Encerrada a colheita de grãos de verão na Região Sul, aceleram os preparativos para os cultivos de inverno. O conhecimento para fazer o melhor uso das tecnologias disponíveis continua sendo o melhor insumo. Veja as orientações da pesquisa para reduzir custos de produção sem perder a produtividade no trigo.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, João Leonardo Pires, adequar as tecnologias, sejam elas produtos ou processos, sem afetar o potencial produtivo das lavouras de grãos é possível definindo o investimento a partir de critérios técnicos para escolha de insumos, doses e momentos de utilização: “Hoje, muitas vezes, estamos confundindo uso de insumos com uso de tecnologia. Uso correto das tecnologias disponíveis é utilizar as ferramentas necessárias para cada realidade de produção, obtendo ganhos de rendimento e principalmente de rentabilidade”, argumenta Pires.
Ajustando o orçamento – Num momento de descapitalização no setor produtivo, é preciso ajustar cada item do investimento na lavoura de inverno. No trigo existem três conjuntos de insumos que representam os custos principais: fertilizantes, sementes e defensivos. É possível definir estratégias de manejo adequando os custos de produção em cada um destes fatores.
Sementes – Os cereais de inverno possuem grande plasticidade em termos de densidade de semeadura devido a capacidade de compensação existente entre os componentes do rendimento. Isso é feito em grande parte através do aumento ou diminuição do número de estruturas reprodutivas, representadas principalmente pela variação do número de espigas.
Os ensaios de ajuste fitotécnico conduzidos pela Embrapa Trigo não mostraram resposta em produtividade nas populações de 200 a 500 sementes aptas/m², conforme gráfico abaixo:
Na prática, é possível reduzir a quantidade de sementes por unidade de área no trigo até determinados níveis sem redução no rendimento de grãos. Por exemplo, na cultivar BRS Belajoia a densidade de semeadura recomendada é 330 sementes aptas/m². Experimentos na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, permitiram reduzir esta densidade para 270 sementes aptas/m². O rendimento se manteve inalterado mesmo com a menor densidade de sementes.
A orientação é verificar a informação fornecida pela empresa que desenvolveu a cultivar e fazer os ajustes considerando variações de acordo com a região, a época de semeadura e o histórico da área.
Fertilizantes – Os fertilizantes têm a maior participação nos custos de produção no trigo, representando aproximadamente 25% do investimento na lavoura. No trigo, o nitrogênio tem estreita relação com o potencial produtivo, ou seja, está comprovado pela pesquisa que o investimento em adubação nitrogenada pode resultar em maior rendimento de grãos. A eficiência de uso do N oscila entre 12 a 21 quilos de grãos para cada quilo de N adicionado, contudo o aproveitamento de N nos grãos tem um limite.
A Embrapa Trigo avaliou a máxima eficiência econômica de cultivares semeadas em 32 experimentos, conduzidos durante dez anos (1990 a 2000) no Rio Grande do Sul. O melhor resultado foi alcançado com 83 kg/ha de N, o que produziu 3.410 kg/ha no rendimento de grãos.
A quantidade de N recomendada pela pesquisa é de 60 a 120kg/ha, aplicando de 15 a 20kg/ha na semeadura e o restante em cobertura (perfilhamento e alongamento do colmo das plantas). A aplicação de N no espigamento não aumenta o rendimento de grãos, mas pode favorecer a concentração de proteínas. De modo geral, a dose na adubação nitrogenada varia em função do teor de matéria orgânica, da cultura precedente, da região e da expectativa de rendimento.
Segundo representantes da pesquisa, mais importante do que a dose de N são as condições ambientais no momento da aplicação, como temperatura e disponibilidade de umidade no solo, entre outras.
Controle fitossanitário – Os gastos com defensivos podem representar 16% do investimento na lavoura de inverno. Por isso, é preciso cautela na aplicação dos defensivos.
Experimentos da Embrapa Trigo na safra 2017 permitiram verificar a redução no uso de fungicidas no trigo. Seguindo o tratamento calendarizado, foram 4 aplicações de fungicidas (elongamento, emborrachamento, duas no espigamento), enquanto por meio no monitoramento semanal foi necessária apenas uma aplicação no espigamento, já que o clima favoreceu o trigo com baixa incidência de doenças durante o desenvolvimento vegetativo.
