A irrigação no Brasil tem se mostrado um elemento crucial para a garantia da produção agrícola e da segurança alimentar, especialmente em um cenário de mudanças climáticas. Luiz Paulo Heimpel (foto), gerente de culturas e assuntos governamentais na Netafim Brasil, compartilhou dados e tendências que destacam a importância e os desafios da irrigação no país.
Panorama atual da irrigação – De acordo com Heimpel, a irrigação tem desempenhado um papel vital na mitigação dos impactos climáticos adversos, como secas prolongadas e ondas de calor. O Brasil é o 6º país com maior área irrigada, com 8,2 milhões de hectares, segundo o Atlas da Irrigação da ANA. Essas áreas irrigadas são responsáveis por mais de 40% da produção mundial de alimentos, conforme dados da FAO. No entanto, o cenário não é uniforme para todas as culturas. O preço das commodities agrícolas impacta diretamente a tomada de decisões em investimentos e tecnologia nas áreas de cultivo. O café e a cana-de-açúcar têm mostrado bons resultados, com preços elevados e investimentos em irrigação, enquanto outras culturas, como grãos, enfrentam desafios significativos devido à queda nos preços das commodities e ao alto custo de produção. Nesse contexto, a irrigação se torna uma alternativa viável para maximizar a produção, especialmente considerando-se a irrigação localizada, que permite irrigar e produzir mais em 100% da área cultivável.
Café: um exemplo de sucesso – O setor cafeeiro tem se destacado positivamente. Desde o ano passado, os preços do café têm se mantido elevados, com picos significativos em 2023 e continuando atrativos neste ano. “O café arábica e o robusta estão em uma situação muito boa, com o robusta se equiparando ao preço da média mensal do arábica em alguns momentos, algo inédito em anos recentes”, explicou Heimpel. Esse cenário favorável tem incentivado investimentos em irrigação, especialmente em áreas de cultivo de café Conilon, que são quase totalmente irrigadas. Além disso, a irrigação aumenta a produtividade em até três vezes em relação às áreas de sequeiro, conforme dados da Embrapa, beneficiando a regularidade e a qualidade da produção.
Cana-de-açúcar: impactos das queimadas – A cana-de-açúcar, por outro lado, enfrenta desafios devido às queimadas, que afetaram cerca de 80 mil hectares apenas no estado de São Paulo. “Essas queimadas impactarão a produção e a qualidade da cana, o que foi uma situação de extrema preocupação para os produtores e a sociedade. A renovação dos canaviais e o investimento em tecnologia, incluindo a irrigação, são uma possibilidade para minimizar a perda de produção desses canaviais”, destacou Luiz. Em consequência das dificuldades e da demanda, o setor tem visto um aumento no valor da tonelada da cana, incentivando o replantio e as melhorias tecnológicas. De acordo com o Atlas da Irrigação, aproximadamente 35,5% da área irrigada no Brasil utiliza água de reuso, uma prática comum na cultura da cana, contribuindo para a sustentabilidade da produção. Já temos ótimos exemplos da utilização de águas residuárias em sistemas de irrigação localizada por gotejamento.
Fruticultura: recuperação e investimento – A fruticultura, especialmente a laranja, tem apresentado sinais de recuperação, com aumento de preços e novos investimentos em áreas de plantio. O setor vem se beneficiando da irrigação, com aumento da produção, redução de custos e melhoria na qualidade dos frutos. Segundo a Embrapa, a irrigação em áreas de fruticultura pode resultar em até três safras por ano, o que aumenta a oferta e a regularidade dos alimentos.
Desafios e oportunidades – Um dos principais desafios mencionados por Heimpel é a liberação de crédito para investimentos em irrigação. “Quando há disponibilidade de recursos nas linhas de financiamento, a liberação não está ocorrendo com a mesma fluência demandada pelo agro, o que impacta a capacidade dos produtores de manter e expandir seus investimentos”, afirmou. Além disso, em determinadas regiões, a infraestrutura necessária para irrigação ainda é deficitária, e o processo de outorga de uso de recursos hídricos para irrigação, de extrema importância devido à necessidade regulatória, tem celeridades distintas entre Estados e regiões. “A concessão de outorga depende muito da região e da estrutura dos órgãos fiscalizadores, o que pode impactar a liberação de recursos e frustrar os cronogramas de implantação dos produtores e investidores”, explicou Luiz. Ainda assim, a conscientização sobre a necessidade de pequenos barramentos e reservatórios, minimizando impactos ambientais, pode promover a expansão da irrigação, cujo potencial é significativo: o Atlas da Irrigação prevê um aumento de 4,2 milhões de hectares irrigados até 2040, um crescimento de 79% em relação à área atual que utiliza mananciais.
Perspectivas futuras – Apesar dos desafios, as perspectivas para a irrigação no Brasil são positivas. Dados da Câmara Setorial de Irrigação indicam que a irrigação continua a crescer, um reflexo de sua importância para a segurança alimentar, já que culturas essenciais como grãos, frutas e legumes dependem fortemente da irrigação. “A modernização e, consequentemente, a maior eficiência das técnicas de irrigação, entre elas a irrigação localizada, têm mostrado um crescimento estável, o que é um indicativo positivo para o setor”, afirmou Heimpel.
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