Grupo solicita reconhecimento com Indicação Geográfica (IG) para o “Café de Mandaguari”. Pedido foi depositado no INPI, nesta semana
Em Mandaguari, no noroeste do Paraná, o café é mais do que uma bebida degustada pura ou em harmonia com pratos doces ou salgados. O grão faz parte da história do município que, mesmo após a geada de 1975, que devastou lavouras paranaenses, deu sequência ao cultivo e se tornou referência na produção de sementes de qualidade no Estado.
Agora, os produtores dos grãos deram um largo passo para ganhar status de “celebridade” entre os cafés do Brasil. Isso porque foi depositado, nesta quinta-feira (30), o protocolo para a obtenção da Indicação Geográfica (IG) para o “Café de Mandaguari”, junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A solicitação é para que o café seja reconhecido com a IG por Denominação de Origem (DO), a primeira do Paraná para cafés especiais na modalidade – segundo o INPI a DO designa “produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos”.
A expectativa é de que o processo, da análise do INPI até a concessão, leve menos de um ano. Os 45 produtores que compõem a Associação dos Produtores de Café de Mandaguari (Cafeman) esperam se tornar mais competitivos, negociar as sacas de café por valores mais elevados e abrir possibilidades de exportação. Incialmente, sete agricultores estão aptos a adotar o signo distintivo da IG “Café de Mandaguari” logo após a chancela, mas a tendência é que mais produtores adotem as práticas do Caderno de Especificações Técnicas para usufruir das vantagens da IG.
Cafeicultores de seis municípios, que representam cerca de 200 propriedades produtoras, podem se enquadrar para receber a IG: Mandaguari, Marialva, Jandaia do Sul, Apucarana, Cambira e Arapongas. A região possui terra roxa, resultado da decomposição de rochas basálticas, ricas em nutrientes, como o ferro. É atravessada pelo Trópico de Capricórnio, que proporciona equilíbrio térmico, com noites frias e dias quentes, e tem, em sua maioria, produções familiares de café.
Só em Mandaguari são cerca de 630 hectares de área plantada, sendo que a produção anual média gira em torno de 850,5 toneladas – entre as principais variedades estão a Icatu Vermelho, Catuaí Vermelho, Mundo Novo, IPR 106 e IPR 107. A qualidade dos grãos se destaca pela consistência densa e sabor frutado, com notas de chocolate e caramelo, além de uma acidez típica equilibrada, fatores vinculados à região. Além disso, o produto ostenta premiações de qualidade em concurso como o Café Qualidade Paraná 2021 e o Sexto Concurso Nacional ABIC de Qualidade do Café.
“Bactérias encontradas nas lavouras em Mandaguari não consomem o açúcar dos grãos, mantendo o dulçor da bebida, o que é um diferencial em relação a cafés de outras regiões do Brasil. Além disso, no nosso município e no entorno, essas bactérias não alteram outras características sensoriais, mantendo a característica de cada variedade”, explica Fernando Rosseto, produtor e presidente da Cafeman.
A família Rosseto está na atividade há 71 anos, em Mandaguari. Em 12 hectares, a produção de cafés especiais, adequados conforme critérios para a obtenção da IG, ocupa 30% da área.
“Buscamos a valorização do nosso produto e queremos que mais agricultores familiares aprimorem as técnicas de produção para se encaixarem nas especificações técnicas de IG. Será possível ter rentabilidade diferente, com a saca valendo quase o dobro do preço atual”, comenta Rosseto, na quarta geração de produtores da família.
Mobilização – O trabalho para a busca da IG começou em fevereiro de 2022, quando o Sebrae/PR deu início à sensibilização de agentes locais e de produtores para a formação de uma nova associação para a classe.
Ao longo de 2022 e 2023, foram realizados diversos eventos, reuniões, encontros, tanto para a organização dos produtores rumo à busca pela IG quanto para a capacitação do grupo, a fim de manterem ou elevarem a qualidade de suas produções.
“O depósito do pedido de DO, o primeiro do Paraná para cafés especiais, coroa o esforço coletivo. O produto terá mais visibilidade, notoriedade e valor agregado para novos negócios na região”, comenta o consultor do Sebrae/PR, Luiz Carlos da Silva.
A prefeita de Mandaguari, Ivonéia Furtado, destaca que a DO será motivo de orgulho para o município.
“Temos orgulho de ter em nossa cidade e região o primeiro pedido de Denominação de Origem para cafés especiais no nosso Estado. Isto demonstra a grandeza da nossa cidade e dos nossos agricultores e cidadãos”, comenta a prefeita.
Estão envolvidos no processo, a Cafeman, o Sebrae/PR, a Prefeitura de Mandaguari, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Meio Ambiente e Turismo, a Cooperativa Agropecuária e Industrial Cocari, o Sistema Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
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