Programa de capacitação, desenvolvido pela entidade, conta com parceiros – que possuem conhecimento em áreas consideradas essenciais –, como o Pecege que é especializado em gestão econômico-financeira
O Muda Cana é um arrojado e inédito programa de capacitação técnica e gerencial que vai oferecer subsídios e criar condições para que o produtor de cana tenha visão panorâmica e comparativa do seu negócio, fazendo inclusive um benchmarking, para repensá-lo como uma atividade eficaz, lucrativa, competitiva e sustentável.
Essa opinião é de Haroldo Torres, gestor de projetos do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), da Esalq/USP, um dos parceiros dessa iniciativa da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) que vai beneficiar fornecedores de cana de 32 associações.
Para colocar em prática os objetivos e metas do Muda Cana, a Orplana conta com uma rede de parceiros com experiência e conhecimento em diversas áreas. O Pecege, por exemplo, vai atuar como um capacitador na área de gestão, abordando temas ligados à precificação, custo de produção, práticas de comercialização, análise comparativa de resultados, indicadores de desempenho, entre outros – informa Haroldo Torres.
“Somos um apoiador do Muda Cana, um parceiro que vai estar na ponta, levando conhecimento para o produtor de cana, principalmente sob a ótica da gestão econômico-financeira”, enfatiza. O Muda Cana é, na essência, um projeto de capacitação que tem a finalidade de fornecer subsídios para o desenvolvimento técnico e gerencial do produtor de cana – afirma.
“Muitos produtores recebem pelo sistema Consecana. Mas, não conhecem a metodologia de cálculo e as variáveis que estão embutidas”, exemplifica. Na área técnica, há produtores que sempre fizeram o mesmo manejo e adotaram a mesma prática – observa – sem terem o conhecimento cientifico dessas atividades.
“O Muda Cana é uma forma de capacitar, gerar e difundir informação. O programa cria condições para a interação, troca de conhecimento, o networking entre os produtores”, ressalta.
Três pilares sustentam o conteúdo e a grade de disciplinas do Muda Cana. Um deles é o de produtividade e sustentabilidade. “Está muito associado a custo. Trabalha aquela questão de produzir mais, usando menos”, diz. Os outros são gestão de riscos e comercialização e gestão eficaz do negócio. “Esses três pilares estão conectados entre si. Cada um tem o seu know-how”, constata.
Para abordar diferentes temas, a Orplana construiu uma rede de parceiros muito interessante, trazendo para o mesmo time instituições que trabalham isoladas – algumas já são parceiras da entidade –, que vão oferecer o melhor em cada área, destaca Haroldo Torres. Está sendo criada de fato uma rede de valor – ressalta.
“Não conheço outra cadeia produtiva que tenha essa geração de valor tão forte nesse momento, principalmente com vista à capacitação. Existem sempre ações isoladas de algumas entidades que fazem os seus treinamentos, mas sem essa visão integradora de parceiros. É algo inédito, com uma visão muito arrojada e abrangente”, constata.
A Orplana lidera uma iniciativa que serve de exemplo para outras instituições do agronegócio brasileiro – avalia. “O programa é associado ao que existe de mais moderno do ponto de vista de capacitação e entrega de valor ao produtor. Vai levar conhecimento de forma presencial e a distância”, observa.
O programa da Orplana abre um caminho muito interessante para a difusão de informação e conhecimento, elogia Haroldo Torres. “O produtor descobre as suas trilhas, aquilo que ele quer percorrer em termos de conteúdo, aquilo que ele sente necessidade para se capacitar, ou seja, define aquilo que é prioridade. E isto vai sendo feito de forma customizada”, afirma.
o “Muda Cana” tem um planejamento inicial que prevê a capacitação de produtores de 32 associações em seis anos o “Muda Cana” tem um planejamento inicial que prevê a capacitação de produtores de 32 associações em seis anosO planejamento inicial do Muda Cana prevê a capacitação, em seis anos, de produtores das 32 associações vinculadas à Orplana.
Custo e rentabilidade – “É preciso bater cada vez mais nessa tecla que o produtor precisa de conhecimento. As atividades agrícolas estão exigindo um nível mais sofisticado de profissionalização, de entendimento do seu negócio, de acesso a informação, de construção de indicadores de performance para a tomada de decisão”, enfatiza Haroldo Torres.
Segundo o gestor de projetos do Pecege, o produtor acha, em diversos casos, que está obtendo uma boa rentabilidade. Mas, não sabe o que é custo de produção. “Ele olha fluxo de caixa como saldo na conta bancária. Se estiver positivo, considera que o resultado é satisfatório”, diz.
