Economia circular: produção responsável e menor impacto ambiental

Por Renata Nishio

 

Renata Nishio, gerente de Destinação Final e Desenvolvimento Tecnológico do inpEV © Divulgação

Apenas a adoção de medidas efetivas que representem mudanças em nossos modelos de produção e consumo podem afastar o risco de impactos ambientais que comprometam a saúde do planeta. Está mais do que na hora de ampliarmos iniciativas focadas em reverter projeções, como a da ONU, que indica que em 2050 deveremos ter mais plástico do que peixes no mar. Diante da previsão de que a população mundial vai passar de 7,7 bilhões hoje para 9,8 bilhões em 2050, vencer o desafio de alcançar o desenvolvimento econômico sustentável não é uma escolha.

Uma alternativa que vem se consolidando nos últimos anos é a adoção da economia circular, modelo baseado na extensão da vida útil dos bens (produtos). Esse conceito pressupõe a redução da extração de recursos da natureza e da geração de resíduos, pelo aumento do ciclo de vida dos produtos, reuso e reciclagem. Nessa nova maneira de pensar o processo produtivo, os resíduos são matérias-primas para novos produtos, minimizando também o uso de energia e as emissões de gases de efeito estufa. Além dos benefícios indiscutíveis ao meio ambiente, o modelo impulsiona a economia e gera empregos em serviços como ecodesign, reciclagem e logística reversa.

 

Virando a chave – Tornar regra a adoção da economia circular exige um repensar sobre as formas de produzir e de consumir, revisando a tradicional economia linear. Por esse modelo, os recursos são extraídos da natureza, processados, transformados em produtos, consumidos e descartados, causando danos ao meio ambiente. Já na economia circular, além de se repensar os produtos em sua concepção, os recursos humanos e naturais são priorizados, e se busca a reutilização dos materiais.

Embora virar essa chave não seja fácil, algumas experiências brasileiras são pioneiras ao concretizar o conceito da economia circular. Vem do campo um exemplo, que se tornou referência mundial em destinação de resíduos sólidos. O Sistema Campo Limpo, programa brasileiro de logística reversa de embalagens vazias e sobras pós-consumo de defensivos agrícolas, nasceu seguindo o conceito de economia circular já em seus projetos-piloto na década de 90, sempre preocupado com todo o ciclo da embalagem. Desde sua criação, em 2002, destinou de forma ambientalmente correta mais de 500 mil toneladas de embalagens pós-consumo. Cerca de 94% das embalagens plásticas primárias colocadas no mercado são encaminhadas para reciclagem (91% desse total) e incineração (9%).

Esse sucesso resulta, especialmente, da adoção do conceito de responsabilidade compartilhada, que é estabelecido pela Lei Federal 9.974/00 e seu Decreto 4.074/02. A legislação define o papel de cada elo da cadeia agrícola – indústria, agricultores, canais de distribuição e poder público. Como núcleo de inteligência do Sistema, cabe ao inpEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), que representa a indústria fabricante de defensivos agrícolas, fazer a gestão do programa e promover ações de educação e conscientização, especialmente junto a agricultores que devem devolver as embalagens lavadas nas mais de 400 unidades de recebimento em todo o país. Os números comprovam a ecoeficiência do Sistema Campo Limpo: de 2002 a 2018, o Sistema evitou o consumo de 30 bilhões de MJ, o equivalente ao consumo de energia elétrica de 2,9 milhões de residências, e a emissão de 688 mil toneladas de gás carbônico equivalente, segundo estudo da Fundação Espaço Eco.

 

Papel de todos – Para garantir o sucesso dessas iniciativas, é fundamental que cada um tenha consciência do seu papel e faça a sua parte. Afinal, quem se beneficiou da existência de qualquer produto (seja uma camiseta ou um produto químico) também é responsável por ele. Os fabricantes, a cada dia, percebem mais a importância de valorizar o que era chamado de lixo. Esta é uma tendência que pode representar uma verdadeira revolução industrial, valorizando o resíduo e poupando recursos naturais.

Assim, é importante que os consumidores cobrem essa mudança, utilizando seu poder de escolha na hora da compra. Além de refletir sobre o que realmente precisam consumir, as pessoas devem pesquisar os fabricantes para comprar daqueles que estão realmente preocupados com o ciclo do produto. Isso envolve cuidar para não cair nas chamadas “greenwashings” ou maquiagem verde, propagandas enganosas que tentam passar a imagem de defesa do meio ambiente, mas, na realidade, não adotam medidas que gerem resultados efetivos.
O momento é de refletir sobre novas formas de viver e produzir para agir, o mais rápido possível, e buscar menor impacto para o planeta.


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