Aproveitamento da madeira de seringais erradicados para geração de energia térmica é opção para agricultor, que em pouco tempo tem área livre para a próxima cultura
A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), desenvolveu projeto de pesquisa para estudar a erradicação de seringais em São Paulo, com o aproveitamento da madeira para produção de biomassa, usada principalmente na geração de energia térmica em caldeiras de diversos tipos de indústria. Segundo os pesquisadores, cinco mil hectares de seringueira em São Paulo estariam próximos de completar 40 anos de idade, necessitando ser renovados ou erradicados. O baixo preço do látex no mercado internacional também tem levado produtores a erradicar seringais considerados novos.
Durante o estudo, pesquisadores da APTA visitaram algumas fazendas da região Central do Estado de São Paulo que estavam em processo de erradicação dos seringais. Além de acompanhar o processo de produção de biomassa, também conhecido como ‘cavaco’, os pesquisadores da Agência participaram de testes em serrarias para laminação de toras de seringueira e visitaram potenciais fábricas, que poderão vir a usar a madeira da seringueira.
De acordo com a pesquisadora da APTA, Elaine Cristine Piffer Gonçalves, estima-se que de 1979 a 1983 foram plantados cinco mil hectares de seringais em São Paulo, que atualmente estariam chegando aos 40 anos, idade em que há a necessidade de renovação ou erradicação, principalmente em virtude dos baixos preços pagos no mercado internacional, que refletem diretamente nos rendimentos dos produtores.
“No Sudeste Asiático o aproveitamento da madeira da seringueira é uma realidade há muitas décadas. É um mercado fortíssimo que representa importante fonte de renda para os heveicultores, que muitas vezes antecipam o corte dos seringais para obtenção de renda decorrente da venda da madeira”, explica Elaine.
No Brasil, segundo a pesquisadora, especialmente no Estado de São Paulo, existem opções para renovação ou erradicação dos seringais, como a utilização dos troncos para indústria moveleira, para a indústria de caixaria e pallets e, eventualmente, a venda para lenha. “Estes mercados ainda estão se consolidando no Brasil. Por outro lado, há uma nova forma de aproveitamento: a transformação de todo o material lenhoso, como tronco, ramos e raízes, em biomassa, mais popularmente conhecido como ‘cavaco'”, afirma.
A grande vantagem do ‘cavaco’ é a remoção total das plantas, não restando tocos, raízes e ramos secundários, o que permite a implantação imediata de qualquer outra cultura ou atividade na área. “O procedimento é mais adequado para áreas de tamanho médio e grande, em virtude do módulo necessário para viabilização das frentes de trabalho, que são constituídas por diversas máquinas de potência elevada”, explica Elaine.
O procedimento prevê que sejam removidos dos seringais canecas, bicas, arames, abrigos, placas, bancadas e cercas para evitar danos aos equipamentos e contaminação na biomassa produzida. Depois disso, as árvores são derrubadas e enfileiradas, com o uso de uma retroescavadeira, e as raízes são removidas do solo. “Também é possível à utilização de equipamentos específicos para uso florestal em que um braço mecânico agarra e arranca a árvore verticalmente. Esses manejos têm a vantagem de retirar a árvore completa, incluindo tocos e raízes, que seriam de difícil remoção a posteriori”, explica Luciano Costa Della Nina, engenheiro civil e produtor rural parceiro do estudo, ex presidente da Câmara Setorial de Borracha Natural de SP.
Depois de 30 dias, a madeira começa a ser triturada. Este período é importante para que a terra aderida ao tronco e raízes comece a se soltar, evitando prejuízos ao produto final e ao maquinário utilizado. O material triturado é então vendido por R$ 0,15 a R$ 0,20 o quilo.
“O que ocorre na maioria das vezes é a troca do ‘cavaco’ pelos trabalhos de erradicação e remoção dos seringais. Este método de trituração é mais fácil para o agricultor, que apesar de não receber praticamente nada pelo produto, em pouco tempo têm sua terra pronta para uma próxima cultura. O processo é mais rápido do que o de uso da madeira na indústria de moveis, em que os tocos não são retirados, levando mais tempo para a implantação de uma nova cultura”, afirma Elaine.
Della Nina estima que cerca de 30 propriedades no Estado de São Paulo já passaram pelo processo de erradicação dos seringais, totalizando um milhão de plantas erradicadas. “As poucas empresas especializadas na remoção de seringais têm, atualmente, fila de espera de cerca de um ano”, diz.
Por Fernanda Domiciano
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