Princípios fundamentais para o uso eficiente de nutrientes

 

por Dr. Luís Ignácio Prochnow

 

Dr. Luís Ignácio Prochnow, diretor no Brasil do Instituto Internacional de Nutrição de Plantas

Nutrientes são elementos essenciais ao crescimento de qualquer ser vivo, incluindo as plantas. Na ausência de qualquer um dos nutrientes os vegetais não completam o seu ciclo de vida. Os solos são a fonte natural de nutrientes para as plantas. Quantidades insuficientes levam a baixas produtividades e tornam difícil obter retorno econômico compatível aos investimentos realizados.

Os solos da região tropical e muito especialmente os do Brasil são normalmente deficientes em nutrientes. Assim sendo, qualquer profissional que pensa em ter sucesso na atividade agrícola deve estar atento a avaliação do seu solo no sentido de definir as necessidades de aplicação de nutrientes. Os fertilizantes são os produtos portadores de nutrientes utilizados neste sentido e podem ser de origem orgânica (compostos, estercos ou outras misturas) ou fabricados a partir do ar atmosférico ou de jazidas que os contém (inorgânicos). Não deve existir discussão sobre a validade de qualquer dos tipos principais de fertilizantes. Orgânicos ou inorgânicos devem serem vistos como complementares para a agricultura de qualquer região. Dito isto é bem verdade que devido a maior concentração de nutrientes existe maior praticidade logística de se aplicar os fertilizantes inorgânicos e por esta razão são muito mais utilizados principalmente em culturas extensivas ou de grãos.

Qualquer fertilizante, se fabricado dentro de normas corretas, não são prejudiciais, sendo muito pelo contrário fundamentais para a agricultura nacional. É totalmente equivocada a informação de que estes produtos são nocivos. Como dito, são apenas e tão somente materiais que contém os nutrientes das plantas, dos animais e dos seres humanos. O sucesso da agricultura no Brasil se deve a utilização de fertilizantes, haja vista a estreita relação entre o aumento do consumo destes produtos e o aumento da produção nacional nas últimas décadas (Figura 1). Muito embora não seja possível dizer que a relação é direta de causa e efeito sabe-se perfeitamente que maiores produções não seriam possíveis sem os fertilizantes. Além disto, faz-se necessário considerar que plantas adequadamente nutridas tem maior qualidade nutricional para os animais e para os seres humanos. Como exemplo cita-se o caso do Zn, o qual se encontra deficiente em grande parte das dietas em várias regiões do mundo. Esforços existem no sentido de se fornecer mais Zn às plantas através de fertilizantes, estabelecendo-se assim condições para menores índices de deficiência deste elemento fundamental a saúde humana. Portanto, plantas melhores nutridas são mais saudáveis e plantas melhores nutridas necessitam de fertilizantes adequados.

Figura 1. Relação entre produção nacional de grãos e consumo anual de fertilizantes.

Os nutrientes das plantas dividem-se em macro e micronutrientes, com os primeiros exigidos em grande quantidade (ordem de quilogramas por hectare) e os segundos em quantidades menores (ordem de gramas por hectare). Porém, lembre-se de que independentemente da quantidade necessária sem qualquer dos nutrientes a planta sofrerá e será incapaz de completar o seu ciclo de vida ou produzir bem.

Existem no mercado uma grande variedade de opções de fertilizantes a disposição dos produtores rurais, sendo os principais os nitrogenados (N), fosfatados (P) ou potássicos (K). Estes são os chamados macronutrientes primários. Além destes existem ainda os produtos contendo outros nutrientes, notadamente aqueles contendo os macronutrientes secundários (Cálcio = Ca, Magnésio= Mg e Enxofre = S) e os micronutrientes (Ferro = Fe, Manganês = Mn, Cobre = Cu, Zinco = Zn, Boro = B, Cloro = Cl e Molibdênio = Mo).

