Crescimento da soja brasileira e as oportunidades do mercado Chinês
Por Brasil Agro Society Environment (BASE)*
O Brasil é, atualmente, o maior fornecedor de soja in natura para China, matéria-prima rica em proteína e imprescindível para a alimentação de animais. O intuito aqui é demonstrar o quanto o país é dependente do Brasil nesse contexto e como o Brasil tem potencial de, aos poucos, diminuir o percentual de fornecimento de matéria-prima e aumentar o fornecimento de proteína animal, gerando mais empregos aqui e aumentando a segurança sanitária alimentar mundial. Esse texto tem como objetivo demonstrar a cadeia da soja brasileira e suas oportunidades. O mundo está passando por uma crise sem precedentes e tudo indica que é causada por um mau controle sanitário em produções de alimentos na China.
Em 30 anos, o Brasil cresceu mais de 500% em seu volume de produção de soja , conforme dados da Embrapa Soja. Entre 1979 e 1990 produzimos 20 milhões de toneladas ano e na safra de 2020/21 produzimos 137 milhões de toneladas. Para isso, tivemos um aumento do cultivo dessa oleaginosa no mesmo período na ordem de 200% e um ganho de produtividade de 90%. Todo esse sucesso se deve a várias políticas de incentivo à produção implementadas pelo Brasil como, por exemplo, a criação da Embrapa e a Lei Kandir, que exonerou de tributação os produtos destinados à exportação e principalmente ao espírito desbravador do Produto Rural que multiplicou o cultivo da soja por todo Brasil. Contudo, nada disso teria efeito se não houvesse uma gigante demanda mundial impulsionada, principalmente pela China.
Há algum tempo somos os maiores exportadores dessa oleaginosa, tendo a China como nosso maior importador. Neste ano, segundo o Sumário Executivo da China Agricultural Outlook 2021-2030 a China consumirá 110 milhões de toneladas de soja com uma produção de apenas 17 milhões de toneladas.
A soja é cobiçada por ser rica em proteína e óleo. Essa proteína vegetal é imprescindível para a criação em grande escala de aves, bovinos e suínos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a quarta estimativa da safra 2021/22 demonstra que a soja terá um aumento de 3.8% de área semeada.
Quando industrializamos a soja através do esmagamento, obtemos o farelo de soja, rico em proteína, e o óleo de soja, que é hoje a principal matéria-prima do biodiesel. Atualmente 71% de todo biodiesel brasileiro é produzido utilizando o óleo de soja e o restante extraídos através de sebo bovino e outros óleos. O consumo do biodiesel no Brasil é regulamentado por lei.
Em 2021 a mistura estabelecida no óleo diesel está em 12% (B12) e esse percentual irá atingir 15% (B15) em 2023.
A grande vantagem do incremento do biodiesel ano a ano na mistura com o óleo diesel é que vamos precisar aumentar a industrialização de soja e, consequentemente, teremos uma maior oferta de farelo, oferecendo, assim, um número bem maior de matéria-prima para a produção de carnes.
Iremos promover um ambiente de competição muito favorável, atendendo às normas ambientais e à balança comercial brasileira, reduzindo a importação de óleo diesel e aumentando as exportações de nossas carnes, o que contribui para melhorar nossos índices econômicos. O Biodiesel é um combustível extremamente ecológico, assunto que está hoje em discussão em todos os países do mundo, ele proporciona os seguintes benefícios ambientais:
- Renovável: Balanço de Carbono Zero (Não impacta o efeito estufa);
- Alta miscibilidade com o Diesel: Permite desde uma rápida introdução em modelos convencionais, até o uso puro em motores a diesel;
- Composto Oxigenado: Reduza as emissões brutas de poluentes e tem boa octanagem (permite bom desempenho);
- Não contém Enxofre: Não contribui na emissão de SOx e não afeta o desempenho dos catalisadores.
Além de todas as vantagens inerentes a industrialização no Brasil, precisamos olhar para o alto risco estratégico que nossos produtores têm, por estarmos extremamente dependentes do consumo de soja Chinês, estamos falando que quase 80% da Soja Exportada Brasileira é adquirida por um único país.
