Entrevista
Em entrevista exclusiva para o Diário Agrícola | AgroPlanning, Uri Ariel, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Israel, e Boaz Albaranez, cônsul da Missão Comercial de Israel em São Paulo (SP), revelam dados pluviométricos, agrícolas, pecuários e tecnológicos do seu País, falam da visão sobre relacionamento com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil e das potencialidades de cooperação e negócios entre as duas nações
Senhor ministro Uri Ariel, qual é o volume de precipitação média anual em Israel?
A média é de 500 milímetros de chuva por ano (em torno da taxa de precipitação na região centro), que pode alcançar cerca de 900 nas montanhas da Galiléia superior (no norte) e cair drasticamente para 30-100 milímetros de chuva no deserto de Negev Sul.
Há quantos anos Israel usa tecnologias de dessalinização de água do mar?
Como estratégia de Estado, os estudos tiveram início no final da década de 1980, depois de sucessivos períodos de seca que reduziram ou deterioraram as reservas de águas, inclusive as subterrâneas (aquíferos). O objetivo foi fornecer soluções de longo prazo que envolvesse, além do abastecimento para a população do país, a produção agrícola nacional. Os esforços foram grandes para viabilização do projeto em nível comercial. Mas, depois de cerca de uma década de trabalho, governo e iniciativa privada encontraram a solução.
Como funciona o sistema de tratamento de esgoto e reutilização de água na agricultura?
Todos os municípios do estado de Israel têm que tratar a água de esgoto. Isso é feito pela força da lei. No passado, esta água não encontrou utilidade e foi canalizada para córregos, evoluindo, assim, para preocupações quanto ao potencial impacto ambiental. Dado o déficit no balanço de água nacionais, devido ao crescimento das demandas das famílias, agricultura, indústria que cresceram, e as precipitações não corresponderam, as autoridades foram forçadas para realizar planos para criação de fontes adicionais. Atualmente, após o tratamento a água de esgoto é direcionada para um grau secundário ou terciário de uso.
A agricultura tornou-se a grande beneficiária desses processos?
Sim. A agricultura é capaz de fazer uso tanto de águas recicladas quanto dessalinizadas. Contudo, algumas estratégias logísticas foram implementadas para utilização da água reciclada. Como disse anteriormente, a reciclagem é de responsabilidade do poder público municipal. Mas, esse processo não poderia ser realizado em áreas urbanas, pois os custos de distribuição tornariam o valor do líquido muito elevado. Assim, tão cedo quanto possível (ainda nos anos 1970) as primeiras dessas instalações já foram implantadas em algumas comunidades agrícolas.
Como foi o estabelecimento em todo o País e como está estruturado atualmente?
O período mais intenso de desenvolvimento da rede de centros de abastecimento de água reciclada, em nível nacional, tomou lugar na década de 1990. Hoje em dia contamos com 54 centros de abastecimento, que produzem 350 milhões de metros cúbicos de água para irrigação agrícola, com uma quantidade adicional 130 milhões decorrentes de um único local ao lado de Tel Aviv, que coleta o esgotode água da cidade e várias outras cidades satélite. Esta água está sendo reciclada e filtrada em solos arenosos, em seguida é filtrada para se tornar uma camada de água subterrânea que se expande a dezenas de quilômetros para o Sul, para ser usado eventualmente na agricultura pelas comunidades remotas. Gostaria de ressaltar que o uso de água reciclada na agricultura deve ser certificada pelo Ministério da Saúde para cada cultura, após um exame minucioso de validação.
A estrutura atual atende à demanda?
Atende. Mas, a utilização mais intensa ocorre durante o verão. Em contrapartida, no inverno há menos uso da água reciclada (por causa das chuvas). Então, nesse período geralmente a oferta do líquido torna-se maior que a demanda. Por isso os planos para o futuro priorizam investir em na estrutura para criação de maior capacidade de armazenamento de água de reuso, evitando desperdício e tornando-a disponível em qualquer estação do ano.
O senhor acredita que os processos de dessalinização e reciclagem da água são economicamente viáveis para o uso na agricultura em um país tropical como o Brasil?
Isso deve ser analisado de acordo com circunstâncias específicas.
Qual é a porcentagem de áreas irrigadas na agricultura em Israel?
Sessenta por cento.
O que é o mais recente em tecnologia de irrigação?
Todas as terras irrigadas em Israel são totalmente pressurizadas. Pomares de frutas e produtos hortícolas de estufa são irrigados com sistemas de gotejamento e/ou aspersores ou emissores, considerados métodos precisos de micro irrigação. Algumas das culturas de campo são irrigadas com máquinas móveis de irrigação.
Qual é o percentual do PIB agrícola no PIB do país?
Esses dados têm variado com alguma frequência. Atualmente oscila entre 1% e 1,5% do PIB nacional.
E no que se refere à pecuária bovina, Israel atingiu excelente nível de eficiência no gado leiteiro. Quais são os dados estatísticos sobre fazendas e criadores?
Há dois perfis de criadores. Um deles é formado por famílias de explorações leiteiras, cuja quantidade de cabeças varia entre 40 a 150 unidades. Aqui podemos dizer que a média é de em 80 rezes por criador. Existe também a fazenda de gado leiteiro de kibutz, com rebanhos maiores, entre 250 e1000 cabeças (média de 390 unidades). Mas, até o momento falamos somente de matrizes (vacas leiteiras). Em ambos os casos há animais adicionais (bezerros e novilhas). Existem 808 explorações leiteiras em Israel (628 são explorações agrícolas familiares e 166 unidades de kibutz de fazendas e 13 fazendas-escola agrícola). O valor global dos montantes de rebanho leiteiro (vacas leiteiras) de Israel é de 130 mil cabeças.
Qual é a produção de leite média e de consumo per capita?
A produção anual média de leite por ordenha de vaca equivale a 11.700 litros. Todas as vacas são ordenhadas modernas 3 vezes por dia, por meio de processo totalmente mecanizado. O consumo anual de leite (incluindo a conversão de produtos lácteos) per capita em Israel é de 180 litros.
De uma maneira geral, quais programas de cooperação israelense aplicados em outros países e que são os principais resultados?
O Governo Israelense, sob o Ministério dos Negócios Estrangeiros, está operando uma agência de cooperação internacional para o desenvolvimento. Esta agência atua principalmente em países em desenvolvimento, compartilhando a experiência de Israel em várias áreas (mas especialmente na agricultura) e o reforço da cooperação.
Sr. Boaz Albaranes, como o senhor define o atual relacionamento do Ministério da agricultura de Israel com o Ministério da agricultura do Brasil ou do governo brasileiro?
O relacionamento é ótimo. Os ministérios reconhecem que há muito espaço para a cooperação e que o foco deve ser em tornar esse potencial em realidade.
E sobre cooperação e negócios, quais são as potencialidades?*
As empresas israelenses alcançaram elevado nível de desenvolvimento tecnológico para aplicação nas diversas fases da produção agropecuária, porém, não dispõem nem de terra nem demanda suficiente para testar todo esse aparato em grande escala. O Brasil é gigante mundial do agronegócio e ainda deverá crescer nas próximas décadas e colaborar para atender à demanda da população mundial. Naturalmente, o conhecimento científico e os equipamentos serão fundamentais para aumentar a produtividade sem ampliar a utilização de terras e de recursos hídricos na mesma proporção. Então, no conjunto essa parceria tende a ser perfeita, pois os objetivos são complementares.