Com o objetivo de reduzir o impacto causado pelo uso indiscriminado de insumos e recursos não renováveis nos sistemas agropecuários convencionais, principalmente agricultura, pesquisas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, realizadas pelo Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), destacam o Sistema Integrado de Produção Agropecuária (SIPA) como relevante alternativa para sustentabilidade da produção.
A pesquisadora do IZ, Flávia Fernanda Simili, coordenadora do projeto de pesquisa financiado pela Fapesp, explica que os estudos sobre os sistemas convencionais – agricultura em monocultivo e a pecuária de carácter extensivo – mostram que ainda se mantém a utilização de energia não renovável e fertilizantes, principalmente de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), ocasionando custos ambientais e sociais desfavoráveis.
“Porém, o SIPA, que tem sido estudado pelo IZ, se destaca como uma relevante alternativa produtiva, com diversos tipos de combinações, como a integração entre lavoura e pecuária, que combina em uma mesma área, a produção de grãos, carne ou leite. Em uma mesma área é realizada a semeadura consorciada entre a lavoura e a pastagem”, enfatiza Simili.
As sementes do capim, escolhida para formação da pastagem, é misturada ao adubo de plantio da cultura, que irá produzir grãos. Umas das combinações mais utilizadas nessa integração tem sido o milho ou soja, para produção de grãos e Brachiaria brizantha para formação da pastagem, onde será realizada a recria de bovinos. Em, aproximadamente, 45 a 90 dias, após a colheita do grão, a pastagem estará pronta para receber os animais, e esse período dependerá da época em que a lavoura foi colhida.
Segundo a pesquisadora do IZ, umas das vantagens desses sistemas integrados é a sinergia entre os componentes, resultando em melhorias ambientais, econômicas e produtivas. Nesses sistemas, os resíduos das culturas de grãos [palhada], os resíduos dos animais [fezes e urina] e os resíduos da pastagem [liteira depositada] fornecem nutrientes ao sistema a curto, médio e longo prazo e são considerados agentes reciclantes.
É possível calcular o balanço de nutrientes (BN) dos sistemas agropecuários com objetivo de apurar se está sobrando nutrientes (BN positivo) ou se está faltando nutrientes (BN negativo) nos sistemas produtivos.
“A sobra de nutrientes pode significar risco de danos ambientais por contaminação do ambiente, além de indicar que pode ser utilizado menos adubo. A falta de nutrientes (BN negativo) significa que extraiu mais nutrientes do solo, podendo também prejudicar o ambiente, além de indicar que há necessidade de se utilizar mais adubo. Para chegar a esse balanço nutricional, são necessárias as informações das quantidades de adubos utilizados e dos nutrientes fornecidos via agentes reciclantes, que serão considerados Input [entrada] e que será subtraído dos Output [saída], que são os nutrientes necessários para a produção de grãos, carne e leite”, explica Simili.
Com a supervisão da pesquisadora Simili, o trabalho desenvolvido também tem a participação da aluna, Joyce Graziella Oliveira, do programa de mestrado do IZ em “Produção Animal Sustentável”, desde agosto de 2018. Com a orientação do professor Mário Santana e sob a coorientação da pesquisadora Simili, os levantamentos contribuem com os resultados que são utilizados na dissertação de mestrado da aluna. “Joyce tem realizado todos os cálculos para chegar ao BN e verificar a reciclagem dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio (N, P e K), em seis sistemas agropecuários”, destaca Simili.
Sistemas agropecuários – Os sistemas estudados são de produção de milho grão [Agricultura]; recria de bovinos de corte em pastagem de capim marandu [Pecuária]; e quatro SIPA’s. O primeiro, envolve milho e capim marandu semeados simultaneamente, o segundo foi implantado com milho e capim Marandu semeados simultaneamente mais o Nicosulfuron, no terceiro está o milho e capim Marandu semeados em adubação de cobertura do milho, e no quarto tem milho e capim Marandu semeado em linhas e entrelinhas de milho mais o Nicosulfuron.
As pesquisas nos sistemas, até o momento, comprovaram que o balanço de nutrientes foi positivo para a pecuária aos três nutrientes [nitrogênio, fósforo e potássio], considerando apenas os adubos de plantio e cobertura.
Já para a agricultura e SIPA’s o balanço de nutrientes foi negativo para nitrogênio e potássio, pois para garantir altas produções de milho grão são necessárias altas quantidades desses dois nutrientes.
Ao contabilizar a entrada de nutrientes via agentes reciclantes, segundo Simili, o BN tornou-se positivo para nitrogênio e fósforo para todos os sistemas, porém para o potássio, ainda houve déficit para a agricultura.
“Diante desses resultados, constatamos a contribuição dos nutrientes via animais em pastejo e liteira depositada, durante o processo de senescência da pastagem, tornando-se excelentes fontes de nutrientes para os sistemas, contribuindo para racionalização do uso de fertilizantes de fontes não renováveis”, ressalta a pesquisadora do IZ.
Diante da importância e da complexidade do assunto, a pesquisadora destaca que ainda são necessários mais estudos e conhecimento em relação aos agentes reciclantes nos sistemas integrados.
“Cada agente tem um tempo de liberação de nutrientes e uma quantidade diferente para fornecimento dos nutrientes nos sistemas integrados, com isso são necessários experimentos em longo prazo e com a presença de animais nos experimentos, pois são muito importantes ao contribuir como fonte de nutrientes para o solo”, detalha Simili.
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