O melhor é prevenir

A manutenção correta de uma máquina conserva os custos operacionais dentro do padrão do fabricante, evita paradas inesperadas durante a safra, reduz gastos com a reparação corretiva e garante melhor valor de revenda

Há quem faça a manutenção na máquina somente depois que ela quebra. Esse costume custa caro. Segundo Paulo Acosta, gerente comercial da TVH-Dinamica, empresa atacadista no segmento de distribuição de peças de reposição, o valor da reparação corretiva (depois da quebra da peça) pode ser bem maior que o da preventiva. “Deixar de trocar as correias do motor pode ocasionar danos mais graves e exigir a troca de muitos componentes ou até a retífica do motor, gerando prejuízo altíssimo”, exemplifica ele.

Opinião semelhante tem Angelo Banchi, diretor da Assiste, especializada em sistemas de gerenciamento em manutenção de frotas: “A manutenção indevida ou incorreta com certeza implica em gastos excedentes”.

Mas a perda financeira ainda não é tudo. Prejuízo maior “é ficar com a máquina parada no momento do plantio ou da colheita”, complementa Acosta.

O gerente da TVH-Dinamica enumera três opções de manutenção (veja detalhes no quadro “Três Tipos”). Ele aconselha a realização de checagem diária de componentes do motor, como os filtros de ar, combustível e óleo, bombas hidráulicas e da cabine, além de correias, “levando em consideração as horas trabalhadas, tipo de solo e atividade realizada pelo equipamento”. E acrescenta que é importante contar com o auxílio de um especialista em manutenção para evitar quebras inesperadas, e que não se pode esquecer de seguir as recomendações contidas no manual do fabricante. “O ideal é fazer uma inspeção diária antes de ligar a máquina”, orienta.

No mais, fique atento aos sinais visuais e sonoros emitidos por defeitos ou insuficiência de alguns itens. “Existem instrumentos que ajudam a monitorar o funcionamento da máquina que podem ser acoplados aos tratores e máquinas agrícolas para ajudar nessa função, que permitem saber, de forma exata, o desempenho do equipamento, facilitando a criação de uma planilha de manutenção personalizada, com todo o histórico do equipamento”, diz Paulo Acosta.

É importante recuperar o bom estado de funcionamento o quanto antes. Afinal, mesmo sem quebrar a máquina pode estar gerando prejuízo. “Uma regulagem incorreta de motor ou da bomba injetora pode trazer um consumo excessivo de combustível, além da perda de potência”, lembra Angelo Banchi. Custos mais elevados também podem ser gerados por pneus com calibragem incorreta.

Entre os benefícios atribuídos à manutenção correta, Banchi e Paulo citam a redução de custos operacionais decorrentes de aumento no consumo de combustível, perda de potência e falhas operacionais, menor valor dos serviços necessários e maior valor de revenda das máquinas usadas.

Fique atento aos serviços realizados. Segundo Banchi, outros fatores de aumento de custos são diagnósticos e serviços incorretos, realizados por profissionais com formação inadequadas. “Infelizmente a qualificação da mão de obra dos operadores e mantenedores não sofreu a mesma evolução que a tecnologia dos equipamentos. Existem poucos especialistas em frotas com tecnologia embarcada e para componentes eletrônicos mais sofisticados. Acreditamos que esse fato implique em aumento adicional de gastos”, alerta ele.

Três tipos – Existem três tipos de manutenção: preventiva, preditiva e corretiva. Na primeira, a peça é trocada dentro do prazo de vida útil informada pelo fabricante.

Na preditiva, a substituição é feita antes do recomendado, desde que um profissional especializado conclua que a peça está desgastada ou inoperante. Exemplo: um filtro de óleo pode ter recomendação de troca a cada 20 mil km, porém, se o veículo opera em estradas de terra provavelmente terá4 essa quilometragem reduzida.

A manutenção corretiva é realizada após o sistema ou a peça quebrar, ou depois de vencido o prazo de vida útil.

Paulo Acosta acrescenta informações e comenta as três opções.

