Como dados melhores vão reduzir taxas de crédito caras e desbloquear mais crescimento para os agricultores brasileiros

Por Fakhul Miah, CEO da CreDA (Credit Data Alliance)

 

Não é segredo que o setor agrícola brasileiro tem uma boa reputação merecida por causa do seu crescimento impulsionado pela inovação. Alavancado pelo investimento em novas tecnologias e técnicas científicas avançadas, o setor responde hoje por cerca de um quarto do PIB do país e responde por 16% do total das exportações globais de alimentos e produtos agrícolas – logo atrás dos Estados Unidos e da União Européia – como o terceiro maior exportador do mundo neste setor.

Um relatório recente da AgriBrasilis descreveu, de forma apropriada, como o “espírito pioneiro e a competência científica do Brasil na agricultura tropical; juntamente com o fortalecimento do ecossistema de inovação agrícola brasileiro baseado na estrutura para fomentar o empreendedorismo e o apoio institucional dos setores governamentais” levou sua indústria a ser o sexto maior mercado nacional para Venture Capitalists que investem em agrotech/agtech.

Há, no entanto, uma área em que os agricultores têm sido até agora negligenciados pelos mais recentes avanços tecnológicos: a da obtenção de taxas de crédito competitivas que precisam para continuar fazendo seus negócios crescerem e investirem neste setor pioneiro. De fato, de acordo com o IEA (Instituto de Economia Agrícola) do Brasil, o custo do crédito para o setor agrícola deve aumentar em até dois terços (67,7%) em relação ao ano passado, e isso através de programas do próprio governo. Os agricultores do país que compram no mercado livre provavelmente verão taxas de juros três vezes maiores do que essa.

Infelizmente, embora os mercados possam ser um problema, muitas vezes são dados ruins que decepcionam os agricultores. Devido à falta de dados precisos, confiáveis e oportunos para apoiar suas solicitações de crédito, milhares de fazendas viáveis e lucrativas são forçadas a pagar duas ou até três vezes a taxa básica. Simplificando, melhores dados significariam aplicações mais precisas, menor risco e taxas mais baixas, desbloqueando ainda mais crescimento para os agricultores.

Mas dados melhores estão a caminho e queremos mostrar como isso beneficiará mais do que apenas as classificações de crédito dos agricultores, mas também estimulará um círculo virtuoso de transparência e precisão, autonomia e responsabilidade, o que levará a um futuro melhor para os agricultores do Brasil, seus clientes e investidores.

Como especialistas em ratings de crédito, estamos entusiasmados com nossa nova parceria com especialistas em captura e análise de dados para o setor agrícola, a Ager Solution. Juntos, estamos ansiosos para começar a oferecer melhores dados aos agricultores do Brasil e uma maneira simples de acessar e incorporar dados altamente precisos em tempo real em um programa de crédito acessível.

Todos nós vimos muitas vezes o mesmo padrão nas últimas duas décadas na agrotech/agtech brasileira: a tecnologia aplicada ao meio ambiente sob o manejo de agricultores experientes é a chave para o crescimento. E agora, uma melhor tecnologia de captura de dados é a chave para fornecer crédito mais acessível a milhares de agricultores que desejam expandir seus próprios negócios.

A tecnologia já está aqui e é apenas uma questão de aplicação. Por exemplo, a moderna tecnologia Web3 permitirá a extração, análise e incorporação de fontes de dados múltiplas e alternativas, incluindo, entre outros, cadastros locais de terras, históricos financeiros e de negócios, preços de safras, qualidade do solo e, até mesmo, contingências climáticas – tudo isso pode dar suporte a novos modelos de classificação de crédito com dados muito mais precisos e oportunos do que os que os agricultores estão usando atualmente.

A extração de dados também mudará. Uma empresa como a Ager Solutions é capaz de empregar várias tecnologias de sensoriamento remoto – incluindo drones de última geração – para rastrear e extrair pontos de dados em áreas altamente sensíveis e mutáveis, como qualidade do solo e condições meteorológicas.

E através do uso da nova tecnologia blockchain, como identificadores descentralizados (DID), somos capazes de criar identidades distintas e imutáveis tanto para a terra quanto para o agricultor, que serão validadas e conectadas por meio de dados cadastrais no banco de dados Sicar (Cadastro Ambiental Rural), o cadastro rural do Brasil, além de garantir total privacidade e transparência para os agricultores. Em suma, os agricultores poderão medir e rastrear o status de suas terras em tempo real, bem como ver sua classificação de crédito potencial, tudo derivado dos mesmos dados transparentes e fáceis de entender.

Ao contrário do passado, serão os próprios agricultores que controlarão e serão proprietários dos dados, e a forma como agora podemos coletar dados reativos e sensíveis também mostrará a eles como suas práticas agrícolas (incluindo o uso desses dados) estão afetando o custo de seu crédito.

Essa abordagem não apenas criará mais valor de mercado para as terras brasileiras, e agora também ajudará os agricultores a ter acesso a crédito mais acessível, mas acreditamos que ela tem o potencial de fornecer mais integridade para abordagens agrícolas ecologicamente corretas como um todo, beneficiando assim o ecossistema mais amplo. A terra que foi manejada e mantida ecologicamente criará um valor de mercado mais alto do que aquela que não foi; e todos os dados de suporte serão registrados e validados por meio do blockchain.

O resultado: um círculo virtuoso onde todos os participantes são incentivados e recompensados pelo cultivo da terra, e onde as boas práticas são visíveis para todos. A tecnologia agora está disponível para capturar esses dados melhores e os agricultores do Brasil continuam a ter mais propriedade e controle sobre seus próprios negócios, o que, por sua vez, os ajudará a continuar avançando na economia agrotecnológica/agtech brasileira líder mundial. Acreditamos que é hora de aplicar essa tecnologia e ajudar dados melhores a desbloquear um novo crescimento para os agricultores do Brasil.


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