Da geração de resíduos à fertilização de hortaliças. A transformação desses materiais em adubos orgânicos conecta empresas num verdadeiro exemplo de economia circular
A produção de alimentos por uma rede de cozinhas industriais. A transformação de resíduos orgânicos em adubo sustentável, por meio de compostagem industrial. A fertilização de campos de hortaliças que abastecem restaurantes industriais. O que essas atividades têm em comum? Elas fazem parte de um importante ciclo sustentável que destina de maneira nobre um material ainda visto, muitas vezes, como um problema ambiental: o resíduo orgânico.
Em Jundiaí, a cerca de 50 quilômetros da cidade de São Paulo, três empresas de segmentos distintos conectam-se com o propósito de promover a sustentabilidade e juntas viabilizam a valorização dos resíduos, num verdadeiro exemplo de economia circular. As ações favorecem as relações socioeconômicas, gerando empregos, renda e, principalmente, a proteção ambiental.
Para compreender como esse ciclo funciona na prática e quais ganhos promove, é preciso entender o contexto em que cada uma dessas empresas está inserido, a começar pela geração dos resíduos na linha de produção da Viva Food, rede de restaurantes industriais que atua no mercado de food service nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Nas unidades da Viva Food em Atibaia, Extrema e Sorocaba, no interior paulista, são produzidas 20 mil refeições por dia, o que equivale a 10 toneladas de alimento diariamente. As atividades dos restaurantes geram resíduos, como caixa de gordura derivada da cocção dos alimentos, que, por lei, precisam ser tratados e destinados de maneira adequada. Mas, além disso, a Viva Food optou por dar uma destinação sustentável aos resíduos que gera, encaminhando-os para a reciclagem de efluentes.
É nesse contexto que se inicia a parceria com a Tera Ambiental, empresa especializada na valorização de resíduos orgânicos urbanos, industriais e agroindustriais, transformando-os, no final do processo, em adubo orgânico para a agricultura e paisagismo, por meio da compostagem. A Tera atua há mais de 20 anos no segmento e é pioneira no processo. Dessa forma, o que antes era indesejado, encaminhado aos aterros sanitários sem nenhuma utilidade e ainda gerando um passivo ambiental torna-se fertilizante composto que ajuda a fomentar o agro brasileiro.
A parceria entre as empresas acontece há oito anos. Em 2022, a Tera tratou 149 m³ de efluentes (caixa de gordura) gerados nas unidades da Viva Food. O volume, após processado, gerou 12 toneladas de lodo que, compostado junto a outros resíduos, resultou em quatro toneladas de fertilizantes orgânicos compostos.
Após os resíduos serem transformados em adubos orgânicos, são comercializados pela Tera e utilizados na fertilização dos solos de diversas propriedades rurais de São Paulo e Sul de Minas Gerais. Dentre elas, a ItaHorta, sítio em Itatiba, no interior paulista, que produz hortaliças para restaurantes industriais, como a Viva Food. Ao todo, são destinadas à rede de restaurantes 2,5 toneladas de hortaliça folhosas mensais, sendo 1,2 tonelada somente de alface. Sendo assim, o resíduo transformado em novo produto fertiliza a produção de alimentos que voltam para o início da cadeia, na preparação das refeições dos restaurantes, fechando o ciclo sustentávelde economia circular.
Economia circular na prática – O Brasil gera grande quantidade de resíduos orgânicos, tanto líquidos quanto sólidos, que podem e devem ser reaproveitados. Contudo, a reciclagem ainda é um processo pouco utilizado. “É importante que as empresas e iniciativas públicas estejam engajadas em promover a sustentabilidade por meio do reaproveitamento dos seus resíduos. O lodo, gerado no tratamento dos efluentes orgânicos, tem enorme potencial de reciclagem. Não podemos desperdiçar essa rica matéria-prima, destinando-a aos aterros sanitários, onde não será reaproveitada. A reciclagem desses materiais é essencial para o meio ambiente e economia circular e precisa ser colocada em prática, para que ciclos sustentáveis sejam cada vez mais frequentes”, comenta Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos e gerente da Tera Ambiental.
Guilherme Truffi, CEO da Viva Food, certificada pela ISO 9001 (qualidade) e 14001 (meio ambiente), explica que o engajamento às práticas ESG (no termo em português, “Ambiental, Social e Governança Corporativa”) faz parte da cultura da empresa e que a parceria com a Tera somou-se a esse compromisso. “Temos total responsabilidade com o meio ambiente, além de ser uma questão legal. Mesmo quando não tínhamos essa volumetria, a Tera Ambiental nos explicou os processos, cuidados e nos ajudou a montar o melhor fluxo de tratamento dos resíduos, nos apoiando desde o início. É uma prática que, além de sustentável, é totalmente viável quanto a custos e processos”.
A Viva Food atuou como importante incentivadora na viabilização do fechamento desse ciclo. “Trabalhamos em conjunto para fazer o melhor pelo meio ambiente, sem perder de vista os processos para redução dos custos operacionais. A parceria se estreitou ainda mais nesse projeto circular sustentável”, afirma Truffi.
Para Fernando Henrique Brocenschi, proprietário da ItaHorta, a iniciativa é relevante, pois, além de dar um destino sustentável e produtivo aos resíduos gerados, mostra a preocupação ambiental das empresas, garantindo um planeta melhor para as próximas gerações. “Deixamos de agredir o meio ambiente, diminuindo a adubação química das plantações e, o mais importante, dando destino correto aos resíduos. Sem dúvida, o consumidor valoriza nosso produto, tendo em vista nossa preocupação com a qualidade da vida”.
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