Soluções digitais são caminho crítico para “descomoditizar” e agregar valor aos grãos brasileiros

 

Por Filipe Nunes, engenheiro agrônomo e business development director Latam da Indigo

 

O setor agrícola, e mais especificamente a comercialização de grãos, tem passado por uma revolução silenciosa que influencia os negócios de todos os seus participantes. Mudanças importantes na dinâmica desse mercado têm influenciado como originadores de grãos operam hoje e como pretendem manter sua competitividade no futuro.

A velocidade na troca de informações e a volatilidade dos mercados, seja de futuros, frete ou câmbio, leva a uma tomada de decisão cada vez mais complexa. Há duas décadas, o comprador chinês não tinha ideia do que acontecia em Primavera do Leste, no Mato Grosso – um importante município produtor de soja, milho e algodão. Hoje, basta um smartphone e alguns segundos para saber, em detalhe, a condição das lavouras, os preços praticados e ter uma estimativa de quanto da safra já foi comercializada.

As margens de originação continuam apertadas, colocando pressão constante em controle de custos e busca por novas receitas. Não é de se estranhar o movimento de diversificação de receitas que as maiores tradings do país vêm fazendo já há alguns anos. Além de negociar os grãos dos produtores elas também oferecem soluções de crédito, ferramentas de gerenciamento de risco e até insumos.

Produtores brasileiros, cada vez mais dispostos a transacionar online e testar ferramentas digitais, sempre estiveram na vanguarda da adoção de novas tecnologias para produzir. Porém, para tecnologias digitais, o setor agrícola é um dos mais atrasados quando comparado a outros setores da economia. Nos últimos anos isso vem mudando. Produtores estão cada vez mais dispostos a testar ferramentas digitais, seja para pegar crédito, comprar insumos ou vender grãos. Parte desse fenômeno ocorre porque há uma troca de geração acontecendo, mas mesmo a velha guarda já consegue ver os benefícios desse tipo de tecnologia para o dia a dia de seus negócios.

Consumidores finais e atores do setor estão cada vez mais interessados em transparência, rastreabilidade e sustentabilidade dos alimentos (e produtos diversos) que consomem. Cada vez mais, seja por mudança de hábitos ou pressão regulatória, existe uma demanda crescente por alimentos e produtos com origem conhecida, produzidos de forma sustentável e com as melhores práticas de governança.

Nesse cenário, vemos originadores de grãos acelerando sua jornada de digitalização e buscando soluções digitais e de data analytics. Eles veem essas soluções como cada vez mais indispensáveis para gerenciar suas operações de maneira mais eficiente, ativar a força comercial de forma mais efetiva, suportar uma tomada de decis com base em dados e até agregar mais valor às transações de grãos.

Essas empresas estão nos primeiros estágios da jornada de digitalização. Ainda que muitas tenham projetos in-house de desenvolvimento, a maioria não possui as competências e governança para o desenvolvimento de produtos digitais com tecnologia de ponta, explorando normalmente soluções de terceiros que possam se integrar seus sistemas atuais. A digitalização e a automação avançaram significativamente nos últimos cinco anos, mas o nível de sofisticação ainda é baixo. As empresas que conseguirem acelerar essa jornada terão uma vantagem competitiva na próxima década e com base nessa demanda latente, novas plataformas surgem no mercado brasileiro.

Foi esse contexto que fez a Indigo acelerar a vinda do Market+ (“MarketPlus”) no começo desse ano para o Brasil, uma ferramenta digital que visa aumentar a eficiência comercial das empresas compradoras de grãos através do uso de tecnologia e dados, além de viabilizar o aumento do valor agregado das commodities.

Uma das dores mais consistentes dos times comerciais é gastar muito tempo em atividades administrativas e operacionais, não tendo tempo suficiente para criar e manter relacionamento próximo com sua carteira de clientes, identificando oportunidades. O Market+ visa atacar justamente essa dor, propiciando um gerenciamento de propostas, ofertas e contratos de forma eficiente e intuitiva para os usuários. Além de facilitar o gerenciamento do processo interno, a ferramenta também cria um canal digital entre a empresa compradora e seus clientes, tendo ganhos adicionais de eficiência e servindo melhor os clientes que buscam esse tipo de canal. Nesse sentido, a ferramenta é diferente de marketplaces, ao digitalizar a relação já existente entre comprador e vendedor, sendo um canal complementar aos canais já utilizados.

