Estudo resulta em recomendação de aplicações anuais de boro, manganês e zinco

Diversos fatores são levados em consideração na produção citrícola, sendo que alguns podem ser quase imperceptíveis a olho nu. Porém, os pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, estão atentos a todas as etapas do cultivo e alertam sobre a importância de suprimentos de micronutrientes no solo e nas folhas para a saúde dos pomares. Estudos do IAC mostram que boro, manganês e zinco são os micronutrientes mais limitantes à produção de citros. Os resultados são fruto do levantamento realizado com amostras enviadas aos laboratórios do IAC por produtores do Cinturão Citrícola Brasileiro, no Estado de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais. As amostras enviadas pelos citricultores representam de 10% a 15% da área de citros plantada no Brasil.

Os laboratórios de solo e planta do IAC são referências no Brasil e adotam métodos analíticos desenvolvidos no Sistema IAC. Segundo o pesquisador do IAC, Rodrigo Marcelli Boaretto, o levantamento é fundamental para embasar as orientações aos citricultores, considerando que o desequilíbrio nutricional, causado por falta ou excesso de algum nutriente, pode comprometer a produtividade e a qualidade dos citros. “Pelo levantamento realizado, verificamos que cerca de 25% das amostras de solo enviadas para os laboratórios do IAC apresentaram teores de boro e manganês inferiores ao adequado, enquanto para o zinco esse valor ficou próximo de 50%”, diz. Já para as folhas, a porcentagem média de amostras com teores de micronutrientes inferiores ao adequado foram de 8,2%, 22,4% e 36,7%, respectivamente para boro, manganês e zinco.

De acordo com Boaretto, o salto da produtividade na citricultura brasileira é um dos fatores que mais impactam na deficiência de micronutrientes. Na safra 2019/2020, a produtividade média no Cinturão Citrícola foi de 42 toneladas, por hectare, enquanto que no começo da década de 1980 essa produtividade era inferior a 20 toneladas, por hectare, por ano. Outros fatores também podem intensificar a demanda por micronutrientes, como precocidade da produção, mudanças climáticas e cultivo de materiais mais exigentes em micronutrientes. Por exemplo, o porta-enxerto Citrumelo Swingle, que representa cerca de 70% dos novos plantios, apresenta maior demanda de boro do que o limão Cravo, porta-enxerto que anteriormente ocupava em torno de 90% dos pomares nacionais.

O pesquisador comenta que, associado a fatores que vêm intensificando a demanda de micronutrientes pela cultura dos citros, observa-se um aumento no número de produtos na mistura do tanque de pulverização, devido à maior incidência de problemas fitossanitários. Esse procedimento eleva as chances de incompatibilidade entre os componentes e pode diminuir a eficiência na absorção dos micronutrientes pelas folhas. “Embora a adubação foliar tenha sido sempre realizada em conjunto com a aplicação de defensivos, a fim de diminuir os custos operacionais, esse procedimento afeta a eficiência de absorção dos nutrientes pelas folhas”, afirma.

Os pesquisadores recomendam que as correções de zinco e de manganês devem ser feitas via pulverização foliar. Já o boro deve ser aplicado preferencialmente via solo. “No entanto, aplicações foliares com boro podem ser realizadas em situações nas quais não consigam fornecer quantidade suficiente desse nutriente via solo”, orienta o pesquisador. Na média, os produtores gastam de R$ 100,00 a R$ 400,00 com os micronutrientes, dependendo do manejo, produtividade e idade do pomar.

A equipe de nutrição dos citros do IAC vem, ao longo dos últimos 20 anos, buscando informações a fim de estabelecer parâmetros de otimização de adubação dos pomares. As pesquisas contam com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e parcerias com a iniciativa privada.

As atuais recomendações do IAC sugerem que em pomares em formação, com idade inferior a quatro anos, sejam feitas de quatro a seis aplicações anuais com boro, manganês e zinco nas folhas. Esse manejo deve ser adotado de setembro a maio. Em pomares em produção, a recomendação é de três a quatro pulverizações com manganês e zinco, por ano. Essas aplicações devem ser feitas desde o início da primavera até o final das chuvas, procurando atingir as brotações novas, com as folhas já expandidas na planta. Para a maior eficiência de absorção dos micronutrientes, essas aplicações foliares devem proporcionar bom molhamento das plantas.

“As dosagens de adubação foliar com micronutrientes consistem em preparações de soluções contendo os nutrientes nas proporções, por litro, de 200 a 300 miligramas de boro; de 300 a 700 miligramas de manganês; e de 500 a 1000 miligramas de zinco; além do adjuvante à base de ureia de cinco gramas, por litro”, explica o pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

Ainda segundo Boaretto, a maior incidência de Cancro Cítrico e outras doenças fúngicas vem intensificando o uso de defensivos à base de cobre nos pomares do Cinturão Citrícola Brasileiro, o que vem elevando os teores de cobre, tanto no solo quanto nas folhas, para valores muito superiores daqueles considerados adequados. “O produtor deve dar atenção ao uso intensivo de defensivos à base de cobre, buscando associar outras estratégias de manejos fitossanitários, a fim de reduzir as quantidades deste micronutriente, pois, em algumas situações, ele pode comprometer a produtividade dos pomares brasileiros”, orienta.


Assessoria de Comunicação
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo