Aporte internacional contra desmatamento só continuará a chegar ao Brasil se a pecuária bovina sustentável se tornar regra no País
Por Eduardo de F. Caldas, Coordenador para o Brasil da Tropical Forest Alliance (TFA)
O Brasil tem enfrentado uma crescente pressão internacional devido ao desmatamento, em especial, na Amazônia. Para combater o desmate, investimentos têm sido anunciados recentemente, principalmente, por fundos internacionais voltados à preservação do meio ambiente. A reativação do Fundo Amazônia foi uma das boas notícias recentes. Entretanto, o recebimento contínuo desses aportes está condicionado à adoção de práticas sustentáveis pela cadeia produtiva de carne bovina no País, uma vez que, historicamente, ela é uma das responsáveis pelo desmatamento.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a partir de 2019, a área de derrubada da Floresta Amazônica deu um salto e se manteve acima dos 8 mil km², chegando a 10.267 km², em 2022. Essa é uma devastação equivalente a uma área de quase sete vezes a cidade de São Paulo. Esse e outros dados alarmantes chamaram a atenção da comunidade internacional, resultando em pressões e questionamentos sobre a capacidade do Brasil em combater o desmatamento e promover a sustentabilidade na produção agropecuária.
O anúncio recente do aporte de £80 milhões (cerca de R$ 500 milhões) do Reino Unido ao Fundo Amazônia, por sua vez, reforça a importância da existência de uma pecuária bovina sustentável para garantir investimentos estrangeiros contínuos na preservação do bioma amazônico. Com uma nova agenda nacional e políticas voltadas às cadeias mais sustentáveis, o Brasil tem, agora, a oportunidade de demonstrar seu compromisso com a melhoria da conservação ambiental, abrindo portas para uma parceria cada vez mais sólida com investidores internacionais.
Além do Fundo Amazônia, outros investimentos têm sido direcionados ao Brasil, incentivando a adoção de práticas sustentáveis na pecuária bovina. Empresas e organizações têm demonstrado interesse em financiar projetos de produção que valorizem a conservação ambiental e promovam o bem-estar animal. Essa mudança de mentalidade representa uma oportunidade para os produtores que buscam uma diferenciação no mercado internacional, uma vez que consumidores e mercados cada vez mais exigentes demandam produtos provenientes de cadeias produtivas responsáveis. Esperamos que essa “diferenciação” seja cada vez mais incorporada nos sistemas produtivos correntes e o Brasil possa consolidar sua liderança nessas práticas.
Um bom exemplo para a consolidação de práticas sustentáveis e transparência é a The Beef Alliance, uma iniciativa apoiada pela Tropical Forest Alliance (TFA) e parceiros, que visa promover o diálogo e construir uma cadeia de produção mais responsável e saudável entre o Brasil e a China, os maiores exportadores e importadores de carne bovina do mundo, respectivamente. Financiado pelo Programa Partnerships for Forests (P4F), a The Beef Alliance é o resultado de uma parceria com o Imaflora, empresas e outras instituições para contribuir com as empresas em ações positivas do setor, buscando eliminar a degradação de biomas ligada ao comércio de carne, garantindo assim uma relação comercial segura e sustentável entre os dois países.
A pecuária bovina sustentável não apenas contribui para a preservação do meio ambiente, mas também gera benefícios econômicos e sociais. Além disso, a produção responsável permite o acesso a mercados cada vez mais exigentes, como a União Europeia, que tem regras rigorosas em relação à rastreabilidade e sustentabilidade dos produtos agropecuários.
É importante ressaltar que o produtor desempenha um papel central nesse processo. Ao adotar práticas sustentáveis, ele não apenas contribui para a conservação ambiental, mas também garante a própria sustentabilidade de sua atividade, tornando-se parte de uma cadeia produtiva alinhada com as demandas globais. É importante que o produtor possa estar ciente desses benefícios e concretamente participar deste movimento. Ainda há um caminho para que o produtor possa perceber que é o agente central. Os benefícios da rastreabilidade e da preservação de sua propriedade devem estar no dia a dia de seu trabalho.
Dessa maneira, fica cada vez mais evidente que a adoção de práticas sustentáveis na pecuária bovina é fundamental para atrair investimentos internacionais e combater o desmatamento. Apenas com uma abordagem responsável será possível garantir o recebimento contínuo de investimentos internacionais destinados tanto ao combate do desmatamento na Amazônia quanto em outros biomas, e, ao mesmo tempo, abrir novas oportunidades comerciais em um mercado global cada vez mais exigente e consciente.
–