Os históricos desafios do agronegócio brasileiro
Por Renato Dias dos Santos*
A agricultura brasileira possui problemas estruturais que atingem silenciosamente a rentabilidade de todo o agronegócio.
Isto porque os grandes desafios do setor estão ligados, principalmente, à ineficiência da logística em todo o território nacional, à falta de armazenagem estática, aos entraves do seguro agrícola e às dificuldades relacionadas ao crédito rural, tratando-se, portanto, de uma conjuntura que remonta à própria formação da nossa economia agrícola.
Cabe mencionar que a logística é tida como uma das mazelas do agronegócio brasileiro em razão da baixa qualidade de escoamento de suas safras, o que decorre, principalmente, da precária infraestrutura de que dispomos. Por isso, apesar do grão brasileiro ser muito competitivo dentro da porteira, a cadeia de transporte encarece esses produtos para deixá-los com o valor similar ao de outros países. Ou seja, maiores custos logísticos reduzem a margem de lucro do produtor rural.
Destaque-se, também, que não há como tratar dos problemas enfrentados pelo agronegócio sem falar da capacidade deficitária de armazenagem de grãos por todo o país. A insuficiência de armazenagem das safras dificulta a proteção do produtor rural contra a volatilidade do mercado, vez que não consegue deixar de vender safras no baixo preço ofertado no mercado futuro. É dizer, à míngua de armazenagem, o único caminho que resta ao produtor rural é a venda da safra no preço à vista, o que lhe deixa exposto a uma baixa margem de lucro.
E mais, na análise aqui proposta é preciso ressaltar que o clima é o maior fator de risco para o desenvolvimento da agricultura. Por isso é tão importante a celebração de seguro agrícola, cuja indenização é compatível com o volume da perda da safra. Entretanto, dado seu alto custo, somente uma pequena parcela das lavouras brasileiras são seguradas, o que revela alta exposição aos reveses climáticos nas diferentes regiões do Brasil.
Por fim, tem-se a questão do crédito rural. No geral, embora tenha patrimônio com alto valor agregado (tais como a propriedade rural e ativos físicos imobilizados), o produtor rural brasileiro não tem liquidez. Por isso, para produzir suas safras, os agricultores dependem de grande volume de capital de giro para financiar a compra de sementes, fertilizantes, defensivos etc. Logo, não é exagero dizer que o insumo mais importante da safra brasileira é o crédito. A questão é que o custo do crédito impacta diretamente na rentabilidade do produtor rural, notadamente, em razão da maior exposição a maiores taxas de juros.
De tudo o que foi visto até aqui é possível depreender que essas questões são intimamente ligadas ao desenvolvimento da safra, a ponto de prejudicar o sucesso de todo o agronegócio.
Margens menores decorrentes da falta de crédito, armazenagem e logística com alto valor agregado reduzem a oportunidade de investimentos dos produtores rurais com capital próprio.
Com menos investimentos, os produtores rurais continuarão com baixa capacidade de armazenagem e sujeitos a um crédito muito caro, mantendo baixas suas margens de lucro. As margens baixas dificultam a contratação do seguro agrícola, mantendo produtores e, consequentemente, toda a cadeia do agro exposta, por exemplo, às dificuldades climáticas (estiagens, excesso de chuvas, granizos, geadas etc.). Por sua vez, a ausência de seguro agrícola contribui para maior insegurança no setor, elevando o custo do crédito, que passa a computar o risco de perda da safra.
Como se vê, a conjugação dos quatro itens aqui articulados afeta diretamente o agronegócio, vez que reduzem muito a margem de lucro dos produtores ano após ano – ainda mais agora, com o elevado preço da safra.
É dizer, a redução da rentabilidade diminui a margem do produtor rural para investimentos e para o enfrentamento de crises econômicas, o que o deixa dependente de um modelo de negócio estruturalmente deficiente.
As dificuldades são muitas e a solução para o produtor rural sempre é a melhor gestão do seu agronegócio. No geral, impera a máxima de que o agro não pode parar, mas a consistência dessa caminhada depende da maximização da força do agro por meio de políticas públicas que subsidiem o motor da economia brasileira.
–
–