Oito dúvidas mais comuns sobre o tratamento de tripanossomose a campo

Os prejuízos causados pela tripanosomose na pecuária leiteira são devastadores. A doença, causada pelo hemoprotozoário Trypanosoma vivax, altera as hemácias na corrente sanguínea dos animais que são descartadas do organismo pelo baço causando anemia, perda de peso, queda na produção de leite, problemas reprodutivos como queda nas taxas de concepção e surtos de abortos, alterações neurológicas e mortes.

A forma mais comum de transmissão dentro do rebanho é através da picada de moscas infectadas ou pelo compartilhamento de seringas e agulhas durante o uso de medicamentos ou vacinações. Após a confirmação do diagnóstico de tripanosomose na fazenda, o programa de tratamento deve basear-se em dois pilares: uso do isometamidium e prevenção de possíveis re-infestações.
No campo, a forma adequada de tratar os animais é uma das dúvidas mais recorrentes. O Médico-veterinário e Gerente Técnico de Bovinocultura de Leite da Ceva Saúde Animal, Alex Souza respondeu algumas das principais questões sobre o tema. Confira:

  • Por que quando dá positivo na sorologia, eu tenho que tratar todo o rebanho?
    Alex: A doença se espalha rapidamente pelo rebanho, e o animal infectado, mesmo que aparentemente saudável, é uma fonte constante de infecção para os outros bovinos. Para quebrar o ciclo da doença no rebanho, não adianta nada tratar alguns animais e outros ficarem desprevenidos, pois o ciclo de infecção continuará acontecendo. Então, o ideal é tratar todo o rebanho, porque no período de um ano, se algum animal positivo estiver sem tratamento, como a contaminação é muito fácil por mosca ou por qualquer tipo de agulha compartilhada, a propriedade pode ter o rebanho inteiro contaminado em alguns meses. A velocidade com que o Tripanosoma se espalha é muito rápida, por isso todos os animais da propriedade precisam ser tratados, mesmo que a incidência de bovinos positivos no teste de sorologia seja pequena.
  • Deu positivo na sorologia, mas o animal não está com sintomatologia é necessário o tratamento. Quantas vezes?
    Alex: Esse cenário é bastante comum no campo, o animal está “positivo” ou “reagente”, mas continua saudável. Isso ocorre, pois, o bovino continua se alimentando bem e isso faz com que a parasitemia se mantenha baixa. Porém, essa é uma doença latente, então qualquer problema que esse animal venha a enfrentar, como por exemplo uma silagem ruim ou um parto, fará o bovino adoecer. Além disso, mesmo sem sintomas o animal continua sendo infectante para o resto do rebanho. Esse é o principal problema enfrentado nas fazendas, o animal sadio que não aparenta ter a doença clinicamente. O técnico coloca uma agulha nesse bovino e ele contaminará outros animais, num esquema de vacinação de aftosa por exemplo ou em qualquer outro tipo de imunização, e dessa forma a doença acaba se espalhando pelo rebanho, com perigo de surtos e mortes na fazenda. O bovino que tem uma parasitemia, mesmo que baixa, apresenta uma manifestação subclínica da tripanosomose que gera uma série de prejuízos, pois o potencial reprodutivo e produtivo desse animal não estará em pleno desempenho. As estimativas indicam quedas na produção de leite entre 10% até 50%, em casos de contaminação subclínica. Esse cenário que é difícil para o produtor entender, pois se ele tem uma porcentagem de animais contaminados subclinicamente, sendo alimentados com uma ração de qualidade, seguindo uma dieta adequada, os bovinos estarão em sua maioria assintomáticos, mas o produtor estará perdendo dinheiro para a doença por conta das perdas produtivas.
  • Tratar tripanosomose com diminazeno e oxitetraciclina cura o animal?
    Alex: Não. A oxitetraciclina é recomendada para tratamentos de Anaplasma, que é uma bactéria que causa a Anaplasmose. O diminazeno e o imidocarb são indicados para o tratamento da Babesia. Para o tratamento da tripanosomose o ideal é uso do Isometamidium (nome comercial Vivedium, da Ceva Saúde Animal). O imidocarb e o diminazeno não tem ação curativa sobre o Tripanosoma, eles matam apenas as formas mais novas do parasita. Esse preceito é estabelecido na literatura por diversas pesquisas. O tratamento com esses medicamentos irá diminuir a parasitemia, eventualmente o animal sobrevive e fica crônico para doença, com uma parasitemia baixa. Além disso, muitos dos bovinos tratados dessa forma voltam a ficar doentes dentro de duas ou três semanas, com um quadro similar ao da tristeza parasitária, o que leva o proprietário a pensar que a tristeza está afetando o rebanho, quando na verdade é a tripanosomose que está causando a sintomatologia no animal.
