Como o Brasil pode mudar seu papel no mercado global de trigo?
Por Isadora Jaeger
O Brasil é um dos principais produtores de commodities agrícolas do planeta e deverá ser líder na exportação de grãos dentro dos próximos cinco anos. O País é reconhecido como o “celeiro do mundo”, pois estima-se que a produção agrícola do país alimenta 800 milhões de pessoas todos os anos, quase quatro vezes a sua população, segundo estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O destaque está na exportação de soja, açúcar, café e carnes bovina e de aves, nos quais somos líderes mundiais. Entretanto, não somos autossuficientes na produção de um cereal presente na mesa de nossas famílias diariamente. Estamos falando do trigo, o segundo cereal mais plantado em todo o mundo segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
No ranking mundial, estamos na 16ª posição entre os países produtores de trigo com uma previsão estimada de 6,3 milhões de toneladas na safra 2020/21, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) graças à contribuição dos principais produtores: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Juntos, representam 90% da área plantada no Brasil. O restante é distribuído entre sudeste, centro-oeste e nordeste do país.
Para suprir a demanda interna estimada em 12,7 milhões de toneladas em 2021, o País importa anualmente mais de 6 milhões de toneladas, metade do que é consumido, segundo projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os principais fornecedores são a Argentina, responsável por 75,34%; os Estados Unidos com 10,30%; e os outros 15% restantes divididos entre Paraguai, Rússia, Uruguai e Canadá, segundo dados de 2020 da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Portanto, teremos um déficit de aproximadamente 6,4 milhões de toneladas nesta safra, mesmo com a expansão da área plantada em 8,1%, comparada com a safra 2019/2020.
Então, se vários estados produzem trigo e há expectativa de ampliação de áreas plantadas, por que ainda dependemos tanto da importação? Diversos são os fatores: a baixa competitividade dos preços do cereal no Brasil desestimula os produtores a expandirem a área plantada; os acordos do Mercosul com baixas taxas para a importação do trigo argentino e a insegurança em função das variações climáticas que trazem geadas no sul e maior risco de incidência de doenças, assim como seca no centro-oeste que dificulta a expansão das áreas na região.
Porém, há boas notícias no horizonte. O cenário de produção do trigo no País vem mudando e está se transformando em um mercado competitivo. Com a alta do dólar gerada pelo cenário econômico mundial decorrente da pandemia de Covid-19, os produtores do Rio Grande do Sul, atentos ao mercado, ampliaram suas áreas dedicadas ao plantio de trigo, movimento seguido pelos produtores do cerrado.
Em outra frente, produtores estão expandindo área de cultivo nas regiões mais quentes do País, que, segundo pesquisas da Embrapa, têm potencial para produzir mais de 2 milhões de hectares. Isso foi possível devido aos intensos trabalhos de melhoramento para cultivares adaptadas a essas regiões conduzidas pela Embrapa e por entidades privadas. O trigo é mais uma alternativa nos sistemas de rotação de cultura da região, que poderá ocupar áreas normalmente descobertas durante o período de inverno, trazendo ainda benefícios para incremento de matéria orgânica no solo e redução da pegada de carbono. Nesse modelo, a cultura integra-se no planejamento de plantio dos produtores em áreas maduras e já agricultáveis. A produtividade média do cereal no País é um pouco mais de 2,5 toneladas por hectares (ton/ha). No Nordeste, já existem áreas que atingiram produtividades de até 6 ton/ha. A região tem potencial para produzir até 2 milhões de hectares, segundo estudos da Embrapa.
Outro fator que nos torna mais dependentes da importação é a qualidade da farinha aqui produzida. Em geral, o cereal brasileiro apresenta baixa qualidade para panificação, devido à baixa concentração de glúten e proteínas. Apenas 30% do cereal nacional possui qualidade de panificação, segundo a Abitrigo. Devido ao clima mais seco durante o período de maturação do grão, as regiões do cerrado ainda têm capacidade para produzir um trigo de alta qualidade, comparado ao cereal canadense, considerado o melhor do mundo.
Além da Embrapa, empresas de biotecnologia estão trazendo inovações para auxiliar na ampliação da produção nacional de trigo em áreas que ainda não foram consideradas possíveis em função de solo e clima. Com a chegada dessas tecnologias, poderemos ter uma produção de trigo com alta qualidade. A confluência desses fatores irá reduzir a dependência das importações.
Sol, solo, novos cultivares e produtores comprometidos – já temos tudo isso. Agora, vamos trabalhar juntos para expandir a produção nacional e sermos também protagonistas no cenário global com esse grão, fazendo jus ao nosso papel de celeiro do mundo e em sermos responsáveis por alimentar grande parte da população mundial.
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