Sócios-fundadores Gabriel Purri e Thiago Fenelon apostam no mercado pouco explorado em regiões quentes e colhem até 15 toneladas/ano de lúpulo em Minas Gerais
O Brasil é o terceiro maior produtor de cerveja no mundo, e sua cadeia produtiva representa 2% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). Apesar disso, 99% do lúpulo, insumo essencial para a fabricação da bebida, é importado, oriundo principalmente dos EUA e da Alemanha: cerca de 90% de todo o lúpulo utilizado no mundo saem desses dois países. As necessidades climáticas do lúpulo, que se adequa bem em regiões mais frias, fizeram muitos agricultores desacreditarem na sua produção em larga escala em terras brasileiras. No entanto, empreendedores têm investido em tecnologia e se dedicado a estudar o plantio do lúpulo em um país predominantemente tropical. É o caso da técnica desenvolvida na Mundo Hop.
Criada pelos belo-horizontinos Gabriel Purri e Thiago Fenelon, a tecnologia desenvolvida muda o conceito de produção de lúpulo de uma para três safras anuais, oferecendo produtos mais frescos em larga escala, o que tem transformado o segmento no Brasil. Em uma fazenda de 4 hectares, em Mateus Leme, Minas Gerais, os sócios-fundadores da Mundo Hop são capazes de produzir até 15 toneladas/ano de lúpulo, colhido de 10 mil plantas.
Para fins de comparação, as maiores fazendas de lúpulo do mundo têm, em média, 500 hectares, pois a planta demanda pouco espaço para cultivo (enquanto as de soja, por exemplo, chegam a ter mais de 50 mil hectares). Uma vez dominada a técnica de produção do lúpulo em regiões quentes, pode-se imaginar o potencial do Brasil.
A Mundo Hop foi criada no final de 2019 e, de lá para cá, já foram investidos R$ 3 milhões, entre pesquisa, infraestrutura, testes e plantação. A ideia surgiu do gosto pelo empreendedorismo e pela cerveja, além de uma visão de mercado. No ano passado, entraram no negócio dois novos sócios, os irmãos Rodrigo e Leandro de Barros, este co-fundador da Méliuz, empresa de sucesso na área de cashback.
Em 2023, o time iniciou as colheitas em três safras anuais, muito além do padrão mundial, que é de uma ao ano. “Isso significa que o lúpulo da Mundo Hop é sempre mais fresco, dando mais qualidade à cerveja e ainda oferecendo novas possibilidades aos fabricantes da bebida”, explica Gabriel Purri. A primeira safra comercial, que aconteceu em fevereiro, foi de cerca de 3 toneladas.
Os sócios contam que para adequar o lúpulo ao clima e solo brasileiros, a Mundo Hop investiu nos estudos sobre fitopatologias com diversos testes de laboratório, tendo descoberto um viróide que, até então, não estava no radar dos agrônomos e produtores brasileiros. Além disso, investiu na construção e implementação de um sistema de irrigação de ponta, importou uma colheitadeira de alto nível da Alemanha e LEDs para regulação da iluminação em campo aberto, projetou e construiu uma secadora e ajudou a desenvolver uma nova peletizadora de lúpulos (máquina que compacta as flores trituradas) – a maior do Brasil hoje. As adequações permitem que a Mundo Hop produza 7 variedades de lúpulo: Comet, Cascade, Chinook, Saaz, Triumph, Triple Pearl e Zeus.
A Mundo Hop já está conquistando o mercado mineiro, a primeira colheita está sendo entregue a algumas cervejarias renomadas como Capapreta, Caraça, Krug Bier, Viela, São Sebastião, Tarin e Verace. “Sinto que esse é só o começo da jornada da Mundo Hop. Nosso objetivo sempre foi cultivar lúpulo nacional de qualidade, com sabor e frescor que impulsionam a indústria cervejeira local, e reduzir a nossa dependência de importações”, comenta Thiago Fenelon. Segundo ele, a projeção é expandir a marca por todo o Brasil e chegar a 10 hectares de fazenda até o fim de 2024.
O sócio-fundador da Capapreta, Lucas Godinho, destaca que, em 2023, a cervejaria completa dez anos de história e que a parceria faz parte das comemorações. “Recentemente tivemos a oportunidade de conhecer a Mundo Hop e entender o que esse time conseguiu fazer com um insumo que era desacreditado no Brasil. Há um, dois anos, era impensável termos lúpulo de qualidade produzido em solo brasileiro em larga escala. Eles conseguiram, de fato, romper essa barreira e estão trazendo para o mercado cervejeiro nacional uma transformação que há muito tempo a gente não via”.
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