudança cultural profunda, que exige mais do que máquinas conectadas; demanda uma mentalidade digital. As forças de vendas no agro, por exemplo, ainda se apoiam em táticas tradicionais, enquanto o consumidor rural está cada vez mais digitalizado. Isso coloca um desafio estratégico: como construir uma abordagem que vá além do período de safra e crie conexões perenes com o produtor? Capacitar times para usar ferramentas digitais requer mais do que treinamentos pontuais; é necessário mudar a forma como empresas e profissionais se conectam com seus clientes.
A globalização das tendências digitais também impacta diretamente o agronegócio. Decisões como o fim da checagem de fatos no Meta moldam percepções sobre sustentabilidade e práticas agrícolas, e o Brasil, como gigante do setor, precisa garantir que sua narrativa seja forte e embasada. Em um mercado onde a desinformação pode arruinar reputações, marcas e empresas devem tratar a credibilidade como um ativo estratégico.
Enquanto isso, tecnologias como inteligência artificial e tokenização redefinem o funcionamento do campo. Startups como Agrotools, que integram dados georreferenciados para monitoramento ambiental, e Aegro, que oferecem soluções completas de gestão agrícola, lideram essa transformação. O desafio vai além de acompanhar a inovação; é necessário traduzi-la em impacto prático.
No campo, não basta medir produtividade. A transformação digital é sobre medir relevância e construir relações que durem mais do que uma safra. Digital não é só adoção de tecnologia; é mentalidade. O campo conectado é um campo competitivo. A maior riqueza do agro sempre foi a terra. Hoje, é a inteligência sobre ela.
O futuro do agro é digital, mas também profundamente humano. A verdadeira transformação está na criação de estratégias que respeitem a complexidade do setor, investindo em capacitação, inovação e narrativas sólidas. Empresas que entenderem essa dinâmica estarão melhor posicionadas para liderar na nova era do campo. No final, não é apenas sobre o que é vendido, mas sobre o que é entregue para o futuro.
–