Cientista da Embrapa constata, pela primeira vez, a produção precoce de estróbilos masculinos pelo processo de enxertia de tronco em araucárias-macho.
Na natureza, a araucária (Araucaria angustifolia) leva de 12 a 15 anos para produzir o pinhão, semente da planta e alimento muito consumido na Região Sul do Brasil. Com a tecnologia de araucária de produção precoce desenvolvida pela Embrapa Florestas (PR) e Universidade Federal do Paraná (UFPR), é possível reduzir esse tempo para seis a dez anos, por meio da técnica de enxertia. Este ano, os pesquisadores obtiveram a primeira produção da estrutura reprodutora masculina (estróbilos masculinos) em árvores enxertadas de tronco. Isso permite auxiliar a reprodução precoce, uma vez que a técnica só havia sido desenvolvida em árvores-fêmeas e a araucária necessita de plantas masculinas e femininas para se reproduzir. “Os estróbilos em plantas enxertadas de tronco constituem um resultado inédito, o que é motivo de comemoração”, ressalta o pesquisador da Embrapa Ivar Wendling, que conduz a pesquisa.
Ele explica que as pesquisas para produção precoce de pinhão com árvores fêmeas e machos foram iniciadas ao mesmo tempo. No entanto, em 2008, quando o método para fazer araucárias de tronco mostrou resultados, o foco passou a ser a enxertia de araucárias femininas. “Focamos em árvores fêmeas, achando que teríamos machos o suficiente na natureza. Só uns cinco anos mais tarde começamos a ter demandas de plantas macho. Iniciamos, então, a seleção e o registro de três cultivares masculinas”, conta.
Enxertos de tronco e de galho – Araucárias enxertadas de tronco são plantas produzidas pelo processo de enxertia, utilizando-se somente partes do tronco como propágulos (enxertos). Não são usados enxertos dos galhos e por isso as plantas têm a formação de tronco e galho, de forma similar a uma araucária produzida por semente (pinhão).
Já as araucárias de ramos ou miniaraucárias são plantas produzidas pelo processo de enxertia utilizando-se somente partes de ramos como propágulos (enxertos). Não são usados propágulos (enxertos) do tronco e por isso as plantas não têm a formação de tronco, somente galho.
Para o enxerto de tronco, os brotos não podem ser dos ramos das araucárias, pois estes não crescem para cima. Assim, são coletados materiais de crescimento vertical, paralelo ao tronco. Mais detalhes sobre as miniaraucárias podem ser obtidos nesta publicação técnica.
Antecipação de características – Além da possiblidade de antecipação da produção do pinhão, a tecnologia de enxertia também permite saber previamente se a araucária será masculina ou feminina, sua época de produção, a qualidade do pinhão, a possibilidade de formar “pomares de araucária”, com árvores de menor porte, e, agora, a produção de estróbilos masculinos.
As árvores fêmeas de produção precoce já estão disponíveis para os produtores. São três cultivares registradas pela Embrapa no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa): BRS 405, 406 e 407. Agora, os viveiros estão iniciando a produção das três cultivares de araucárias-macho com as características de produção precoce e bom vigor de pólen, também obtidas por meio de enxertia – cultivares BRS 426, 427 e 428. A previsão é de que essas mudas estejam disponíveis para o produtor em 2021, mediante encomenda.
A previsão para os próximos cinco a dez anos, utilizando a técnica de enxertia, é de disponibilização de cultivares com diferentes épocas de produção de pinhão dentro do ano – de março até setembro – além de pinhões com diferentes composições nutricionais e sabores, característica importante para indústria.
Como funciona a enxertia – A enxertia é uma técnica de propagação vegetativa na qual ocorre a união de partes de uma planta em outra, que servirá de suporte e fornecimento de um sistema radicular, de tal forma que se desenvolvam, originando uma única planta, embora cada uma delas mantenha sua individualidade genotípica. O enxerto é a parte produtiva da planta que se pretende multiplicar (planta selecionada).
O protocolo desenvolvido pela Embrapa Florestas e UFPR para produção de mudas utiliza a técnica de enxertia a partir de brotos da copa de uma árvore adulta, já com processo reprodutivo estabelecido, o que na natureza acontece a partir de 12 a 15 anos da árvore. Os brotos enxertados têm a idade da árvore da qual foram coletados, portanto, se comportam como árvores adultas, e por isso começam a produzir pinhão e pólen em menos tempo.
Pólen pode viajar mais de 2km – A polinização da araucária ocorre, na natureza, principalmente pela ação do vento. O pólen produzido pelos estróbilos masculinos, chamados de androstróbilos, pode viajar mais de dois quilômetros de distância para polinizar os estróbilos femininos, chamados de ginostróbilos. Quando maduros, ou pouco antes da maturação, e fecundados, os estróbilos femininos são chamados de pinha e produzem o pinhão.
Para aumentar a produção de pinhão em locais em que o número de plantas macho não é o suficiente na natureza, a recomendação é que o produtor implante na mesma área 73% de plantas femininas e 27% de plantas masculinas, em diferentes espaçamentos, mas sempre superiores a 8 m x 8 m.
Detalhes técnicos estão disponíveis na publicação Araucária: particularidades, propagação e manejo de plantios, de autoria de Ivar Wendling e Flávio Zanette, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), parceiro no desenvolvimento da tecnologia.
Iniciativa pretende estimular plantio de araucária – Os esforços de pesquisa e transferência de tecnologia da Araucaria angustifolia fazem parte da Iniciativa Araucária, um conjunto de ações de articulação e mobilização para promover o plantio da espécie com base científica e prática.
A ação articulada trabalha com quatro linhas: pesquisa científica, transferência de tecnologia, articulação institucional e ações de comunicação.
Para saber mais, acessa a página da Iniciativa Araucária e siga o perfil no Instagram.
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Paula Saiz (Conrerp 3453/SP) | Katia Pichelli (MTb 3594/PR) | Juliane Ferreira (MTb 4881/PR)
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