  • Por que que eu tenho que fazer o protocolo de quatro tratamentos?
    Alex: Porque o tripanosoma, como alguns outros tipos de hemoparasitas consegue identificar o quimioterápico na corrente sanguínea e se esconde do sistema imune, na parte intraocular, intracerebral e até em articulações. Por isso, é necessária uma dose maior, para manter o medicamento em níveis curativos por um tempo prolongado para matar o protozoário quando ele tentar voltar a corrente sanguínea nos animais acometidos e para previnir contaminações horizontais no rebanho. É importante proteger todos os animais durante o tratamento, por exemplo, uma vaca contaminada que está no terço final de gestação, após o parto, o bezerro precisa entrar no esquema de tratamento também, pois não há como garantir que o Isometamidium estará curando o animal dentro do útero da vaca.
  • Após o tratamento com o Vivedium (Isometamidium) o animal fica imune a doença?
    Alex: Não, pois o Vivedium não é uma vacina, ele é um quimioterápico. Ou seja, ele cura o animal melhorando o quadro clínico, mas se a propriedade não investir em cuidados sanitários, no controle de vetores e em medidas de biossegurança a tripanosomose pode reaparecer e reinfectar os animais, mesmo após o tratamento com o Isometamidium.
  • Por que mesmo fazendo o tratamento recomendado alguns animais não melhoram?
    Alex: Isso é comum no campo, por conta da subdosagem. Normalmente, isso acontece por conta do peso do animal, que não é medido de maneira exata e existe sempre o risco de aplicação de uma dosagem abaixo da indicada. Outra causa provável para os animais não melhorarem após o tratamento é o uso de uma droga que não seja efetiva para o problema que está sendo combatido. Essas é uma verdade biológica para todo tipo de doença, por isso é preciso tratar os animais com um medicamento que seja eficaz contra o Tripanosoma como o isometamidium. Além disso, dentro do programa de controle da tripanosomose, os animais com maior sensibilidade ao parasito devem ser descartados do rebanho para auxiliar os resultados da fazenda em relação ao combate dessa doença.
  • O que irá me dizer se devo repetir os tratamentos em dois, três ou quatro meses?
    Alex: A recomendação é fazer pelo menos três tratamentos com intervalos de dois a quatro meses para controlar a doença no rebanho. Nos surtos graves de tripanosomose, onde a parasitemia está alta, o intervalo deve ser mais curto como 2 a 3 meses por exemplo, pois a abordagem precisa ser mais agressiva. Após o tratamento a propriedade deve manter o monitoramento anual dos animais, pois temos que identificar possíveis reinfecções no rebanho de forma proativa.
  • Após o tratamento os animais voltarão a produção de leite normal que eles produziam antes?
    Alex: Na maioria dos casos sim, desde que o tratamento seja feito de maneira efetiva e rápida. Uma situação muito comum em rebanhos comerciais onde o tratamento é protelado, e os animais contaminados têm lesões hepáticas e em outros órgãos nobres, como o coração, e nesses casos o bovino nunca mais volta a produzir leite na mesma quantidade que antes do surto. Por isso, é importante a proatividade, pois o grande risco do tratamento tardio é que os animais infectados nunca mais venham a acançarar sua capacidade produtiva plena.

– A Ceva Saúde Animal é atualmente a 6ª maior empresa de saúde animal do mundo, presente em mais de 110 países tem sua atuação focada na pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização de produtos farmacêuticos e biológicos para animais de companhia, e produção (bovinos, suínos, equídeos e aves). Mais informações disponíveis no site: www.ceva.com.br


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