Fica cada vez mais claro que ferramentas como essa são um caminho crítico para avançarmos também na agenda de rastreabilidade e sustentabilidade. Como citado acima, consumidores estão cada vez mais interessados na procedência dos alimentos e dispostos a pagar um prêmio por produtos sustentáveis, o que leva à “descomoditização” de produtos agrícolas.

Descomoditizar é a estratégia de atribuir características únicas a um produto, transformando-o de commodity a um bem diferenciado. No caso da agricultura, um produtor que investe em práticas sustentáveis, seja fazendo plantio direto, usando culturas de cobertura, utilizando insumos biológicos, fazendo integração lavoura-pecuária, entre outras, pode criar grãos mais sustentáveis e ser monetizado por isso. Para gerenciar a aferição dessas práticas, capturando e tratando os dados necessários, garantindo que os impactos positivos estão de fato sendo alcançados, ferramentas digitais de comercialização de grãos são essenciais. Tais ferramentas gerenciam as transações tradicionais, mas também criam as condições para viabilizar também a comercialização desses grãos mais sustentáveis.

A Indigo já opera no Brasil com produtos biológicos para tratamento de sementes e soluções de crédito para produtores e investidores. Com o Market+, a Indigo traz mais uma de suas linhas de produto para a região, dando mais um passo para trazer sua plataforma completa, que tem como objetivo viabilizar agricultura sustentável em larga escala, unindo sustentabilidade e lucratividade. Trata-se de uma proposta ousada, quiçá visionária, mas que parece se encaixar muito bem no caminho sem volta de um agronegócio com mais tecnologia, digitalização e sustentabilidade.

A Indigo melhora a rentabilidade do produtor, a sustentabilidade ambiental e a saúde do consumidor por meio do uso de microbiologia natural e tecnologias digitais. As descobertas científicas e as plataformas digitais da empresa beneficiam dezenas de milhares de produtores em milhões de hectares. Trabalhando em toda a cadeia de abastecimento, a Indigo está promovendo sua missão de aproveitar o poder da natureza para ajudar os produtores a alimentar o planeta de forma sustentável. Em 2019, a Indigo promoveu o evento inaugural chamado Beneficial Ag entre stakeholders para cultivar uma comunidade crescente em torno da noção de que a agricultura pode ser mais benéfica para as pessoas e o planeta, que serviu para o lançamento do Indigo Carbon - um programa que incentiva produtores a adotarem práticas de agricultura regenerativa, permitindo removerem o dióxido de carbono da atmosfera, melhorarem a saúde do solo e serem remunerados pela venda de créditos de carbono. Classificada em primeiro lugar na lista Disruptor 50 da CNBC em 2019, a Indigo está sediada em Boston (Massachusetts, EUA), com escritórios adicionais em Memphis (Tennessee, EUA); Research Triangle Park (Carolina do Norte, EUA); América do Sul (Buenos Aires e São Paulo); e Basel (Suíça).

 Indigo LATAM  – A Indigo chegou na Argentina em 2017 e no Brasil em 2018. Em 2020, a empresa decidiu unificar as operações cujas geografias são aquelas onde a oferta biológica da empresa possuem a maior penetração de mercado. A Indigo LATAM tem peso significativo no faturamento mundial da startup com biológicos e seus produtos estão presentes em mais de um milhão de hectares espalhados pelos dois países.   A principal solução da empresa, disponível em ambos os territórios, é o Indigo Ag Finance, uma ferramenta para simplificar o acesso ao crédito para o produtor rural, que o permite financiar suas sementes, biológicos e até o fertilizante, pagando apenas no prazo safra. O Indigo Ag Finance foi o primeiro produto estruturado e lançado fora da matriz nos Estados Unidos.


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