Como todo produto os fertilizantes devem ser utilizados de forma adequada e este artigo discute a seguir os princípios básicos para isto. É preciso salientar que tais princípios devem ser utilizados como modelo geral, sendo definidos nas condições de campo por profissionais com condições de interpretar as informações disponíveis e chegar a conclusão das melhores alternativas para os seus clientes. A aplicação de fertilizantes sem critério técnico é um grave erro e apenas um engenheiro agrônomo ou professional correlato tem condições de recomendar o que há de melhor para cada caso.

De forma geral pode se dizer que a recomendação de fertilizantes deve se preocupar em definir o que chamamos de 4C, ou seja definir a fonte correta, na dose correta, no local correto e na época correta.

Figura 2. Diagrama utilizado mundialmente sobre os princípios fundamentais para o uso eficiente de fertilizantes.

Os solos variam enormemente na sua capacidade de fornecer os nutrientes que as plantas necessitam. A melhor técnica para se identificar tal capacidade é a análise de solo. Através dela inúmeras informações são transferidas da pesquisa para o campo na forma de recomendações seguras de fertilizantes. Com uma amostra coletada da gleba de interesse o laboratório irá preparar e analisar tecnicamente o solo fornecendo resultados que permitirão a identificação das quantidades disponíveis de nutrientes para as culturas. A partir destes resultados os profissionais poderão calcular a necessidade de cada um dos nutrientes e finalmente escolher quais as fontes corretas para cada caso e ainda a dose correta de cada uma das fontes. Na maior parte das vezes os nutrientes são fornecidos em fórmulas que já contém vários deles, facilitando assim a prática do agricultor para nutrir as suas plantas.

Cada nutriente tem um tipo de reação no solo. Isto é extensivamente estudado pelos pesquisadores, os quais resumem as suas descobertas através de publicações e palestras técnicas ao público de interesse. Como exemplo cita-se que o nitrogênio é extremamente móvel no solo, o que faz com que seja necessário se aplicar este elemento de acordo com a necessidade das plantas em termos de absorção durante o seu ciclo de vida. Caso contrário a aplicação feita com falta de sintonia com a necessidade da planta poderá levar a perdas do nutriente para o lençol freático ou para a atmosfera. Já o fósforo tem comportamento completamente distinto sendo muito pouco móvel nos solos. Tais características definem em contexto mais amplo qual a época correta de se aplicar cada um dos fertilizantes selecionados. Para várias culturas é recomendado o parcelamento da adubação, principalmente do N, para que o aproveitamento seja o melhor possível.

A reação dos nutrientes no solo, bem como as características das plantas, principalmente em termos de sistema radicular, ajuda a definir o local correto de se aplicar os fertilizantes. Seria impossível se aplicar no mesmo local do solo por exemplo os fertilizantes para culturas de grãos versus culturas perenes, tais como café ou laranja.

Repetindo, os princípios fundamentais para se aplicar fertilizantes de forma correta são escolher a fonte correta, aplicando na dose correta, na época correta e no local correto. Nunca é demais salientar que embora estes princípios sejam globais é preciso observar que eles devem ser definidos especificamente para cada gleba de produção. Ou seja, não é possível se transferir as mesmas condições de uma propriedade para outra, nem que as duas sejam muito próximas.

Como são inúmeros os fatores que interagem para que a planta possa ser nutrida de forma adequada os pesquisadores em todo o Brasil disponibilizam aos consultores agronômicos e agricultores tabelas ou modelos que, levando em consideração certas variáveis, definem o que se fazer quanto aos 4Cs. Tais ferramentas são específicas para cada região ou estado do Brasil devido à variedade de solos e metodologias empregadas nas análises.


O Instituto Internacional de Nutrição de Plantas, associação sem fins lucrativos, tem por missão pesquisar e educar sobre como se utilizar os fertilizantes de forma adequada. Convidamos aos leitores para visitarem a nossa página na web (brasil.ipni.net). Nela encontrarão vários materiais de interesse para complementar o assunto aqui discutido.

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