Os desafios econômicos do produtor rural brasileiro
por Renato Dias dos Santos*
O cenário político-econômico vivido no mundo atualmente tem sido desafiador para o produtor rural brasileiro.
Isto porque o homem do campo tem lutado contra a inflação, a alta de juros, a falta de crédito no mercado, os reflexos financeiros negativos das perdas das safras passadas, o aumento sucessivo no preço dos combustíveis e o impacto econômico mundial da guerra russo-ucraniana, principalmente no que diz respeito à suspensão do fornecimento de fertilizantes à agricultura brasileira.
Essa conjuntura desfavorável fez com que os custos de produção da safra 2022/23 se elevassem consideravelmente em um momento em que muitos agricultores ainda suportam efeitos econômicos adversos decorrentes da perda de safras passadas, culminando na restrição ao crédito necessário ao desenvolvimento do agronegócio.
Essa discussão é importante porque, embora ainda estejam na reta final do plantio da safra verão 2021/22, os agricultores já precisam cuidar dos preparativos para o próximo ciclo, o que enseja cuidados imediatos com o planejamento financeiro para a tomada de crédito para a compra antecipada de insumos, implementos, bem como para investimentos em novas terras para cultivo, aquisição de máquinas e benfeitorias em geral.
Ocorre que o Plano Safra apresentado recentemente pelo Governo Federal é insuficiente para subsidiar a produção agrícola frente a tamanhos desafios. Em linhas gerais, o agronegócio é muito bom para os discursos políticos, mas nem sempre a previsão orçamentária do governo reflete a importância desse setor para o desenvolvimento do país, o que gera muitas incertezas para os produtores rurais.
Esse diagnóstico se alinha com a percebida transformação estrutural da agenda do crédito rural, marcada justamente pela gradativa diminuição do suporte então fornecido pelo Governo Federal, o que, ao seu turno, abre uma janela de oportunidades para que o produtor conheça e contrate novas modalidades de financiamento junto às instituições privadas, com condições diferenciadas em limites, juros, carências e prazos.
Quanto ao ponto, vale considerar que o contexto econômico vivido atualmente é completamente diferente daquele que se tinha à época da preparação para a safra atual. Agora, este momento de incertezas não pode significar menos recursos para o produtor moderno, profissional e atualizado que sabe que só ter boa produtividade não é mais o suficiente para a conquista de resultados satisfatórios para sua empresa rural.
A atividade empresarial do agronegócio precisa abrir outras fontes de relacionamentos com bancos privados, bancos cooperativos ou com fintechs para ter acesso a juros aceitáveis, de modo a evitar a eterna dependência exclusiva dos recursos federais, que oscila ao sabor de interesses políticos da gestão governamental.
Como é imprevisível e pouco provável que haja uma rápida melhora nas atuais condições da economia global, o produtor rural precisa pensar no aproveitamento do preço em alta das cotações de milho e soja para a comercialização futura dessas comodities com as tradings, vez que essa é uma importante alternativa para a proteção do agricultor por meio da definição de preços para o ano seguinte.
É dizer, não parece uma boa alternativa a captação de recursos financeiros a juros altos para deixar em aberto o preço das comodities na expectativa de sua valorização em um cenário econômico muito oscilante, onde é provável a necessidade de se comprar insumos muito mais caros dos que estão em vigência.
A análise de toda essa conjuntura transmite a mensagem central de que o setor privado pode ser uma alternativa interessante para os produtores rurais que estão buscando recursos e que precisam deles para planejar ainda mais detalhadamente não só sua nova temporada, mas, principalmente, a gestão do seu agronegócio com uma boa saúde financeira.
(*) Renato Dias dos Santos | Sócio fundador do escritório Renato Dias dos Santos Advocacia & Consultoria | Advogado atuante em Direito Agrário e do Agronegócio | Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) | Graduado em Direito pela Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) | Membro da Comissão de Assuntos Agrários e do Agronegócio da OAB/MS
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