O estudo também mostrou os impactos no rendimento final do trigo. Os pesquisadores observaram que lavouras com menor número de aplicações mostraram melhores resultados no rendimento, com diferença de até 500 quilos por hectare a mais no trigo. Isso ocorre porque o monitoramento da lavoura propicia resultados mais efetivos no controle de doenças enquanto que aplicações de fungicida seguindo um calendário, que considera apenas o estádio de desenvolvimento da planta, podem resultar em intervenções quando a planta não apresenta sintomas ou o atraso no controle quando a doença já está instalada.
Existem diversos trabalhos de pesquisa que orientam para o momento de aplicação do defensivo, mas uma medida simples é avaliar 10 plantas por área homogênea (cultivar, baixadas, encostas), incidência que define a necessidade da intervenção na lavoura.
A melhor cultivar – Para o pesquisador da Embrapa Trigo Eduardo Caierão, a melhor cultivar é aquela que está adequada ao modelo de produção de cada propriedade, considerando ambiente, investimento e mercado. Desta forma, a escolha da cultivar deve considerar uma série de fatores como: liquidez – que está relacionada às características demandadas pelo comprador e oportunidades de segregação; tolerância a doenças, germinação na espiga ou acamamento considerando as previsões climáticas e a rotação de culturas da área; e potencial de rendimento associado ao custo de investimento mínimo exigido pela cultivar, como adubação, quantidade de sementes, necessidade de aplicar defensivos ou redutor de crescimento.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo João Leonardo Pires, o produtor dispõe de cultivares e práticas de manejo específicas que possibilitam a produção de trigo para diferentes finalidades como uso em duplo propósito (produção de forragem e grãos); produção de trigo com diferentes classes comerciais (Melhorador, Pão, Doméstico, Básico e Outros usos); com características especiais como trigo branqueador ou para produção de biscoitos; uso em modelos destinados à exportação; ou uso na composição de rações para suínos e aves.
Opções – Um exemplo capaz de associar sanidade e produtividade é a cultivar BRS Belajoia, que mostrou boa resistência a oídio e manchas foliares – problemas frequentes nas fases iniciais da lavoura do trigo que demandam maior investimento em fungicidas para controle. Além disso, a cultivar apresenta grande capacidade de perfilhamento que, associada ao porte baixo, favorece segurança em relação ao risco de acamamento. O trigo BRS Belajoia registrou rendimentos acima de 73 sacas por hectare na safra passada (vide EECT).
Outra cultivar que tem apresentado alto potencial produtivo – posicionada no EECT entre os mais produtivos nos últimos cinco anos – é a BRS Reponte que resultou em 82 sacas por hectare na média geral dos ensaios em 2019. Com resistência a oídio e boa sanidade às principais doenças, a cultivar demanda menos uso de fungicidas, resultando num trigo de baixo custo de produção e grande facilidade de manejo.
O Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo (EECT) é realizado anualmente de forma cooperativa com a participação de centros de pesquisa, universidades, empresas e cooperativas agrícolas do Sul do Brasil. Em 2019, o EECT foi composto por 18 experimentos em 14 locais (Coxilha/RS, Cruz Alta/RS – 2 épocas, Passo Fundo/RS – 2 épocas, Sertão/RS, Vacaria/RS – 3 épocas, Augusto Pestana/RS, Ijuí/RS, São Borja/RS, Três de Maio/RS, Eldorado do Sul/RS, Campos Novos/SC, Canoinhas/SC, Chapecó/SC e Guarapuava/PR), onde foram avaliadas 30 cultivares de 7 organizações. Participaram do trabalho Biotrigo Genética, CCGL TEC, DDPA/SEAPDR, Embrapa Trigo, Epagri, Fapa, IFRS-Campus Sertão, Limagrain do Brasil, OR Sementes, Setrem, UFRGS e Unijuí. Os resultados do EECT 2019 podem ser acessados no site da Embrapa Trigo ou direto AQUI.
“Os resultados servem como subsídio para assistência técnica na indicação de opções para o produtor, além de orientar pesquisadores avaliando a resposta dos materiais na interação entre genótipo e ambiente”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo Ricardo Lima de Castro.
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Joseani M. Antunes (MTb 9396/RS)
(54) 3316-5860 | Embrapa Trigo