Sucessão: como garantir a continuidade de empresas familiares?
Por Denis Luna
Mais de 80% das 19 milhões de empresas brasileiras são administradas por famílias, segundo a Pesquisa de Empresas Familiares no Brasil, divulgada no final de 2016 pela PWC. Essas empresas constituem a espinha dorsal do setor corporativo do país, representando cerca de 50% do PIB nacional. Apesar dessas cifras, apenas 12% desses negócios sobrevivem após a terceira geração familiar assumir o comando. A grande questão é por quê?
Entre os especialistas, existe certa unanimidade ao apontar duas razões principais. A primeira delas é a falta de inovação. Uma empresa precisa se renovar ao longo do tempo. Manter-se estática, inerente às transformações do mundo, é o primeiro passo para o fracasso. Produtos, serviços e principalmente o modelo de gestão de negócios, precisam de novidades capazes de acompanhar as evoluções. A segunda razão é a ausência de um planejamento sucessório consistente.
De acordo com o estudo da PWC, apenas 19% das empresas familiares possuem um plano para isso. E, nesse sentido, cabe destacar que sucessão não quer dizer apenas passar o bastão para filhos, netos ou outros parentes. Cada vez mais, as empresas estão buscando profissionais no mercado para garantirem a continuidade do negócio. Independentemente de ser um familiar ou não, o mais importante é que os líderes sejam pessoas muito bem preparadas para tal função.
Esse é um ponto muito importante de se analisar. Muitas vezes, a empresa encontra opções de pessoas bastante capacitadas dentro da família, mas é preciso saber exatamente se o “escolhido” deseja assumir essa responsabilidade. Muitos filhos crescem ouvindo dos pais que eles serão seus sucessores, mas é necessário entender se é esse mesmo o desejo do filho. Assumir uma empresa simplesmente para atender aos anseios do pai pode não ser a melhor a alternativa.
Partindo do princípio que o herdeiro quer dar continuidade à empresa, o próximo passo é verificar se ele reúne as características ou habilidades necessárias para dirigir o negócio. Aí, não se deve poupar esforços no seu desenvolvimento pessoal. É preciso investir em cursos, treinamentos e, principalmente, em vivências na empresa. A combinação entre teoria e prática deve ser equilibrada. De nada adianta uma formação exemplar se não houver conhecimento sobre o dia a dia da operação.
Enquanto adquire conhecimentos, o herdeiro deve fazer parte da equipe da empresa e, de preferência, passando por todas as áreas. Dessa forma, ele irá ganhar não só experiência, mas também maturidade sobre o negócio. Outro ponto importante é realizar uma estruturação geral da empresa antes mesmo de fazer a sucessão. Quem está no comando precisa garantir que o negócio esteja no caminho certo. Se assumir uma empresa que vai mal, dificilmente o herdeiro terá condições de colocá-la no caminho do sucesso.
Caso não haja herdeiros interessados ou preparados, a empresa deve recorrer a profissionais do mercado. Pode ser mais custoso, mas será a única alternativa. Nesses casos, tanto o dono quanto os herdeiros passam a fazer parte de uma espécie de “Conselho” e, certamente continuam se beneficiando dos resultados da empresa – afinal, eles são os donos. No entanto, as decisões ficam a cargo dos executivos que comandam a operação.
Mesmo com um profissional do mercado, a estruturação geral da empresa também se faz necessária antes da saída do dono do comando. O próprio profissional pode, inclusive, auxiliar nessa estruturação, beneficiando-se do conhecimento, experiências e vivências do dono. A única coisa que não pode é simplesmente ignorar a necessidade de planejar a sucessão. Esse é um erro comum e devastador para a maioria das empresas familiares.
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