A constante evolução do PCV2 e as vacinas contra circovirose
Por Heloiza Nascimento
O primeiro diagnóstico para o vírus PCV2 no Brasil ocorreu em 1999 pela equipe da EMBRAPA Suínos e Aves. Porém, sinais clínicos provocados por ele, como a síndrome multissistêmica do definhamento suíno (SMD), pneumonias e outras doenças secundárias associadas e agravadas pela circovirose surgiram somente em 2005.
Desde o lançamento das vacinas comerciais para leitões contra a circovirose em 2008, a produção brasileira de suínos tem garantido a sanidade de seu plantel por meio da vacinação, e assim, assegurado a entrega de índices zootécnicos satisfatórios e lucrativos nas granjas.
Com o passar dos anos, no entanto, ocorreu o surgimento de variantes do PCV2. Atualmente, já se trabalha a existência de oito genótipos do vírus (PCV2a, PCV2b, PCV2c, PCV2d, PCV2e, PCV2f, PCV2g e PCV2h – Franzo e Segalès, 2018), com destaque para os genótipos PCV2b e PCV2d.
Os diferentes tipos de vírus podem estar presentes na mesma granja e os suínos serem infectados por mais de um genótipo do PCV2. Após a implementação da vacinação dos plantéis, a forma clínica da circovirose foi controlada, porém os casos subclínicos vêm chamando a atenção de médicos-veterinários no campo, que observaram um aumento dos linfonodos, detectados durante necropsias e também a presença de animais virêmicos no plantel.
As modificações genéticas que vêm ocorrendo no PCV2 alteram sua aparência perante o sistema imune, ou seja, promovem a mudança de aminoácidos localizados em epítopos (parte do vírus que é reconhecido pelo sistema imune dos suínos), responsáveis pela ativação do sistema imunológico. E isto pode não resultar numa resposta imune ideal.
Considerando que todas as vacinas disponíveis no Brasil são produzidas a partir de um único genótipo de PCV2 (PCV2a ou PCV2b), a cobertura vacinal disponível hoje pode não mais atender à necessidade real de proteção do plantel contra os genótipos prevalentes.
Estudos têm demonstrado que existe proteção cruzada a partir de vacinas com o genótipo PCV2a (maioria das vacinas comercias no Brasil) para os demais genótipos circulantes no País, que são o PCV2b e o PCV2d. Porém, mais importante que a homologia entre o vírus vacinal e o vírus de campo é a similaridade entre os pontos do PCV2 reconhecidos pelo sistema imune do suíno (epítopos) e os pontos que o vírus vacinal contém. Essa similaridade serve para prever a resposta imune e traçar a cobertura das vacinas contra os PCV2a, PCV2b e PCV2d.
Estudos prévios feitos nos Estados Unidos indicam que para uma melhor proteção contra a circovirose, uma vacina contendo apenas um único genótipo de circovírus confere menor proteção do que uma vacina que contenha dois genótipos diferentes do PCV2.
O que chama a atenção dos veterinários é o fato de um patógeno antes considerado controlado, ser hoje causa de prejuízos e de preocupação para a suinocultura brasileira e mundial. Por ser um vírus com grande potencial de mutação, investimentos em pesquisa, diagnóstico e prevalência, além de novas vacinas comerciais, se fazem ainda mais necessários.