Empresário do setor de cestas básicas destaca a importância de investir em tecnologia e gestão eficiente da água
A crise hídrica global já impacta de forma significativa a produção de alimentos, colocando em risco mais da metade do abastecimento mundial. Esse cenário é agravado pela combinação de mudanças climáticas, gestão inadequada de recursos hídricos e o aumento da demanda por água devido ao crescimento populacional. A Comissão Global sobre Economia da Água (GCEW, na sigla em inglês) alerta que a combinação de uma economia fraca, uso destrutivo da terra e má-gestão dos recursos hídricos está colocando em grave risco o ciclo global da água, com previsões de sérias consequências econômicas até 2050, caso medidas urgentes não sejam tomadas para garantir um uso mais sustentável dos recursos hídricos.
Gustavo Defendi (foto), da Real Cestas, empresa que atua no segmento de cestas básicas há mais de 20 anos, acompanha de perto as dificuldades enfrentadas por produtores e fornecedores de alimentos. Ele observa que os setores agrícolas mais prejudicados pela falta de água são os que dependem fortemente da irrigação, como o cultivo de grãos e a pecuária e que medidas urgentes precisam ser adotadas, caso contrário, a segurança alimentar global ficará seriamente comprometida nas próximas décadas.
Diante desse cenário, Defendi destaca a importância de investir em tecnologia e gestão eficiente da água no campo. “A crise hídrica é um problema que afeta diretamente a segurança alimentar global. É essencial que os produtores adotem práticas que tornem o uso da água mais eficiente, tanto na pecuária quanto no cultivo de vegetais, para garantir a produção de alimentos de forma sustentável e responsável”, afirma o empresário. “A adoção dessas práticas não apenas preserva os recursos, mas também protege o futuro da produção em regiões que já enfrentam escassez de água”, completa.
Diversos países já estão implementando políticas que incentivam o uso racional da água na agricultura e pecuária, além de promoverem a agricultura regenerativa. Especialistas concordam que essas medidas são fundamentais para evitar o agravamento da crise hídrica e garantir a continuidade da produção em regiões afetadas pelas deficiências de recursos. “O equilíbrio entre a produção agrícola e a preservação ambiental é a chave para enfrentar os desafios futuros”, explica Gustavo, reforçando a necessidade de ações conjuntas entre governos, empresas e produtores para enfrentar uma crise de forma eficaz.
Outro aspecto importante a ser tratado tem como base um estudo do Instituto Trata Brasil, divulgado no mês de junho desse ano revelando que 37,8% de toda a água produzida no país em 2022, foi perdida antes de chegar às residências, uma redução de nível em relação aos 40,3% registrado em 2021. Apesar da melhora, o índice ainda está distante do considerado aceitável pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que localizou uma meta de 25% até 2034. O levantamento aponta que o volume total de água desperdiçada no último ano devido a vazamentos, desvios (conhecidos como “gatos”), erros de medição e outros problemas chegaram a 7 bilhões de metros cúbicos, o que equivale a mais de 7,6 mil piscinas olímpicas de água desperdiçadas diariamente.
“Para combater esse cenário, tecnologias avançadas podem ser grandes aliadas. A integração de big data, inteligência artificial e internet das coisas, conhecida como “águas inteligentes”, apresenta um enorme potencial para revolucionar a gestão hídrica no Brasil, otimizando o uso de recursos, reduzindo o desperdício e promovendo uma gestão mais eficiente, sustentável e resiliente diante dos desafios da disponibilidade hídrica”, destaca o empresário.
Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas as perdas por vazamentos em 2022 somaram 3,6 bilhões de metros cúbicos de água tratada, volume que seria suficiente para abastecer por um ano cerca de 54 milhões de brasileiros, o equivalente à população de todo o Nordeste. Esse volume também seria suficiente para fornecer água a todos os 32 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável, com sobra, ou para abastecer cinco vezes a população do Rio Grande do Sul, que recentemente causou problemas de abastecimento devido a enchentes.
“A crise hídrica global é, portanto, um desafio urgente que exige mudanças profundas tanto nos sistemas de produção quanto nos hábitos de consumo da população mundial. O papel de cada indivíduo, ao repensar sua alimentação e seu consumo, podem ser determinantes na construção de um futuro em que a água seja utilizada de forma mais eficiente, sem desperdício e com acesso aos alimentos garantido. O equilíbrio entre a produção agrícola, consumo e a preservação ambiental é uma das chaves para evitar que a crise hídrica se agrave”, conclui Gustavo.
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