Se por alguma razão, como por exemplo o que aconteceu no passado recente com a gripe suína, a China reduzir drasticamente seu consumo, o Brasil terá sérios problemas para escoar sua matéria prima.
É importante destacar também que a China vem há algum tempo adquirindo a maioria das empresas de insumos agrícolas, isso é muito temerário pois ela poderá no futuro próximo dominar toda essa cadeia de insumos e arbitrar toda a margem do setor. Transformando nossos produtores em meros coadjuvantes nesse jogo, que com certeza, temos tudo para sermos protagonistas! A chance desse país alavancar sua economia vem da força do agronegócio.
Sugestão de proposta para o Brasil que poderia auxiliar os produtores e o país
- Criar um acordo comercial com a China no qual, para cada X volume de soja comprado, ela também seja obrigada a comprar um volume Y de Carnes;
- Antecipar o incremento de biodiesel no óleo diesel previsto para os próximos anos, contribuindo para o aumento do processamento de soja e outros óleos;
- Criar um acordo comercial com a China, a partir do qual ambos os países zerem as taxas de tributação de importações de carnes e produtos eletrônicos.
Especula-se, fortemente, que o Covid-19 surgiu em mercados que comercializam animais silvestres vivos no interior da China. Esses mercados tiveram um aumento significativo de demanda devido à recente gripe suína que dizimou quase metade do rebanho chinês. Com os preços da carne suína elevados, a população teve que buscar alternativas mais baratas para seu sustento. Com isso, o Brasil teve uma grande oportunidade de mostrar para esse mercado a qualidade e sanidade de nossas carnes, aumentando exponencialmente sua comercialização entre os dois países. A ideia era que, após a conquista desse difícil mercado chinês, esses volumes de negócios não mais diminuíssem; pelo contrário, a expectativa era de que só aumentassem devido à nossa alta competitividade na produção de proteínas de origem animal. Mas, recentemente, o China Agricultural Outlook 2020-2029, que detalha os planos chineses para a próxima década, divulgou que vai aumentar ainda mais a importação de soja in natura do Brasil, chegando, muito em breve, a mais de 100 milhões de toneladas de soja, reduzindo, consequentemente, a importação de carnes.
De forma alguma, podemos permitir que tal fato se concretize. Devemos, através de acordos, exigir a reciprocidade de comercialização de produtos in natura x produtos acabados. Esses coeficientes seriam estabelecidos ano a ano, de forma que não perdêssemos o que conquistamos nesses últimos anos (23,10 mil toneladas de carne por milhão de toneladas de soja).
Da mesma forma que a China tem vocação para fabricar produtos eletrônicos em larga escala, o Brasil tem vocação para elaborar produtos de alta qualidade e preço na cadeia do Agronegócio, mais especificamente nas carnes em geral. O acordo bilateral tornou-se imprescindível após essa grande guerra comercial EUA x China. Poderíamos, perfeitamente, trocar produtos eletrônicos por carnes sem nenhuma tributação e nos tornar um país muito atraente na revenda desses produtos de alto valor agregado. Seríamos procurados pelo mundo todo por vender celulares, tablets, computadores, TVs e diversos outros eletrônicos com preços muito convidativos, assim como Miami e Nova Iorque fizeram no passado recente. Com isso, teríamos como explorar nosso turismo em diversas cidades brasileiras, impulsionados pelas vendas desses produtos chineses. Assim, teríamos como garantir mais emprego e renda para o nosso país, inclusive suprindo o déficit gerado pela isenção de impostos dos produtos supracitados.
Como já mencionado acima, aumentando a mistura do biodiesel, o Brasil se tornaria um país reconhecido mundialmente por sua matriz energética ECOLOGICAMENTE correta. Poderíamos, sim, expandir nossa agricultura em áreas de pastos degradados e confinar nossos rebanhos, já que teremos o farelo e milho disponíveis em abundância. Dessa forma, teríamos certamente um incremento gigantesco na indústria de proteína animal brasileira, com o intuito de gerar sempre mais emprego e renda para os brasileiros.
(*) Conteúdo produzido pelos integrantes da instituição Brasil Agro Society Environment (BASE). O papel do projeto é promover o diálogo entre o agronegócio, a sociedade e o meio ambiente, mostrando a todos a importância do agronegócio sustentável.
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