Custo de produção é muito mais do que olhar o desembolso, a saída de caixa e o saldo – esclarece. “Além disto, não adianta o produtor achar que está tendo rentabilidade se não consegue ter uma visão de referência. Para os produtores que têm o mesmo nível de atividade, o mesmo nível de tecnologia, qual é a rentabilidade? E qual é a rentabilidade média do setor?” – indaga.
O processo de profissionalização do produtor requer mais do que uma visão panorâmica do seu negócio. “Ele precisa ter também uma visão comparativa, ou seja, um benchmarking”, enfatiza.
Com isto, é possívelIdentificar as oportunidades de melhoria. O Corte, Carregamento e Transporte (CCT) de uma propriedade pode estar com o custo elevado. E no CCT, a colheita pode ter um consumo excessivo do diesel – exemplifica. “É aquela ideia de atacar a causa e a raiz do problema e usar isto para a melhoria do processo produtivo”, diz.
Para o gerenciamento financeiro da propriedade agro, o Muda Cana vai abordar também gestão de custo, Consecana, análise de mercado, construção de cenários. Nesse caso, haverá a participação do Pecege e de outros parceiros da Orplana, como a Datagro e a Markestrat – revela.
Integração de projetos – O Muda Cana não é um programa isolado. “Ele tem relação com outros projetos da Orplana, como o de levantamento de custos e o de Segmentação, dos quais o Pecege também é parceiro. Os projetos estão muitos ligados”, opina Haroldo Torres.
De acordo com ele, o Muda Cana tem relação, por exemplo, com o projeto de custos, porque mostra a sua importância para a gestão da atividade. O programa de capacitação vai ensinar o produtor de cana a calcular, a apurar o custo e a fazer uma gestão adequada – explica.
“Quando ocorre a apuração, é possível dizer que há um custo mais fiel, que representa melhor a realidade”, diz.
Este trabalho de levantamento de custos, realizado nas 32 associações vinculadas à Orplana, possibilita um “raio-x” da situação dos produtores. “É um trabalho permanente, feito por amostragem, que está no segundo ano”, informa.
Um dos objetivos deste projeto é ajudar o produtor a responder com certeza e acurácia se a atividade dele é lucrativa, competitiva e sustentável – comenta. Além de fornecer informações para que o produtor repense o seu negócio com uma atividade eficaz, essa iniciativa tem a finalidade de subsidiar as associações e a própria Orplana em suas ações e decisões.
“É impressionante como o perfil das associações (vinculadas à Orplana) e dos produtores é muito heterogêneo”, constata. Por isso, outro projeto liderado e capitaneado pelo gestor executivo da Orplana, Celso Albano de Carvalho – que tem também a participação do Pecege – procura entender melhor o produtor de cana-de-açúcar sob o ponto de vista de segmentação – revela.
“Há fornecedor de cana que faz atualmente apenas os tratos culturais. Detém a terra, mas não faz as operações de plantio e de Corte, Carregamento e Transporte (CCT). Por outro lado, há o produtor integrado, que é vertical. Ele faz o plantio, o trato, a colheita, detém a terra e entrega a cana para a usina”, compara.
Segundo ele, o Segmentação cria condições para entender o produtor, levando em consideração as suas atividades, o nível de capacitação, o tamanho de sua área, o nível de relacionamento com a usina, as práticas de sustentabilidade. “Vai possibilitar entender a interrelação da atividade do produtor com as macroatividades da cadeia como um todo”, afirma.
Esse projeto subsidia não apenas a Orplana, mas todos os agentes econômicos que têm relação com o setor sucroenergético – enfatiza. Além do Pecege, o Segmentação conta com a participação do professor da FEA/USP e sócio da Markestrat, Marcos Fava Neves, do Polo BPM e do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Os projetos são complementares. “Muitas informações que levantamos sobre custos vão ser aproveitadas no Segmentação. E outros dados do Segmentação vão ajudar o projeto de custos”, diz.
Desde à sua reestruturação, a Orplana tem criado condições para o desenvolvimento de um processo muito forte para gerar valor ao seu associado, tornando-se de fato uma entidade cada vez mais representativa, e construindo também uma rede de relacionamento com parceiros que têm conhecimento e experiência em diferentes áreas.
De acordo com Haroldo Torres, o Pecege já tem uma parceria de longa data com a Orplana. “Mas, houve um aprofundamento, um estreitamento dos laços, a partir do trabalho realizado pela atual diretoria e o gestor executivo da entidade, Celso Albano, que deu origem inclusive ao novo planejamento estratégico da entidade”, ressalta.
Leonardo Ruiz | Cana On Line
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