A rastreabilidade tem sido um fator importante para atender as demandas atuais dos consumidores, que estão cada vez mais preocupados com a origem dos produtos adquiridos. Na pecuária, ela se torna mais significativa, pois garante a segurança do alimento, ao mesmo tempo em que comprova que as propriedades rurais estão atendendo os quesitos de bem-estar animal e de conformidade socioambiental.
“Para os mercados, onde há a exigência de produtos vindos de áreas sem desmatamento, é possível apesentar dados que confirmem a origem e as condições dos animais”, pontua Francisco Beduschi Neto, Líder da National Wildlife Federation (NWF) no Brasil.
Segundo um relatório do Boston Consulting Group sobre a visão dos consumidores em relação à sustentabilidade, 89% dos brasileiros entrevistados se dizem preocupados com o meio ambiente ao realizar suas compras. Esse percentual foi maior do que a média global de 80%, quando consideradas as cerca de 19 mil pessoas de diversos países ouvidas na pesquisa.
Na avaliação de Beduschi, a melhor solução para a pecuária seria a implantação da rastreabilidade individual, ou seja, cada animal teria uma identificação específica, que permitiria consultar o histórico de propriedades pelas quais cada animal passou e se atendem as demandas de um mercado específico. “A ideia que está em discussão é a de um sistema no qual se possa realizar consultas para checar se alguma das propriedades pelas quais o animal passou cometeu alguma ilegalidade”, exemplifica.
Entretanto, essa solução ainda deve demorar a produzir resultados concretos pois o Brasil tem o maior rebanho do mundo, e este rebanho está disperso por todo o país. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pecuária, como atividade econômica, está em todos os municípios brasileiros.
Apesar dos desafios, há uma maneira de acelerar esse processo e saber quais propriedades tem problemas e ajudar os produtores a resolvê-los ao utilizar as informações já disponíveis na pecuária, como o GTA (Guia de Trânsito Animal) e o CAR (Cadastro Ambiental Rural). “No caso da carne e do couro, ao cruzar os dados de GTA e CAR é possível olhar um elo a mais na cadeia de fornecimento, analisar a conformidade da propriedade que é fornecedora indireta do frigoríficos, e ampliar a capacidade da cadeia de valor de endereçar seus problemas. Em outras palavras, além de monitorar a conformidade socioambiental das propriedades dos fornecedores diretos, os frigoríficos poderão começar a conhecer também seus fornecedores indiretos e ajudá-los a endereçar os problemas encontrados”, pondera Beduschi.
Esse conhecimento é fundamental, pois a cadeia de produção animal na pecuária é formada por vários elos, podendo chegar a cinco ou mais, considerando as fases de cria, recria e engorda dos animais. Para o líder da NWF no Brasil, até chegar a rastreabilidade individual, é possível trabalhar dessa forma para conhecer melhor a cadeia de fornecimento, seus problemas, desafios e necessidades. Por isso, esse processo está ganhando força no Brasil, principalmente entre os atores da com a iniciativa privada, que precisam responder a consumidores, bancos e investidores, sobre a sustentabilidade de seus negócios.
“Ao conhecer a propriedade rural, é possível entender os problemas socioambientais para agir, no sentido de auxiliar esses produtores a regularizarem sua situação, sendo incluídos na cadeia de fornecimento global de carne e couro. Com isso, a pecuária se torna ainda mais competitiva e esses produtores podem obter mais rentabilidade e melhores condições para financiar seus negócios”, finaliza Beduschi.
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