Para ele, a preventiva contribui para prolongar a vida útil dos componentes do equipamento e garantir que o mesmo permaneça em boas condições de uso. Para isso, devem-se seguir as recomendações do manual do fabricante do equipamento e é necessário que o produtor treine o operador para fazer as checagens diárias de componentes importantes do motor, ter um plano de manutenção da frota e contar com especialista para executar os serviços de revisões. Assim, além de o equipamento estar em bom funcionamento, também terá maior valor na hora da revenda, quando o proprietário pode apresentar todo o histórico de manutenção da máquina.

Manutenção preditiva é uma forma planejada de cuidar das máquinas por meio de avaliação do histórico e que prevê as condições de uso. São relatórios que avaliam as horas trabalhadas e a forma como a máquina é operada, considerando vários aspectos, como tipo de solo e clima da região, entre outros. Por isso, as peças são trocadas com base nesse estudo e não no manual do fabricante. É uma forma mais apurada e personalizada de cuidar da máquina, para que esta tenha vida longa sem apresentar problemas.

A manutenção corretiva prejudica a produtividade no campo, pois a máquina fica parada, sem falar do prejuízo da reparação, que aumenta, pois o mau funcionamento de um componente, quando não detectado, acaba por danificar outras peças.

Ângelo Banchi fala de uma subdivisão da manutenção, denominada por ele de primária. “Consiste em monitorar o abastecimento de combustível, lavagem e verificações gerais; calibragem dos pneus e as regulagens nos implementos”, fala o consultor. “Esse conjunto de atividades deve ser realizado a cada 10 horas de trabalho ou, quando não se atinge essa quantidade, deve ser realizado diariamente.”

O operador da máquina pode evitar quebras e panes com a checagem de alguns itens

A inspeção não é atividade somente para os mecânicos, diz Paulo Acosta, da TVH Dinâmica. O operador da máquina pode verificar as condições dos filtros de ar, combustível, óleo do motor, bombas hidráulicas e da cabine, se houver. Limpar a máscara dianteira (tela do radiador) para averiguar se há poeira e impurezas. Verificar diariamente o nível do óleo do motor e do sistema de arrefecimento pela manhã antes de ligar o trator.

Os pneus devem estar calibrados e em boas condições de uso para garantir o bom desempenho e evitar desgastes prematuros e economia de combustível.

 Formato atual e opções de controle do cronograma da manutenção

É comum para o pequeno produtor utilizar-se de controles manuais para apontar ou programar algumas atividades em seus Cadernos de Controle. Esse processo é denominado caderneta de apontamento. Alguns fabricantes até incentivam essa atitude por meio de seus Manuais Operacionais.

Outros, em estágios mais avançados, utilizam-se de formulários pré-impressos que são denominados de Monitoramento da Manutenção. Empresas de melhor nível tecnológico empregam esses sistemas computacionais, que podem até ter captação de dados semiautomatizados, facilitando e muito a captação dos dados referentes às tarefas operacionais, abastecimento de combustível, troca de óleos, de filtros e outras informações.

Entre os sistemas informatizados existem os de desenvolvimento interno da empresa como também os adquiridos no mercado. “Atualmente existe uma grande quantidade de bons sistemas, desenvolvidos em diversos níveis e a preços bem menores que muitos desenvolvimentos próprios”, informa Ângelo Banchi.

Planilhas eletrônicas são alternativas temporárias, que funcionam até atingir tamanhos não mais suportáveis pelo hardware, ou complexidades difíceis de serem definidas nessa ferramenta e ainda, de modo geral, limitam-se, na maioria das vezes, por serem monousuárias.

 Quando a manutenção se torna muita cara e constante é melhor substituir a máquina velha

A vida útil eficiente de uma máquina pode variar de 4 a 12 anos, dependendo do nível da manutenção, da qualidade da operação, da intensidade do uso (horas de trabalho por ano) e do tipo do equipamento (classe operacional). Mas, se ela começa a apresentar constantes problemas técnicos, vale a pena fazer cálculos para saber se a substituição por uma nova é melhor financeiramente.

“Modelos matemáticos, traduzidos em sistemas, permitem a correta determinação técnica, dentro de critérios econômicos e patrimoniais de cada empresa”, explica Angelo Banchi, da Assiste.