Israel superou adversidades geológicas, climáticas e geopolíticas e se tornou excelente em agricultura e pecuária. O país produz frutas e peixes para consumo interno e exportação; ordenha média anual de 12.376 litros de leite por vaca; dessaliniza as águas; otimiza recursos hídricos por meio de sistemas de reuso e irrigação, e vende produtos e tecnologias para o mundo.
Conheça a história desse desenvolvimento e o relacionamento com o Brasil, por meio de entrevistas de Uri Ariel, Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Israel, e Boaz Albaranez, cônsul da Missão Comercial de Israel em São Paulo, exclusivas para o Diário Agrícola | AgroPlanning
No princípio eram apenas adversidades
Terras áridas ou desérticas; águas subterrâneas salinas; conflitos com países vizinhos… Isolado de parte do mundo por questões geopolíticas, Israel percebeu que, ao depender de importações não poderia garantir a segurança alimentar da população. Então criou as bases para a construção de uma agropecuária nacional
Levando-se em conta as condições necessárias para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, Israel não tinha perfil para o agronegócio. Afinal, até bem pouco tempo atrás era inimaginável um proprietário rural prosperar em local onde as terras, além de reduzidas são áridas, e a água é escassa!
Por isso o país já nasceu dependente de importações de alimentos.
Essa deficiência, apesar de delicada, poderia ser superada com um bom planejamento de compras no mercado externo. Poderia. Mas, o difícil relacionamento de Israel com as nações vizinhas gerava guerras frequentes que interferiam nos transportes na região.
O perigo iminente enfrentado por aviões e navios que cruzavam aquela área era ainda potencializado pelas tradings e transportadores devido à pequena densidade populacional da nação recém-criada. Todos esses fatores foram argumentos que de certa forma tornaram Israel secundário para os grandes exportadores mundiais de alimentos. Na composição dos custos, eles incluíam uma a taxa de risco elevada para levar as mercadorias à nação israelense.
Diante desse quadro, o país não tinha muitas opções. Ou pagava um preço mais alto que a média do mercado ou era “obrigado” comprar produtos cuja oferta fosse maior que a demanda mundial, ou seja, estivessem em excesso. “Israel se tornou refém do pragmatismo dos negócios”, sintetiza Boaz Albaranes, cônsul da Missão Comercial de Israel em São Paulo.
Foi nesse contexto que as lideranças israelenses deduziram que a solução definitiva para garantir a segurança alimentar de sua população não estava em encontrar uma via que levasse à saída daquele labirinto, mas em construir um caminho para o seu próprio interior!
A partir daí o país adotou a tecnologia como forma de superar as carências de terra e água, e gerar o desenvolvimento de uma agropecuária nativa, reduzindo – ou eliminando – as dependências externas.
Nesse contexto, as atividades do campo ganharam importância e passaram a ser parte integrante de um plano de metas nacionais, fato “que levou Israel a investir pesadamente na agricultura em geral, e no setor leiteiro, em particular”, revela Uri Ariel, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Israel.
A justificativa para tal iniciativa era a promoção da segurança alimentar, através do aumento significativo da produção nacional de uma grande variedade de produtos alimentares frescos. A agricultura foi reconhecida como fonte básica de sustento e também como uma alavanca para a criação de empregos e o progresso de muitas outras indústrias derivadas.
“O coeficiente estimado é de 2,2 empregos adicionais por cada trabalhador agrícola”, destaca o ministro.
Planejamento e ação | No plano de metas ficou estabelecido o “intensivo desenvolvimento das zonas rurais em todo nosso território, no centro e periferia do país”, explica Uri Ariel. E acrescenta detalhes da estratégia posta em prática para a garantia da segurança alimentar.
“Criação de mais de 700 aldeias cooperativas kibutz e o Moshav, apoiando 200 outras comunidades agrícolas, já estabelecidas ao longo de várias gerações, antes da fundação do Estado de Israel e depois. Estas aldeias e comunidades, juntamente com desenvolvimento recente de cidades, são consideradas a espinha dorsal de nosso país em termos de assentamentos, ocupação das áreas mais remotas e periféricas, incluindo as regiões de fronteiras, em que a agricultura foi e ainda é o principal domínio econômico para subsistência”.
Para o segmento pecuário, a prioridade desde o início era formar e manter um forte setor leiteiro, capaz de suportar a demanda interna da população durante todo o ano, independentemente da quantidade de água e de pasto disponíveis. Essa responsabilidade foi assumida e compartilhada por criadores, empresas e governos. O resultado mostrou-se surpreendentemente bom.
Para Uri Ariel, a indústria de laticínios israelense provou ser uma história de sucesso, pois alcançou seus objetivos no fornecimento de leite, na divulgação e disseminação de tecnologias e práticas das atividades para todo o país. “Além disso, a indústria estimulou a criação de várias empresas de tecnologia agro que desenvolvem sofisticados equipamentos e softwares tanto para explorações leiteiras quanto para a gerência de produção avançada”, destaca.
Para reforçar sua explicação ele cita o “rendimento recorde por ordenha de vaca (média de 11.712 litros anualmente em explorações agrícolas familiares e 12.376 litros em fazendas de kibutz) das fazendas no deserto de Negev sul, através da faixa costeira localizado centralmente até a norte da Galiléia”.
Incentivos | O desenvolvimento do agronegócio em Israel tornou-se possível a partir da união e determinação dos setores público e privado, universidades, centros de pesquisas e desenvolvimento tecnológico. A colaboração mútua foi a força impulsionadora desse movimento, incluindo a disseminação das informações.
“O nível avançado da tecnologia foi atingido através do uso intensivo e duradouro público do financiamento da pesquisa agrícola e da prestação de um serviço eficiente de extensão, como parte do Ministério da Agricultura, apoiada por uma excelente cooperação entre essas duas instituições (serviço de extensão e pesquisa) e os próprios agricultores e também com a indústria de tecnologia Agro”, revela Uri Ariel.
“Esta função de canal de comunicação em ambos os sentidos, transmissão adaptável das soluções e novos desafios a ser enfrentados, mais uma vez, em laboratórios e ensaios de campo e eventualmente seguido por inovações relevantes. Universidades e centros de pesquisa tomaram parte em atividades de P & D (Pesquisa e Desenvolvimento) agrícolas”.
Entidades especializadas, como (Agricultural Research Organization – Organização de Pesquisa Agrícola – ARO), assumiu a responsabilidade pelas ciências ambientais, proteção vegetal, solo, água, engenharia agrícola e ciência dos alimentos, dentre outras funções.
“A ciência esteve presente acompanhando de perto e observando as atividades em curso, em todos os anos de organização agrícola de pesquisa”, diz Ari Uriel. Atualmente a ARO, conhecida também como Centro Volcani, em homenagem ao seu fundador Professor Volcani, é parte integrante do Ministério da agricultura e Desenvolvimento Rural e responsável por dois terços da pesquisa agrícola realizada em Israel, juntamente com os centros regionais de R & D e as grandes universidades, contribuindo significativamente para monitorar os desafios e fornecer soluções relevantes em condições climáticas e físicas (solo e água), assim como o fazem alguns departamentos de Universidade dedicada.
Segundo o ministro da agricultura, o modelo israelense de formação da agropecuária serviu como laboratório nacional para o desenvolvimento de um florescente setor agroindustrial, que se tornou fornecedor de equipamentos avançados e tecnologias eficientes para os agricultores locais, assim como muitos produtores rurais de todo o mundo, e contribuindo para a economia nacional por volta de 4 bilhões de dólares de exportação anual.