Sistemas de gestão e soluções digitais de precisão otimizam processos, aumentam produtividade e garantem sustentabilidade em propriedades, agroindústrias e cooperativas
Nada de anotações a lápis em cadernos nem de planilhas de computador para controlar propriedades rurais. O estudo “O futuro do agro”, da consultoria Inventta, confirma que digitalização e gestão técnica de fazendas são tendências em consolidação no agronegócio e indica que os dados gerados pelas tecnologias emergentes no campo têm imenso potencial de subsidiar a tomada de decisões estratégicas para o produtor. “A mecanização e automação serão cada vez mais intensas e necessárias para realizar um manejo mais preciso, eficiente e com impactos positivos na receita da fazenda”, sinaliza o estudo.
Com possibilidade de ganhos financeiros até 30% maiores, é crescente o número de produtores agropecuários que investem em soluções tecnológicas integradas para monitorar sua produção em tempo real. Não é à toa que empresas fornecedoras de sistemas de gestão e de ferramentas digitais de precisão para o setor, como sensores e estações meteorológicas, crescem bem acima da média da economia. De acordo com o Radar Agtech Brasil 2023, da Embrapa e das consultorias SP Ventures e Homo Ludens, o número de agtechs (startups do setor agropecuário que trabalham com tecnologia) aumentou 14,7% em relação a 2022, enquanto o PIB brasileiro cresceu 2,9% no último ano.
A tendência desse mercado é expandir ainda mais, impulsionado pelos resultados transformadores de quem já aderiu ao “novo agro”, como otimização de processos, aumento de produtividade e garantia de sustentabilidade. A consultoria 360 Research & Reports estima que o mercado global de agricultura digital crescerá, em média, 15,9% ao ano até 2026, quando atingirá US$ 8,3 bilhões. Até lá, a expansão da conectividade no campo aumentará em R$ 79,6 bilhões o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), aponta estudo do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Gestão baseada em dados – Mulheres e jovens encabeçam a gestão rural baseada em dados. “A tecnologia facilita a gestão a distância, já que não estou 100% do tempo na fazenda”, resume Camila Kunz Boch, sucessora da AJC Agricultura, que administra três propriedades da família no interior do Paraná. Há um ano e meio, usa o software de gestão de propriedades rurais eProdutor para registrar em tempo real as rotinas dos funcionários, como rota diária, limpeza, plantio e máquinas usadas, além do controle de estoque. O sistema também resolveu a dificuldade de conectar o financeiro à lavoura de cereais. “O pessoal da fazenda registra as informações ao sair do talhão e outra pessoa faz o checklist. Facilitou para analisar custos e produtividade. Conhecer os números do negócio guia nossas decisões para sermos mais assertivos nos investimentos e melhorarmos”, afirma.
Confiabilidade e transparência também levaram o jovem engenheiro agrônomo André Assis, de Terra Roxa (PR), a adotar o eProdutor na gestão dos negócios familiares (produção de grãos, piscicultura, avicultura, bovinocultura de corte e silvicultura). “Consegui separar tudo por centro de custo. Os funcionários acessam do campo, no tablet, notebook ou celular, lançam os dados e, no fim do dia, gerencio as informações para tomar as decisões corretas”, explica. “Na agricultura, vejo imagens de satélite da localização das pragas no campo, comparo mapas de produtividade, fertilidade do solo e chuva e me planejo melhor para comprar insumos, sabendo preços e consumo da última safra. Na piscicultura, visualizo gráficos de arraçoamento, qualidade e temperatura da água, e faturei 30% a mais no primeiro lote após usar a plataforma. O sistema também ajuda na gestão fiscal e tributária do conglomerado familiar, para sabermos como investir nos próximos anos”.
