Após 12 anos no continente africano, advogada retorna ao Brasil investindo na agropecuária e no desenvolvimento da comunidade
Teresina, capital do Piauí, é classificada como terceiro município com melhor qualidade de vida nas regiões norte e nordeste pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além da indústria, um dos destaques da cidade é sua contribuição com o setor agropecuário. E neste lugar se localiza a Fazenda África, propriedade de Rossana (foto) e Eduardo Aboud, especializada em pecuária de corte que abre suas porteiras para iniciativas de empreendedorismo, gestão e capacitação na região.
Ainda em 2020, após 12 anos vivendo em países como Angola, Moçambique, África do Sul, Tanzânia e Quênia, a advogada e empreendedora Rossana Aboud decidiu junto com seu marido que era o momento de retornar ao Brasil. “Frente à pandemia nos questionamos se valia a pena passar tanto tempo fora e longe da família. Isso nos levou a refletir sobre esse momento pessoal”, conta Rossana.
Motivados pelo sonho e pela experiência em gestão corporativa, os executivos contrataram um consultor para ensinar os manejos da pecuária de corte e, em 2021 inauguraram a propriedade de 20 hectares. Passaram também a compartilhar o cotidiano no campo nas redes sociais.
Desde então, a empreitada tem conquistado diferentes formas de reconhecimento. Em três anos, a página da Fazenda África já soma 20 mil seguidores no Instagram. E, em 2023, Rossana foi uma das produtoras reconhecidas no Prêmio Mulheres do Agro, iniciativa idealizada pela Bayer em parceria com a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) — que está com inscrições abertas para novas interessadas até o dia 31 de julho.
Focada em incentivar mais mulheres a mostrarem sua jornada no campo, a produtora passou a compartilhar, investindo na transparência dentro da porteira, conteúdo sobre suas práticas que englobam a dedicação ao cuidado animal que resulta na qualidade da carne. Com grande preocupação com a qualidade da alimentação, água, vacina e manejo sanitário, a propriedade busca aperfeiçoar a produção de capim e o modelo de irrigação. “Dentro da Fazenda África entendemos que a sustentabilidade segue um tripé social, econômico e ambiental. Entre nossas ações, captamos a água da chuva para otimizar nosso modelo de irrigação de gotejamento, e conseguimos economizar recursos hídricos com eficiência”, conta.
A Fazenda África compartilha nas redes sociais sua rotina de participação em eventos, dicas de infraestrutura, sustentabilidade e silagem além de técnicas de bem-estar animal, como o curral antiestresse. A propriedade também promove cursos de gestão e defende um modelo de gestão transparente, oferecendo oportunidades para que seus colaboradores se especializem e tenham oportunidades de crescimento. Essa estratégia é também uma forma de retenção de talentos que gera motivação nos profissionais.
“Nosso modelo de gestão é aberto, não escondemos números e compartilhamos nossos objetivos com nossos colaboradores. Eles conhecem os desafios da propriedade e cuidamos do seu desenvolvimento profissional. Abrimos espaço para o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) com aulas de tratoria na propriedade, além de recebermos profissionais de outras fazendas. Desenvolvemos uma forma dos colaboradores se sentirem parte disso”, afirma a produtora.
Responsabilidade social além da porteira – Com pouco mais de um ano de atividade da Fazenda África, Rossana soube da iniciativa Prêmio Mulheres do Agro, que busca dar espaço e valorizar o trabalho das mulheres que fazem a diferença no campo, reconhecendo suas iniciativas na gestão sustentável de suas propriedades, com foco nos pilares de governança, social e ambiental, e se inscreveu. Sem experiência prévia em premiações do setor, e sem a pretensão de ganhar naquele ano, ela passou a entender como as coisas funcionavam e enxergou a oportunidade que procurava de balizar seu modelo de negócios aderindo às práticas mencionadas no formulário de inscrição.
Desde então, a produtora expandiu sua atuação abrindo as porteiras. “Vi que me comunicar e me posicionar proporcionou mais experiência e vivências voltadas a responsabilidade social. Hoje integro projetos como o ‘Movimento Mulheres de Fibra’ e o ‘Instituto Cultivar Progresso’ ”.
Dentro dessas iniciativas, Rossana soma esforços para a construção de uma clínica escolar para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) que vai beneficiar mais de 300 crianças no sul do estado do Piauí. Esse projeto também auxiliará a comunidade local, com espaço para cursos, aulas de educação ambiental e uma agrofloresta. “Queremos impactar a vida das crianças e de suas famílias, e atrair parceiros para a região, fomentando o empreendedorismo”, acrescenta.
Já no Movimento Mulheres de Fibra, do Instituto Cultivar Progresso, Rossana é uma das líderes do projeto ao lado das produtoras de grãos Lúcia Bortolozzo e Ani Sanders, com objetivo de difundir uma corrente de ideias ligadas a transformação social. Dentro do projeto, a rede cria produtos e serviços no município de Sebastião Leal, um dos polos do agronegócio do Piauí, oferecendo oficinas e capacitações voltadas ao desenvolvimento local.
“Iniciamos o movimento querendo mostrar para outras mulheres o que fazíamos em nossas áreas distintas, e ajudá-las a desenvolverem suas ideias em um espaço de apoio mútuo. Não adianta ter o melhor produto se ninguém souber disso. Foi por isso que fui me envolvendo nos negócios da fazenda. Tínhamos que agregar valor ao nosso trabalho, e uma excelente forma de fazer isso era mostrando as nossas práticas”, conta Rossana.
Com os aprendizados da participação nesses projetos e após ter realizado no progresso à frente da Fazenda África, a produtora voltou a se inscrever no Prêmio Mulheres do Agro em 2023, quando foi reconhecida na categoria de Pequena Propriedade. “O prêmio trouxe muita validação pessoal e profissional. Me sinto mais segura representando o Piauí e defendo a importância de as mulheres reconhecerem suas conquistas”, diz ela.
A produtora convoca as mulheres do setor que ainda não se inscreveram na premiação a também se inscreverem e conhecerem de perto a iniciativa. “O prêmio é importante para balizar o que estamos fazendo em nossas fazendas, reforçar práticas e se apropriar desse espaço. Mostrem seu belíssimo trabalho nas redes sociais, invistam nessa comunicação. Apliquem para suas iniciativas porque ele é um divisor de águas para o nosso desenvolvimento e para nos sentirmos especiais.”
As inscrições para produtoras rurais no Prêmio Mulheres do Agro se encerram na próxima quarta-feira, 31 de julho, e podem ser realizadas por meio do site da premiação.
–
–