Setor foi favorecido pelo alívio no preço dos grãos, mas prejudicado pelo cenário econômico e golpe na imagem da cadeia produtiva
A demanda por rações industrializadas contabilizou 33,1 milhões de toneladas e retrocedeu 1,5%, quando comparada ao mesmo período do ano passado, conforme estimativas apuradas pelo Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal). O mergulho do preço do milho e do farelo de soja não foi capaz de motivar o confinamento de bois, a alimentação preparada do rebanho leiteiro e o alojamento de pintainhos e leitões, ao contrário dos produtores de ovos que aproveitaram o alívio do custo desses principais insumos durante todo o primeiro semestre.
De acordo com Ariovaldo Zani, vice-presidente executivo do Sindirações, “a recuperação no ritmo dos embarques e a ainda lenta retomada do poder de compra, resultado da menor inflação e taxa de juros, parecem já refletir na cadeia produtiva, cuja reação perceptível a partir de julho poderá intensificar-se no segundo semestre, muito embora o desemprego continua resiliente e o ambiente de negócios ainda bastante instável”.
Rações para frangos de corte – O produtor demandou 16,5 milhões de toneladas de rações para frangos de corte, um retrocesso de 1,7%, em resposta ao alojamento de pintainhos que declinou aproximadamente 6%. “Apesar do flagrante alívio no custo de produção, a fragilidade do consumo doméstico e o sensacionalismo na divulgação da operação “Carne Fraca”, impactaram negativamente a produção e comprometeram a exportação de carne de frango, que recuaram respectivamente 2% e 6%, durante o primeiro semestre”, informou Zani.
Rações para galinhas de postura – A produção de rações para poedeiras, por sua vez, somou 2,9 milhões de toneladas, um incremento de quase 10%, em resposta ao robusto alojamento de pintainhas de postura e produção dos ovos, que por ser considerado alimento nutritivo e de custo acessível, substituiu boa parte da proteína animal tradicionalmente consumida pelas famílias. De acordo com Zani, “o ritmo, contudo, pode desacelerar durante o segundo semestre por causa do ajuste à demanda per capita de ovos e o descarte das galinhas mais velhas”.
Rações para suínos – Já a demanda por rações para suínos decresceu 3,3% no primeiro semestre e somou 7,7 milhões de toneladas, em resposta ao retrocesso de 3% nas exportações de carne suína e de 3,5% na quantidade de abatidos (recuo concentrado no segundo trimestre), principalmente por causa do midiático golpe à reputação lançado em meados de março que prejudicou o crescimento contínuo dos embarques e pela fragilizada conjuntura econômica que inibiu o consumo e os investimentos. “Por outro lado, a generosa safra dos grãos, a relativa escassez da proteína bovina e a interrupção da recessão econômica podem contribuir para a retomada da atividade suinícola durante o segundo semestre”, complementou Zani.
Rações para bovinos de corte – Zani observou que a oferta de carne bovina ficou travada durante o primeiro semestre por causa da capacidade de abate e incertezas dos pecuaristas frente ao retorno do Funrural e as delações, além do desinteresse do confinador, em resposta à arroba do boi que despencou. A frustração redundou na demanda de 1,09 milhão de toneladas de rações/concentrados para bovinos de corte e recuo de mais de 8% na primeira metade do ano, quando comparado ao mesmo período do ano passado. “A reação durante o segundo semestre, mesmo que não muito promissora, tem recaído sobre alguns indícios de valorização da arroba, muito embora a recuperação dependerá bastante da retomada do consumo doméstico e dos desdobramentos do embargo americano que pode modular os interesses de outros importadores”, arrematou Zani.
Rações para gado leiteiro – Apesar dos efeitos favoráveis do clima e do alívio no custo dos grãos utilizados na alimentação das vacas em lactação, a produção de leite caiu nas principais bacias leiteiras e determinou alguma concorrência entre os laticínios na captação do leite cru para recomposição dos estoques no varejo. Zani salientou que a concentração da atividade em empreendimentos de grande porte tem melhorado substancialmente a produtividade por causa da qualidade da nutrição empregada. Em consequência, a produção de ração para gado leiteiro retrocedeu mais de 3% e contabilizou 2,56 milhões de toneladas durante o primeiro semestre. “O incremento nas importações de lácteos, por sua vez, deve limitar os ganhos no preço do leite no segundo semestre e estimular o consumo no final da cadeia, favorecendo assim a retomada na produção das rações”, prevê Zani.
Rações para aquicultura – A produção de rações para peixes e camarões durante o primeiro semestre somou pouco mais de 547 mil toneladas e retrocedeu aproximadamente 5%, por conta do desafio sanitário enfrentado pela carcinicultura no Ceará e Rio Grande do Norte, e pela escassez no povoamento de peixes nas regiões Sudeste e Sul que ainda reverberava os efeitos da estiagem no ano passado, além do inverno que também reduziu o consumo das rações nas regiões Norte e Centro-Oeste. “Já no segundo semestre, a possibilidade de importação de camarão do Equador pode pressionar ainda mais a demanda das rações, muito embora a procura do varejo pelos produtos da piscicultura nacional possa até compensar esse retrocesso”, arrematou Zani.
Alimentos para cães e gatos – É fato que a capacidade de compra das famílias brasileiras está fragilizada diante da crescente taxa de desemprego e demais incertezas agravadas pelo complicado cenário político que redundaram, de janeiro a abril, em retrocesso de 1,6% nas vendas do varejo restrito. Porém, apesar desse cenário, a demanda de alimentos para cães e gatos demonstrou resiliência e manteve avanço da ordem de 0,5%, somando praticamente 1,3 milhão de toneladas, durante o primeiro semestre. “Os efeitos da desinflação dos alimentos, ganho real de renda, queda na taxa de juros, resgates das contas inativas do FGTS e aumento da confiança do consumidor, intensificar-se-ão no segundo semestre podendo inclusive incrementar o ritmo de crescimento da produção de pet food”, arrematou Zani.
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