Pesquisa dos Estados Unidos aponta frutas, verduras e legumes mais contaminados. O Brasil não divulga nomes, apenas percentuais

José Daízio Ferreira, jornalista de agropecuária, com especialização em produção e mercado de orgânicos © Divulgação

No início de julho o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e Food and Drug Administration (FDA) concluíram análise de 43.700 amostras de 47 frutas e vegetais. Esse estudo, chamado de Dirty Dozen (Dúzia Suja), é realizado todos os anos com o objetivo de detectar contaminação química nos alimentos.

“Os itens alimentares que fazem parte da lista Dirty Dozen contêm alta porcentagem e variedade de resíduos de pesticidas. Além disso, o resíduo permanece nas frutas e vegetais, mesmo depois de lavadas, descascadas ou esfregadas. Isso pode representar uma ameaça à nossa boa saúde e bem-estar”, revelou a organização Organic Without Boundaries (Orgânicos sem Fronteiras).

Em 2020 a surpresa ficou por conta da uva passa, que superou morango e espinafre – os campeões dos ano anteriores – com o maior índice de contaminação, tornando-se os alimento seco do topo da dúzia suja.

O USDA descobriu que 99% das passas não orgânicas amostradas tinham pelo menos 2 resíduos de pesticidas. Uma porcentagem maior em 9% do que outros alimentos.

“Embora haja pesquisas em andamento sobre a extensão em que os pesticidas prejudicam os seres humanos e o meio ambiente em geral, já sabemos que é veneno para o solo, plantas e animais. É por isso que os alimentos orgânicos são uma escolha saudável. Os alimentos cultivados organicamente não são expostos a insumos químicos e sintéticos”.

Veja a lista completa do Dirty Dozen 2020 (o alimentos que contêm maiores teores de agrotóxicos) – em ordem decrescente: uva passa, morango, espinafre, couve, nectarina, maçã, uva, pêssego, cereja, pera, tomate e salsão.

 

Lista brasileira – No Brasil, a lista era divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A última publicação, porém, foi postada em 2018. Naquele ano a lista foi “liderada” pelo pimentão, seguido de uva, pepino, morango, couve, abacaxi, mamão, tomate e beterraba A partir do ano seguinte a agência mudou o critério de divulgação e deixou de relacionar os nomes dos produtos, citando, apenas, percentuais gerais.

Exemplo: a Anvisa revela que realizou testes em 46.616 amostras, sendo que desse total 49% estavam na conformidade, 28% no limite permitido, 23% com inconformidade e 0,89% com potencial risco agudo.

 

Opinião – Visto sob a ótica do novo formato, a impressão é que nossas frutas, verduras e legumes estão bem no quesito contaminação por agrotóxico. Afinal, o risco de potencial foi inferior a 1%. À luz e uma análise criteriosa porém, conclui-se que a Anvisa não informa bem e chega até a desinformar utilizando o “novo critério”.

Em primeiro lugar porque o percentual é baixo mas, a quantidade é grande. 0,89% de 46.616 é 414,8 amostras. Em segundo lugar porque a Anvisa não explica em quais produtos foram encontradas as inconformidades. Suponhamos que tenha sido nas amostras de maçã, morango ou de espinafre. E 0% no pepino. Então, se alguém não como pepino mas come morango e demais produtos contaminados, o risco não é de 0,89%, pode ser de 40% ou 50%. E mais: dos 23% de inconformidades detectados (10.721 amostras), 2,9% tinham mais de uma inconformidade.

A Anvisa aponta somente os alimentos com risco agudo. São eles:  abacaxi, batata-doce, goiaba, laranja e uva.

Agora veja este trecho, transcrito do próprio relatório da Anvisa: “Outro ponto de preocupação é com a aplicação de produtos não autorizados para determinadas culturas. Apesar de o resultado atual ter demonstrado um baixo risco potencial, o uso de agrotóxicos em culturas não autorizadas aumenta a possibilidade de que um maior número de resíduos chegue à mesa do consumidor sem a avaliação prévia da Anvisa. Além disso, pode ser indicativo de riscos ao trabalhador do campo, uma vez que não há diretrizes estabelecidas para o uso do agrotóxico nas situações de uso não permitido para a cultura”.

O baixo risco a que a agência se refere é a média, levando-se em conta que 49% das amostras estavam em conformidade.

É um risco divulgar média. Se uma pessoa tem 100 mil no bolso e outra tem zero, a média deles é 50 mil. É um engano, pois, ao fazer parte da média, aquele que nada tem não vai receber os 50 mil. Isso vale só para as estatísticas.

O certo mesmo é divulgar os nomes dos produtos mesmo se um dia analisarem 100 frutas e vegetais e somente em uma houver alteração. É fundamental para a proteção do consumidor e alerta para que os produtores trabalhem corretamente.