Fábio Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), observa que as duas prioridades das negociações relativas ao setor com o presidente a ser eleito nas eleições dos Estados Unidos são: demonstrar de modo enfático como os produtores rurais brasileiros preservam o meio ambiente e buscar a equalização do comércio bilateral, principalmente no tocante aos produtos sucroenergéticos.

Com referência ao primeiro tema, o dirigente lembrou que a questão ambiental brasileira foi abordada pelo candidato democrata, Joe Biden, no debate travado com o republicano Donald Trump. “É importante que o governo dos Estados Unidos, como de todas as nações, entenda que os produtores rurais brasileiros preservam muito o meio ambiente, muitas vezes até acima das exigências legais nas suas propriedades, e não estão incluídos entre os causadores do desmatamento e eventuais queimadas criminosas na Amazônia. Portanto, não caberia quaisquer sanções comerciais. É pertinente, sim, esforço para enfrentar esse problema, que compete ao governo e à sociedade de nosso país”.

Quanto ao comércio bilateral do agronegócio, o presidente da Faesp observa ser prioritário equalizar as tarifas relativas ao açúcar e o álcool. “O governo brasileiro já zerou, por períodos limitados, o imposto de importação do etanol, sem quaisquer contrapartidas dos norte-americanos. Porém, isso só terá sentido como política comercial se os Estados Unidos concederem isenção tarifária para nosso açúcar, taxado em 140% pelo Tio Sam”.

Há que se considerar, ainda, argumenta Meirelles, as diferenças, inclusive de custo, entre o etanol do Brasil e o dos Estados Unidos. “O nosso advém da cana-de-açúcar. O norte-americano é de milho”, explica, acrescentando que o nacional é mais fácil de ser extraído, pois é um subproduto do açúcar. Em até 11 horas de fermentação, o melaço fermenta e se transforma no álcool. O proveniente do milharal tem processo de fermentação de 70 horas. A principal vantagem, contudo, está na produtividade: em um hectare de terra, cultivam-se 90 toneladas de cana, suficientes para produzir até oito mil litros de etanol. O milho rende 20 toneladas por hectare, que geram 3.500 litros de etanol, tornando mais cara a produção norte-americana. E além do setor sucroenergético também é importante reduzir as tarifas para o suco de laranja e facilitar o acesso ao mercado para as carnes brasileiras.

O presidente da Faesp defende que esses temas sejam tratados de modo rápido com o vencedor das eleições norte-americanas. “Se é que conheceremos rapidamente o resultado das urnas dos Estados Unidos, que parecem caminhar para uma grande disputa judicial. Aliás, nossa Justiça Eleitoral, assim como o agronegócio brasileiro, é um exemplo de eficácia e precisão. É estranho que a maior economia do mundo e referência em democracia ainda tenha um sistema de votação tão contestado”, conclui.


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