Agronegócio, decifra-me ou te devoro!

Por Jose Luiz Tejon Megido*

 

Assim como a esfinge de Tebas, misto de mulher e leão, devorava todos que tentavam passar por ela, mas não decifravam seu enigma, o agronegócio, tradução de agribusiness, se não for decifrado, destruirá os membros que ignorarem sua completa definição.

Em 2020, celebramos 63 anos da criação desse código “agribusiness” pelos professores Ray Goldberg e John Davis, na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em 1957. E ainda é um enigma não decifrado, até hoje, por muitos líderes e membros desse sistema de cadeias produtivas trazido em 1993 para o Brasil por Ney Bittencourt de Araújo, que foi presidente da Agroceres e fundador da Abag – Associação Brasileira de Agronegócio.

No Estadão (21/6- B1), lemos: “temor de prejuízos com imagem negativa do governo no exterior racha agronegócio”. E essa rachadura, se não for estancada, pode virar a causa de crises totalmente desnecessárias e criadas por nós mesmos.

O mestre Ray Goldberg, com 93 anos, hoje inspira grupos de diversas tendências no IFAMA – International Food & Agribusiness Management Association e adiciona, na definição de agribusiness, não apenas “a soma total da agropecuária, insumos, mecanização, transporte, armazenagem, agroindustrialização, comércio e serviços dos produtos originados nos campos”, como também inclui ecologia e medicina, afirmando ser doravante o agronegócio um “health system”, um sinônimo de saúde em todos os sentidos.

Poderíamos afirmar que agronegócio será doravante uma “agrocidadania”, a sua única futura via. Na mesma reportagem do jornal o Estado de São Paulo, dois líderes muito influentes no setor, como Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira, e Marcello Brito, atual presidente da ABAG, são apresentados como representantes “de um lado do agronegócio”, enquanto Nabhan Garcia, secretário especial de assuntos fundiários do Ministério da Agricultura, afirma, por seu lado, que “Camargo e Britto não representam o agronegócio”.

Da mesma forma, no eixo da crise, parte do Ministério do Meio Ambiente, algumas vozes, exclama: “São fazendeiros da Faria Lima que nunca pisaram no campo”. (Colocação infantil, nesse caso. Conhecem muito bem o campo, porém poderiam nunca ter pisado no campo e serem líderes fortíssimos do agronegócio, como muitos torrefadores de café alemães, italianos e muitos processadores e traders holandeses, portugueses, mexicanos, brasileiros, etc., etc.).

Estamos, sem dúvida, numa grande enrascada. Muita gente ainda não entendeu o que é agronegócio! E, ao usar os estudos do Cepea – Esalq Usp, mostrando ser esse macro setor responsável por cerca de 23,6% do PIB, por ignorância, associam esse valor de forma total a um dos elos dessa cadeia produtiva, a agropecuária.

Sem dúvida, a originação agrícola brasileira significa um fator crítico de sucesso fundamental para o país. Entretanto, sem agroindústria, ciência e tecnologia, o comércio e os serviços que envolvem tudo o que o agronegócio é jamais teríamos chegado aonde chegamos. E, com certeza, ainda há muito espaço para dobrar de tamanho nos próximos 10 anos.

No Brasil, dividimos esses elos do agronegócio em três etapas: antes, dentro e pós-porteira das fazendas. Dessa forma, o PIB do agronegócio, os 23,6%, transformados em 100% para compreensão do tamanho de cada parte, são aproximadamente 10% no antes (insumos , máquinas , tecnologias), 30% no dentro (a agropecuária propriamente dita) e 60% no pós-porteira das fazendas (agroindústria, comércio e serviços).

Dessa forma, quando falamos de agronegócio na sua definição correta, não existe separação entre o “Zecão”, excelente produtor rural de Lucas do Verde, e “Sousa”, CEO da Cargill, que reiteradamente tem pedido que parte do governo brasileiro pare de falar mal de um dos nossos clientes, a China, por exemplo.

E, para continuar seguindo Ray Goldberg, no IFAMA, é necessário adicionar ecologia, medicina, saúde humana e ambiental dentro desse decifrar o novo agronegócio: agrocidadania.

De fato, já existem abaixo-assinados de consumidores europeus contra produtos originados do Brasil, assim como há matérias em jornais chineses criticando a soja do Brasil, em função do desmatamento ilegal da Amazônia, além de Trump, o maior concorrente do nosso País, com um talento inquestionável de “Hard sell”, agricultores europeus e de outros países competidores incomodadíssimos com a inegável vocação brasileira para originar e agroindustrializar no cinturão tropical do planeta. Ou seja, a má imagem nos faz e fará muito mal.

É muito importante que as lideranças acordem , despertem, decifrem o agronegócio e também que possamos acordar, combinar as superficiais diferenças com a certeza de que fora de uma visão estratégica de cadeias produtivas não temos futuro.

A líder Teresa Vendramini, atual presidente da SRB, se posiciona corretamente na busca do “meio”, a conciliação. Da mesma forma, a Ministra Tereza Cristina, uma heroica brasileira, acaba de dar início a um plano plurianual da agropecuária, ao lado de João Martins, presidente da CNA – Confederação Nacional da Agropecuária, fundamental para nosso futuro. E tomara que incluam a indústria, o comércio e o serviço.

Sim, sem produtores e produtoras rurais não temos agronegócio. Mas sim, também, sem geneticistas, agrônomos, veterinários, zootecnistas, caminhoneiros, bancos e seguradores, cooperativas, comerciantes, comunicadores, supermercados e agroindustriais. E, o mais importante, não haverá agronegócio algum sem o consumidor final, o meio ambiente, a saúde.

Afinal, agronegócio com agrocidadania é doravante a única nova via.

Líderes, uni-vos. Chicago e Corn Belt, uma coisa só. São Paulo, Cerrado demais biomas, da mesma forma. Decifra-me ou te devoro. Não precisamos sofrer por ignorância.

Na Fia/Usp, temos o PENSA, Programa de Estudos do Sistema Agroindustrial, criado pelo prof. Décio Zylbersztajn, no início dos anos 90, e hoje comandado pelo prof. Cláudio Pinheiro Machado. Uma fonte séria e de elevada reputação nessa questão, além de outras brilhantes academias no País.

A ABAG, da mesma forma, tem a missão de orquestração de todos esses elos e, além do campo, inclui a indústria da alimentação, supermercados, e dezenas de entidades e empresas de todos os elos dessa extraordinária corrente que salva nossa economia – agronegócio. Doravante: agrocidadania.


(*) Prof. Dr. Jose Luiz Tejon Megido, coordenador do Agribusiness Center da FECAP; coordenador do MBA – Food & Agribusiness Management Audencia -Nantes/França; membro do CIGA – Colaborative Institute Global Agribusiness – Paris; sócio diretor da Biomarketing; Conselho do CCAS/COSAG/ABMRa

A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) é referência nacional em educação na área de negócios desde 1902. A Instituição proporciona formação de alta qualidade em todos os seus cursos: Ensino Médio (técnico, pleno e bilíngue), Graduação, Pós-graduação, MBA, Mestrado, Extensão e cursos corporativos. Dentre os diversos indicadores de desempenho, comprova a qualidade superior de seus cursos com os resultados do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e do IGC (Índice Geral de Cursos), no qual conquistou o primeiro lugar entre os Centros Universitários do Estado de São Paulo. Em âmbito nacional, considerando todos os tipos de Instituição de Ensino Superior do País, está entre as 5,7% IES cadastradas no MEC com nota máxima.

Imprensa FECAP
(11) 3272-2345 | www.fecap.br