Investimentos em genômica, fenômica, drones e Big Data otimizam o melhoramento genético e resultam em cultivares mais produtivas e resistentes para os desafios futuros
Mapear os desafios que afetarão as lavouras nas próximas décadas exige uma conexão com o campo e uma visão voltada para o futuro e é justamente esse o papel do melhoramento genético. De 2006 a 2023, o Brasil registrou um crescimento de 74% na produção de soja com sementes geneticamente modificadas, segundo a CropLife. Essa expansão reflete a busca dos produtores por mais eficiência e rentabilidade, com lucros por hectare que podem ser até 7% superiores aos das variedades convencionais.
Para que essa curva ascendente se mantenha, é necessário fazer aportes contínuos em ciência e inovação. José Flávio, Gerente de Pesquisa da TMG Tropical Melhoramento & Genética, uma empresa brasileira de soluções genéticas para soja, algodão e milho, que projeta o investimento total de R$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento até 2031, explica que as tecnologias no campo hoje foram projetadas há mais de uma década. “O melhoramento genético sempre se concentra no futuro. As demandas atuais orientam a pesquisa, mas precisamos predizer como esses desafios vão evoluir ao longo dos anos”, diz.
Mais celeridade no melhoramento genético – Além de atender às demandas futuras, a tecnologia aplicada ao processo de melhoramento genético também tem evoluído ao longo dos anos para acelerar o desenvolvimento de cultivares. José Flávio destaca o uso de recursos como a genômica e a fenômica para a seleção mais ágil e precisa, a exemplo dos híbridos de milho.
Flávio comenta que a tecnologia genômica permite identificar com precisão marcadores moleculares — segmentos específicos do DNA ligados a características como resistência a pragas e produtividade. “Com os marcadores moleculares, podemos prever o desempenho de uma linhagem ou híbrido com base no perfil genético, sem a necessidade de anos de testes de campo,” explica o especialista.
Ainda segundo ele, é importante destacar que a eficiência no processo de fenotipagem é ampliada pelo uso de Big Data e análises em larga escala. “Devido à variabilidade genética das plantas, esse trabalho gera um grande volume de dados. Na TMG, por exemplo, desenvolvemos uma base de dados que reúne informações sobre o comportamento das plantas frente a doenças, produtividade, resistência a condições climáticas e dados moleculares. Com esse sistema, podemos analisar cerca de 900 mil amostras de plantas por ano, das quais aproximadamente 80 mil são selecionadas para a fenotipagem. O uso de drones e algoritmos para análise de imagens em grande escala torna possível identificar linhagens e híbridos de forma rápida, aumentando a precisão dos dados”, afirma.
Outro componente importante, ainda de acordo com José Flávio, é o estudo de ambientes específicos, como variações climáticas e características do solo nas regiões onde os híbridos serão cultivados. “Esse mapeamento regionalizado possibilita a criação de recomendações de plantio ajustadas às particularidades locais, promovendo maior segurança e adaptabilidade dos materiais às diversas condições de produção agrícola no Brasil”, conclui.
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