Marcadores químicos devem acelerar o desenvolvimento de novas cultivares de cajueiro

 

Por Verônica Freire

 

Pesquisadores identificaram marcadores químicos que podem acelerar o desenvolvimento de novos clones de cajueiro resistentes à antracnose, uma das principais doenças que acometem a cultura, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioide. Com os biomarcadores, em vez cultivar extensas áreas e acompanhar os pomares por vários anos para observar as plantas mais resistentes, será possível realizar a seleção em laboratório. Para isso, bastarão pequenas amostras de tecidos das plantas.

Para chegar até os biomarcadores, os pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) observaram no campo o comportamento de clones de cajueiro-anão resistentes e suscetíveis à doença. Em seguida, avaliaram no laboratório os metabólitos associados à resistência.

Dentro de uma mesma área cultivada com os clones CCP 76, BRS 226, BRS 189 e BRS 265, apenas o clone BRS 265 apresentava severos sinais da doença com folhas novas retorcidas de coloração marrom-escuro. Os demais permaneciam aparentemente saudáveis. “Os clones estavam no mesmo pomar, sob os mesmos tratos culturais. Então suspeitei: deve ter alguma diferença química nas folhas das plantas”, conta o pesquisador da Embrapa Luiz Serrano.

Foram coletadas amostras das folhas sadias dos quatro clones não afetados, além de uma amostra das folhas doentes do clone BRS 265 e levadas para análise no Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais (LMQPN) na Embrapa Agroindústria Tropical. O metabolismo secundário das amostras foi analisado com equipamentos de cromatografia e espectrometria de massas, que expressam o perfil químico da planta.

O estudo envolveu ainda a aplicação de métodos de estatística multivariada, que permitem comparações entre os perfis químicos. Os pesquisadores observaram os gráficos com semelhanças e diferenças entre as amostras, até chegar às moléculas candidatas a biomarcadores.

Aplicação para diferentes doenças e plantas –  O pesquisador Guilherme Zocolo, responsável pelo estudo do perfil químico dos clones, diz que o objetivo é desenvolver uma metodologia aplicável a várias doenças em diferentes plantas. A metodologia utilizada no estudo da antracnose exige uma pequena quantidade de material, ela também é eficiente e apresenta alta reprodutibilidade, permitindo a análise de um grande número de amostras em um tempo curto.

Zocolo salienta que este é um estudo inicial e que o próximo passo é a validação da pesquisa no campo, com a observação dos perfis químicos associados à ausência ou presença da doença. Ele acredita que o método pode gerar informações valiosas para a seleção de variedades de plantas resistentes em fase inicial de experimentação.

O pesquisador da Embrapa da área de fitopatologia Marlon Vagner Valentim Martins salienta que, dentre os princípios de controle de doenças, a resistência tem sido buscada como estratégia de obtenção de materiais genéticos com características superiores. Ele acredita que, como é uma ferramenta nova, existem novas perspectivas para o emprego no programa de melhoramento genético, incluindo também outras doenças de importância para o cajueiro.

Economia de tempo e recursos – O pesquisador Levi de Moura Barros, que atua no programa de melhoramento genético de cajueiro-anão, avalia que o resultado do estudo é uma extraordinária ferramenta, capaz de reduzir muito o trabalho de observação e a quantidade de indivíduos a serem avaliados. “Isso repercute na redução do trabalho e custo de mão de obra. Ao se fazer um screening em laboratório, muita coisa é eliminada e não vai para o campo. Isso tem um valor extraordinário”, diz.

Outra vantagem, conforme o pesquisador, é que o método não destrói as amostras. Basta um pequeno pedaço da folha da planta para a análise. Além disso, se comparado a marcadores moleculares, os marcadores químicos apresentam nível de complexidade e custo de análise menores, o que facilita o trabalho.

Para o pesquisador, é importante realizar ensaios no campo, com testes em plantas de diferentes idades e em períodos chuvosos e secos, para observar se há variação desses marcadores. “A variação climática interfere na epidemia da doença. Em um ano mais seco ocorre menos. Por isso é necessário testar em diferentes condições”.

Ele destaca que a resistência a doenças é uma característica importante para os programas de melhoramento genético, porque resulta na redução de custos com o uso de produtos químicos, o que repercute em mais segurança para as pessoas e para o meio ambiente.

A busca por resistência a doenças, como a antracnose, sempre esteve entre os focos do programa de melhoramento genético do cajueiro. É uma das três mais importantes patologias do cajueiro, ao lado do oídio e da resinose.

A doença – A antracnose já foi considerada a mais severa doença do cajueiro no Brasil, até que o oídio passou a gerar mais prejuízos aos produtores. A doença ocorre em todas as regiões produtoras. É causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, que infecta folhas, caules, ramos, frutos e pseudofrutos. O fungo sobrevive internamente nos tecidos infectados, em restos de cultura no solo ou na própria planta. A disseminação dentro do pomar se processa pela água da chuva e pelo vento.

Os sintomas da antracnose são mais comuns nas folhas, mas podem ser observados em toda a parte aérea da planta. No início, aparecem manchas irregulares de coloração parda nas folhas jovens, tornando-se avermelhadas à medida que os sintomas progridem. Quando os sintomas são severos, toda a folhagem fica retorcida e deformada, assemelhando-se a uma queima.

No fruto e no pedúnculo, os sintomas principais são lesões de coloração escuras e profunda que podem cobrir significativa área do tecido vegetal. O pedúnculo infectado tem o seu desenvolvimento comprometido apresentando-se deformado e por vezes rachados.


Fonte: Sistema de Produção de Caju, 2ª ed. 2016.
Texto:  Verônica Freire (MTb 01225/CE)
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