*Por Marcos Matos e Marjorie Miranda
O mundo em que vivemos não é mais o mesmo, pois as mulheres vêm ocupando posições transformadoras no nosso cotidiano, sobretudo mostrando o quão fundamentais são para o desenvolvimento da sociedade. As funções domésticas não são mais suas atribuições exclusivas e nem limitam o seu potencial, pelo contrário, o empoderamento da mulher trouxe perspectivas mais positivas na gestão e inovação de negócios.
Como contextualização, a questão da igualdade de gênero não se restringe ao Brasil e repercute igualmente em outros países. Tanto que mereceu destaque no alinhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODS), estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano 2000. O terceiro item pontua justamente a necessidade de promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.
Na agricultura mundial o cenário não é diferente. De acordo com a edição 2011 da publicação “O Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação”, elaborada pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), as mulheres representam 43% da força de trabalho rural em países em desenvolvimento. Ainda segundo a FAO, estima-se que, ao aumentar o acesso das mulheres aos recursos financeiros e tecnologias necessários, elas poderiam aumentar a produtividade de suas lavouras de 20 a 30%, o que reduziria o número de pessoas subnutridas em até 17%, ou seja, 150 milhões de pessoas.
Ainda segundo dados da FAO, as mulheres representam 12,7% dos proprietários de terra no Brasil, porém, tendem a receber menos por seus serviços: cerca de 30% a menos do que os homens. A diferença salarial aumenta na população mais instruída. Costumes e práticas culturais patriarcais que diminuem a importância social da mulher são os principais motivos para essa diferenciação.
Segundo uma pesquisa sobre mulheres na produção rural, encomendada pela ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), foram identificadas 1,3 mil mulheres responsáveis pela gestão ou produção agropecuária no país, sendo que 310 participaram do levantamento das informações. Mais abertas à inovação e ao conhecimento, 88% são independentes financeiramente e 60% têm ensino superior completo, muitas vezes participando das ações de entidades de representação do setor. O levantamento revela que 14% das entrevistadas são as principais provedoras das despesas da família, entretanto, indica também que 71% já tiveram alguma experiência em que o fato de ser mulher foi uma barreira para ser ouvida ou ascender profissionalmente.
O estudo aponta, ainda, que elas compensam a falta de conhecimento técnico sobre a produção agropecuária, pois tendem a ser mais conectadas e comunicativas entre si. As mulheres pesquisadas mostraram um perfil gregário, devido à troca de experiências e informações com vizinhos e consultores, com ênfase no tema sucessão rural e inclusão da família no negócio.
No café, a relação das mulheres com a commodity começou de forma tímida, com sua atuação na colheita e na secagem. Gradativamente adentraram no universo cafeeiro, aumentaram sua relação com a produção e hoje estão presentes na gestão e em todas as etapas do processo produtivo.
Atualmente, as mulheres do café são representadas pela IWCA (The International Women’s Coffee Alliance), instituição que almeja diminuir as barreiras que essas mulheres enfrentam para acessar os recursos, por meio da disseminação de conhecimento na produção, comercialização e apoio monetário.
Nesse sentido, o Cecafé vem disseminando o conhecimento desde 2006 para os produtores de diversas regiões do país, concedendo também a oportunidade de inclusão digital às mulheres e o seu acesso às boas práticas agrícolas, clima, preços e informações para a boa gestão de suas propriedades. Tal afirmativa se baseia nos cursos do Programa Produtor Informado, realizados em 2016 por meio da parceria entre o Cecafé e a Plataforma Global do Café, que demonstrou o percentual de 30% dos alunos inscritos como sendo mulheres.
Neste ano, com a iniciativa de revitalizar e integrar os Programas, foi criado o Polo Café Sustentável, com o objetivo de fortalecer ainda mais as ações de sustentabilidade na cafeicultura nacional, envolvendo também crianças, jovens, produtores rurais e as mulheres do café. O foco será as pessoas que interagem na comunidade cafeeira, sendo elas: crianças, por meio da educação e da inclusão digital; jovens, por meio da sucessão familiar e empreendedorismo; produtores, com ênfase nas boas práticas agrícolas e sustentabilidade na produção; mulheres, visando a igualdade de gênero com o empoderamento nas atividades agrícolas e de empreendedorismo.
Dessa forma, o comércio exportador vem se empenhando cada dia mais na busca pelo desenvolvimento social, ambiental e econômico justo, por meio da disseminação do conhecimento, garantindo ainda mais a competitividade, qualidade, sustentabilidade e liderança absoluta do Brasil no comércio mundial de café. Isso tudo, é claro, levando em consideração a igualdade de gênero e a importância da mulher brasileira para o desenvolvimento da agricultura.
* Marcos Matos é Diretor Geral do Cecafé e Marjorie Miranda é Coordenadora de Projetos de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé.
Sobre o Cecafé
Fundado em 1999, o Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil – representa e promove ativamente o desenvolvimento do setor exportador de café no âmbito nacional e internacional. A entidade oferece suporte às operações do segmento por meio do intercâmbio de inteligência de dados, ações estratégicas e jurídicas, além de projetos de cidadania e responsabilidade social. Atualmente, possui 139 associados, entre exportadores de café, produtores, associações e cooperativas no Brasil, correspondendo a 95% dos agentes desse mercado no país.
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