Processo produtivo da Capriana visa o equilíbrio com o meio ambiente; do ecossistema da granja ao cuidado com os animais e com a produção de leite e derivados, todos os processos estão integrados de forma circular

A história da Capriana, primeira granja leiteira de cabras do Brasil, teve início dentro de um contexto que já remetia à Sustentabilidade. A empresa se estabeleceu em um ambiente biodiverso, em meio à Mata Atlântica, na Região Serrana do Rio de Janeiro, sem realizar desmatamentos.

Isso não foi por acaso: embora a região tenha como principal característica a topografia declivosa, antes da implantação da granja, foi realizado um trabalho intenso de busca por uma propriedade rural que tivesse aptidão para a colheita mecanizada de forrageiras, e não necessitasse da retirada da vegetação nativa para sediar uma agroindústria.

“Passamos muito tempo procurando um local adequado, que permitisse a utilização de maquinários agrícolas sem desmatamento. Essa é a nossa principal premissa: conviver harmonicamente com a natureza”, afirma Javier Maciel, engenheiro argentino e fundador da empresa, lembrando que hoje a Capriana vem realizando atuando, inclusive, para regenerar a vegetação nativa.

Desde a fundação em 2015, a Capriana opera dentro de um processo produtivo que visa o equilíbrio com o meio ambiente. Conforme relata o fundador, do ecossistema da granja ao cuidado com os animais e com a produção de leite e derivados, todos os processos estão integrados de forma circular. “Usamos a tecnologia e a biotecnologia de forma racional, otimizando o aproveitamento de recursos e promovendo a autossuficiência para gerar um impacto positivo em tudo que nos rodeia”, explica o empresário.

Por exemplo, a granja verticalizou a produção e a integralização dos processos produtivos. Segundo Maciel, todos os resíduos sólidos orgânicos (350 toneladas anualmente) são destinados para processo de compostagem e resultam em húmus, utilizado como fertilizante. Esse húmus obtido da produção do leite de cabra fornece nutrientes para as plantas, regula as populações de micro-organismos e torna os solos férteis. Vale lembrar que o húmus é fonte de carbono, nitrogênio, fósforo, cálcio, ferro, manganês e de outras substâncias essenciais para o crescimento saudável dos vegetais.

Outra prática interessante da granja é a de reuso das águas: a empresa trabalha também com o manejo do resíduo orgânico líquido, oriundo dos processos de fabricação de derivados lácteos. “Também conseguimos ciclar esse resíduo e utilizá-lo como fertilizante, destinando-o para o sistema de fertirrigação”, explica o fundador. Por ano, são reutilizados 1,4 milhão de litros de água nesse processo.

Para o empreendedor, a principal vantagem de reaproveitar os resíduos sólidos e líquidos está no descolamento do mercado volátil de fertilizantes, produto cuja importação é amparada pelo dólar. “Com a nossa estratégia, além de contarmos com um fertilizante orgânico de qualidade, ficamos imunes a isso quando o assunto é tornar a terra fértil”, esclarece Maciel.

Outro aspecto interessante na granja Capriana é que eles utilizam fortemente energia renovável. Todos os processos foram desenhados para aproveitar a gravidade – que, como Maciel diz, é uma energia que não falha nunca e totalmente gratuita. “Nossa produção ocorre literalmente morro abaixo”, conta ele. Além disso, a granja possui placas solares e controla de perto o uso de energia. “Podemos dizer com muito orgulho que somos totalmente autossustentáveis em energia elétrica”.

A empresa estuda agora reduzir a dependência de combustíveis fósseis (diesel), criando um processo no qual a cabra segue para o campo para se alimentar, em vez de um trator levar a comida do campo para o cocho. “Este é um projeto que deve ser colocado em prática em breve”, afirma o empreendedor.

Maciel reforça que pensar em Sustentabilidade não significa apenas considerar o meio ambiente, mas também olhar pelo bem-estar dos colaboradores, oferecendo a eles capacitação e treinamento, bem como condições dignas para o trabalho. E mais do que isso: é estar atento para conseguir manter o negócio sadio sem interferência de tantos outros atores do mercado.

“Do ponto de vista econômico, todas as nossas estratégias de comercialização estão voltadas para acessar o mercado de forma direta, focando em redes varejistas e consumidores finais, pois acreditamos que isso é sempre mais saudável para qualquer empresa”, acredita o fundador.

Ele prossegue dizendo que alcançar 100% de autossustentabilidade é um pouco utópico, mas que é sempre possível buscar aprimoramento. “Sabemos que nem sempre é viável evitar totalmente a comunicação de terceiros dentro de um negócio. Mas, sem dúvidas, trabalhar para sermos cada vez mais independentes é uma meta para a Capriana”, finaliza o executivo.


MGAPress