Visão empresarial – “Por muito tempo, os produtores se preocuparam em produzir, mas não paravam para olhar o administrativo. Agora, estão buscando a gestão por causa da diversificação de atividades e para cortar custos”, destaca o engenheiro agrônomo Lucas Dierings, diretor comercial do eProdutor, empresa integrante do grupo SPRO. Desenvolvido por produtores rurais do Oeste do Paraná, o software foi lançado em 2020. Com módulos de gestão financeira, fiscal, agronômica e zootécnica, permite que produtores de todos os portes gerenciem qualquer espécie animal ou cultura agrícola. “Dobramos o faturamento a cada ano e hoje o eProdutor é usado em 17 estados brasileiros e três países”, revela. “O desafio é transformar o produtor familiar em uma família empresária”, avalia. 80% dos clientes são mulheres.
Chova ou faça sol! – Nas propriedades administradas por Camila e André, a tecnologia também está presente em estações meteorológicas para o monitoramento climático completo de todas as culturas e espécies em tempo real. Fabricados pela B2K, do grupo SPRO, os equipamentos funcionam com painel solar e bateria interna, conectados à internet wi-fi ou móvel para transmitir os dados a uma plataforma de gestão, como o eProdutor. “É o sonho de todo produtor e foi a maior felicidade do meu pai ter uma estação meteorológica conectada ao sistema, a qual nos permite ver, na palma da mão e de qualquer lugar que estivermos, quanto choveu, os dados históricos e de momento. Com a tecnologia, conseguimos analisar melhor as interferências para decidir diariamente aplicações de insumos, pulverizações e plantios”, constata. Outro benefício é ter informações mais confiáveis caso precise acionar seguro agrícola. Ela conta ainda que os índices de luminosidade coletados pela estação foram decisivos para definir o local de instalação de um pátio de produção de energia solar.
As estações meteorológicas da B2K coletam dados de nove grandezas climáticas (temperatura, umidade, precipitação, velocidade do vento, rajada do vento, direção do vento, intensidade luminosa, intensidade UV e pressão atmosférica), as quais possibilitam estimar mais três parâmetros (ponto de orvalho, incidência solar e evapotranspiração). “Nosso trabalho é ajudar o produtor a ter mais produtividade e mais eficiência, pois com a ajuda de ferramentas integradas, ele consegue estimar ganhos e perdas e o efeito do clima no resultado da safra”, diz Eduardo Zotto, gestor da B2K. A empresa registra incremento anual de faturamento na casa dos 50%, mas ainda há muito espaço para crescer.
Revolução na avicultura – Além do sistema de gestão e da estação meteorológica, André também conta com o sensoriamento completo dos seus aviários com produtos da E-Aware, empresa do grupo SPRO que atua com Internet das Coisas (IoT). Entre os dispositivos inteligentes que a empresa oferece para o setor avícola – considerado um dos mais avançados na adoção de novas tecnologias – estão balanças inteligentes e sensores – que monitoram consumo de ração e de água, peso das aves e dos silos, ambiente, temperatura ambiente, umidade relativa interna/externa, medição de luminosidade, velocidade do vento, dióxido de carbono e índice de sensação térmica. Esses sensores são soluções modulares plug and play, com autonomia de bateria de dois a três anos, que fazem a medição, armazenam as informações e as transmitem para um servidor que roda a aplicação, como o eProdutor.
“Os dados do consumo de ração e do peso das aves geram outro indicador importante: a conversão alimentar. Com alertas em tempo real de problemas nos aviários e análise estatística, é possível tomar a melhor decisão e gerenciar bem os insumos, como água, energia elétrica e ração. Além de ajudar na logística, a leitura correta desses dados se reflete no manejo e, consequentemente, aumenta a capacidade produtiva”, afirma Jean Winter, gestor da E-Aware. Ele notou nos últimos dois anos aquecimento no interesse de agroindústrias e cooperativas em projetos de centrais de inteligência agrícola e zootécnica, que plugam as tecnologias das propriedades vinculadas e permitem identificar rapidamente oportunidades de melhoria na produção. “Fazer uma gestão baseada em dados é uma tendência na indústria 4.0. É o futuro e pronto”, conclui.
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