“A palha é um ativo do produtor e deve ser preservada”, recomenda o pesquisador
Para o agricultor que ainda precisa ser convencido a plantar o amendoim na palha, aqui vão oito benefícios que justificam – e muito – a adoção da prática do Plantio Direto na Palha, que nada mais é do que semear o amendoim sobre a palha da cultura anterior, preferencialmente sobre plantas de cobertura. Dentre os ganhos estão: redução de custos, de infestação de pragas e doenças, da erosão e das aflatoxinas, que impedem o consumo do grão, aumento da tolerância à seca, preservação da matéria orgânica do solo, além de favorecer as certificações e o arrendamento de terras. Essas constatações resultam de estudos realizados no Instituto Agronômico (IAC-Apta) envolvendo agricultura conservacionista nos últimos 23 anos.
A técnica resulta em redução nos custos de produção estimada entre 10% e 20% devido ao menor consumo de diesel. A palhada contribui para reduzir a infestação de algumas pragas, doenças e plantas daninhas e diminui a incidência e a severidade de doenças ocasionadas por vírus. “O sistema diminui a dispersão do vetor e pode diminuir a incidência da pinta preta, doença que causa a desfolha da planta e pode derrubar a produção em 50%”, afirma Denizart Bolonhezi, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
A conservação do solo é outro benefício de grande relevância. A semeadura na palha reduz em 90% as perdas de solo! Isso porque esse sistema diminui a erosão justamente por não deixar o solo desprotegido, sob a ação direta de águas da chuva. “Sem a palhada, para cada 1,0 kg de amendoim produzido, estimam-se perdas de 5,0 kg de terra por erosão”, explica. Para Bolonhezi, a redução de custos e a redução da erosão são dois ganhos de grande impacto.
O aumento da tolerância à seca e às adversidades climáticas é o terceiro benefício com o plantio do amendoim na palha. “A cultura amplia a resiliência tanto na seca quanto nos períodos de intensa chuva”, diz.
A redução do efeito da seca proporcionada pela palhada traz o quarto benefício desse método: a redução das aflatoxinas, substâncias que impedem o consumo do amendoim e afetam as exportações do grão. Isso ocorre porque a seca na pré-colheita favorece a ação do fungo produtor das aflatoxinas, chamado Aspergillus flavus. “A presença da palhada reduz o efeito da seca, mantém maior biodiversidade e, por consequência, diminui a ação desse fungo no solo”, esclarece. Além disso reduz trincas nas cascas das vagens, que são portas de entrada do fungo.
A adoção do Plantio Direto na Palha ainda favorece o arrendamento de terras – o quinto benefício. Isso ocorre porque o produtor de amendoim que não adota o sistema é preterido pelas usinas, que preferem não preparar o solo de forma intensiva. Essas empresas então optam por arrendar com sojicultores, que acabam tendo maior facilidade em negociar com as usinas.
Segundo o cientista, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a semeadura direta já é realidade para soja, milho e algodão. “Inserir o amendoim nesses novos arranjos produtivos demandará saber produzir palhada – insumo farto e disponível nas áreas de reforma de cana”, considera.
O pesquisador esclarece que a busca por arrendamentos de terras em outros estados se deve mais à mudança na escala de produção de uma parcela dos produtores, que necessitam de áreas maiores. Nessas novas regiões, a semeadura direta será importante pois já é realidade para outras culturas, como soja e amendoim.
“Os produtores paulistas devem ficar atentos, pois a grande vantagem da parceria com a reforma de canaviais é o vazio sanitário que a cana proporciona (5 a 7 anos sem outra cultura na área). Isso não ocorre em outros arranjos produtivos, demandando maior atenção, pois anos sucessivos de cultivo de amendoim podem inviabilizar a atividade em decorrência do potencial biótico de pragas e doenças”, explica.
A palhada também preserva a matéria orgânica do solo, que contribui para aumentar a quantidade de elementos químicos disponíveis para reter nutrientes e água. Essa técnica também favorece a atividade de microrganismos no solo. “O amendoim é nativo da América do Sul e evoluiu com a biota presente no solo. Há uma tendência de uso de bioinsumos que são favorecidos pela palhada”, comenta.
Segundo Bolonhezi, boa parte da produção nacional de amendoim, que tem sua concentração no estado de São Paulo, segue para exportação e o plantio na palha favorece as certificações e adequações dos exportadores às normas ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance, ou em português, Ambientais, Sociais e de Governança). Esse padrão beneficia também quanto a CBIOs (créditos de descarbonização).
Orientações com embasamento científico – Essas recomendações resultam do conhecimento técnico-científico produzido no IAC desde o final da década de 1990. Entre 2014 e 2019, Bolonhezi teve um projeto financiado pelo CNPQ e pela Fundação Agrisus, além de apoios de algumas cooperativas. Naquele período foram conduzidos sete experimentos e realizados cinco dias de campo com o objetivo de transferir tecnologias. “Esses eventos foram indutores para que os produtores participantes adquirissem equipamentos que favoreceram a adoção do sistema, os quais impactam a arrecadação de ICMS no estado de São Paulo”, relata o pesquisador.
“De forma geral, cada R$ 1,00 recebido pelas ações de pesquisa resultou em R$ 7,00 de arrecadação de imposto para o estado de São Paulo. Imagine se houver uma política organizada e articulada com nosso trabalho, quanto poderemos impactar a economia paulista com uma prática sustentável do ponto de vista ambiental e econômico”, ressalta.
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Por Carla Gomes (MTb 281560)
Jornalista científica e assessora de comunicação IAC
Instituto Agronômico (IAC)