Homenagem feita à Leila Macedo destaca sua contribuição para a Lei de Biossegurança, fundamental para a aprovação de transgênicos no Brasil
A trajetória da cientista Leila Macedo, Ph.D. em Microbiologia e Imunologia, se confunde com a da biotecnologia no Brasil. Ela decidiu seguir uma carreira voltada à biossegurança. Nessa área, além de estabelecer normas e procedimentos que norteiam o trabalho de todos os que lidam com as ciências da vida, influenciou políticas públicas. Assim, impactou diretamente a gestão de centros de saúde, indústria, academia e também na vida dos produtores. Por essas contribuições, recebeu o prêmio o Prêmio Norman Borlaug Sustentabilidade 2018 durante o Congresso Brasileiro do Agronegócio, realizado nesta segunda-feira, 06 de agosto, em São Paulo.
Leila tem em seu currículo trabalhos desenvolvidos na Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde (OMS). Participou da elaboração da Lei de Biossegurança e foi a primeira mulher a presidir a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), entre 1999 a 2001. O órgão é responsável pela análise da avaliação de biossegurança de transgênicos no Brasil. “Em um ambiente predominantemente masculino, usei o rigor científico para trazer o foco em segurança, performance e entrega de resultados”, comentou a ganhadora do Prêmio.
Para a diretora-executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, Leila trabalhou de forma incansável para que a ciência fosse contemplada e aplicada em nosso marco regulatório. “Assim, contribuiu de forma decisiva para levar a biotecnologia para a agricultura. Graças ao seu trabalho, nos tornamos grandes produtores de alimentos e pioneiros em aprovações de transgênicos, a exemplo do feijão resistente a vírus, do mosquito para controle da dengue, do eucalipto com crescimento mais rápido e da cana-de-açúcar transgênica resistente à broca”, lembra Adriana.
Para Leila, a biossegurança pode contribuir ainda mais para a agricultura no Brasil. Ela afirma que os transgênicos oferecem soluções para problemas enfrentados por pequenos, médios e grandes produtores. Por isso, quando fazia análise dessa tecnologia, avaliava também o risco de não adotá-la. “O primeiro produto aprovado no Brasil já tem 20 anos e trouxe um impacto positivo para o meio ambiente, para a economia do País e para as pessoas. Há menos uso de água, redução de perdas e consequente aumento de produtividade”, afirma.
Conheça outras mulheres que também contribuíram para a biotecnologia
Aproveitando a homenagem à Leila Macedo, destacamos em nossa seção “A Cara da Ciência” outras mulheres que tiveram papel fundamental na biotecnologia do Brasil e do mundo. Confira:
Barbara McClintock (1902 – 1992) – A norte-americana Barbara McClintock é conhecida por ser pioneira na citogenética. A partir do estudo do milho e como suas características hereditárias eram transmitidas, descobriu os elementos genéticos móveis, que causam o fenômeno conhecido como transposição genética. É considerada, ao lado de Gregor Mendel e Thomas Hunt Morgan, uma das três mais importantes figuras da história da genética. A cientista recebeu o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 1983. De personalidade forte, lutou para estudar e contrariou a mãe que achava que a filha deveria priorizar conseguir um casamento. A pesquisadora faleceu de causas naturais em 1992 e não deixou filhos.
Rosalind Franklin (1920 – 1958) – A cientista inglesa obteve, em 1952, a “Fotografia 51”. Conhecida como “a mulher que fotografou o DNA”, Rosalind Franklin enfrentou a desconfiança de seus colegas homens para continuar na pesquisa científica. À época, ela não associou a imagem que tinha conseguido ao formato de dupla hélice (como uma escada em caracol). Entretanto, um de seus alunos mostrou a fotografia a Wilkins. Ele, por sua vez, a compartilhou com seu colega de Cambridge, Francis Crick, sem que ela soubesse. Foi então que James Watson e Crick combinaram a imagem com seus conhecimentos e, em 1953, publicaram uma série de artigos sobre a estrutura do DNA. O trio de homens receberia o Prêmio Nobel de Medicina pelo trabalho em 1962, quatro anos depois da morte dela.
Johanna Döbereiner (1924 – 2000) – A pesquisadora nasceu na Checoslováquia e se mudou para o Brasil em 1950. Na década de 1960, quando poucos cientistas acreditavam que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) poderia competir com fertilizantes minerais, Johanna Döbereiner iniciou um programa sobre FBN em leguminosas tropicais. O programa brasileiro de melhoramento da soja foi influenciado pelos trabalhos de Johanna. Totalmente baseado em FBN, desenvolveu-se no sentido inverso ao da orientação dos EUA, que elaborava tecnologias de produção apoiadas no uso intensivo de adubos nitrogenados. Os estudos da Dra. Johanna permitiram que a fixação do nitrogênio pelas plantas fosse feita pela bactéria rhizobium. Dessa forma, a soja gerava seu próprio adubo. A cientista chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel, em 1997, por seus estudos com FBN.
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